Adventista, pré-candidato a prefeito de Manaus diz que dispensa apoio da ‘esquerda’

O candidato a prefeito de Manaus, David Almeida, fez uma visita à sede da REVISTA CENARIUM e concedeu entrevista (Ricardo Oliveira/Revista Cenarium)

10 de agosto de 2020

03:08

Paula Litaiff – Da Revista Cenarium*

Aos 51 anos de idade e três mandatos na Assembleia Legislativa (ALE-AM), o pré-candidato a prefeito de Manaus (AM), David Antônio Abisai Pereira de Almeida, teve a primeira experiência como chefe do Executivo no governo do Amazonas, quando assumiu interinamente a função após a cassação de José Melo (Pros) em 2017.

Natural da capital amazonense, formou-se no curso de Direito, mas o “sonho” de infância era ser “pastor de igreja” sob a influência de pais religiosos. Com 15 anos atuando na política partidária e depois de ter passado por partidos de origem socialista, David Almeida – hoje, no Avante, da base do presidente Jair Bolsonaro – decidiu que não fará alianças com partidos de “esquerda” nessas eleições.

Em entrevista à REVISTA CENARIUM, ele disse acreditar ser a “criptonita” (lendário mineral que enfraquece oponentes) de três políticos do Amazonas, saiba quem são na entrevista completa abaixo:

REVISTA CENARIUM – O senhor passou por várias transformações, principalmente, com a morte da sua mulher, Lúcia Almeida, aos 40 anos, e anterior a essa perda, teve a experiência de ficar no cargo público mais alto do estado. O que mudou em David Almeida nos últimos três anos?

DAVID ALMEIDA Estou mais maduro e mais consciente da minha responsabilidade como homem público. Ao lado da Lúcia, travamos uma batalha contra um câncer no fígado por três anos e o sofrimento trouxe muitos aprendizados. Compreendi que os propósitos de Deus muitas vezes podem ser uma tarefa bem difícil, principalmente, quando a tristeza bate na nossa porta… Na passagem rápida pelo governo do Amazonas (David ficou na função de governador por um pouco mais de quatro meses), percebi que o Poder Público precisa, urgentemente, implementar as ações de governança e, também, junto à iniciativa privada no que se refere à liderança e à eficiência para tornar a gestão pública mais eficaz.

Em solidariedade à esposa com câncer, Almeida decidiu raspar a cabeça em 2019 (Reprodução/Facebook)

CENARIUM – A perda da sua mulher para o câncer e a necessidade de deixar o Amazonas para fazer tratamento em outro estado, fez o senhor refletir sobre a situação da saúde pública?

D. A.  – A saúde tem que ser cuidada da melhor maneira possível. O estado ele não gera riqueza, ele distribui riqueza e essa distribuição que é mal feita. E a prioridade que tem que ser dada à saúde, tem que estar em primeiro plano, porque aquilo que nós recebemos de Deus gratuitamente, que é o ar, é o que as pessoas estavam brigando para ter durante o ápice da pandemia do novo coronavírus no Amazonas, que são os respiradores.

CENARIUM – A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Saúde na Assembleia Legislativa do Amazonas (ALE/AM) apontou irregularidades na Secretaria de Estado de Saúde (Susam), durante a sua administração em 2017. O senhor teve acesso a essas denúncias?

D. A. – Todas as denúncias feitas ao Ministério Público por meus opositores contra a minha administração no governo do Estado foram arquivadas por falta de provas. Protocolizei um requerimento para depor na CPI da Saúde, mas o meu pedido foi indeferido. Estou à disposição dos membros da CPI para falar e mostrar documentos.

CENARIUM – O senhor foi candidato a governador do Amazonas há dois anos e ficou em terceiro lugar. O que o levou a tentar novamente o comando do Executivo?

D. A.  – Decidi disputar a prefeitura, porque quero pedir uma oportunidade a população de Manaus para poder fazer em quatro anos, muito mais do que eu fiz em quatro meses no governo. Em quatro meses, eu implementei uma administração eficaz, eficiente, exitosa em vários ângulos: na saúde, segurança, educação, infraestrutura, na economia. Fui o primeiro governador e o único na história a diminuir impostos, a abrir mão de impostos. Se você fizer as escolhas certas e as prioridades corretas, o povo vai sofrer menos, o povo vai ser melhor assistido. Essa é a realidade.

Dificuldades ao lembrar da luta travada pela esposa marcou a entrevista de David Almeida
(Ricardo Oliveira/Revista Cenarium)

CENARIUM – Além da tragédia familiar ocorrida no final do ano passado, o senhor, assim como todos, está enfrentando uma pandemia que colapsou a saúde pública do Amazonas e de sistemas de todo o mundo. Como o senhor avalia, atualmente, o cenário regional da administração pública?  

D.A. –  Eu vejo um cenário de uma tragédia em relação ao que se foi criado, do chamado “novo”. Os mesmos gestores que já tiveram a oportunidade de resolver os problemas do nosso estado, da nossa cidade, hoje, se apresentam como salvadores da pátria. Eu não os vejo dessa forma, até porque quem criou o problema não será capaz de resolvê-lo. E é nesse cenário em que eu me apresento. Irei enfrentar, irei combater todos aqueles que já estiveram à frente do governo, da prefeitura e mostrar à população que é possível se ter políticas públicas mais eficientes, eficazes e exitosas.

CENARIUM – Nessa explicação, o senhor se refere ao governador do Amazonas, Wilson Lima (PSC), e ao ex-governador Amazonino Mendes (Podemos) que concorreram com o senhor no pleito eleioral de 2018? O que pode ter impedido sua eleição?

D.A. – Naquela época (eleições de 2018), gerou-se na população uma expectativa de mudança, de uma renovação que se denominou de “novo”. Aqui no Amazonas, o novo não emplacou. Porém, eu vejo também que o povo já não aceita a velha política, os velhos gestores, os velhos administradores.

CENARIUM – O senhor faz parte da corrente do “novo” ou do “velho” na política?

D.A. – Eu faço parte daqueles que estão politicamente amadurecidos. Eu me coloco exatamente assim: que eu não sou novo e nem sou velho. Sou alguém que tem preparo, considero-me com habilidade suficiente para poder enfrentar desafios de uma cidade de mais de 2 milhões de habitantes, que é Manaus.

Nem novo nem velho, diz David Almeida ao definir seu perfil político
(Ricardo Oliveira/Revista Cenarium)

CENARIUM – A sua formação acadêmica é em Direito, mas dedicou-se à política partidária que lhe alçou ao Parlamento. Qual era seu sonho de profissão na infância?

D.A. – Eu sempre quis ser pastor de igreja. Minha família é cristã: minha mãe é adventista e meu pai é católico. Como todos sabem, eu sou adventista. Mas nessa questão da profissão, Deus me deu um maior ministério, que é cuidar do Amazonas, poder cuidar da minha cidade, na função de deputado e de cidadão.

CENARIUM – Os adventistas não trabalham no sábado. Quando era deputado e governador interino, conseguiu se manter fiel a esse preceito?

D.A. – Os princípios são inegociáveis. Com o princípio ninguém negocia. E como eu acordava 4h30, trabalhava 12 horas por dia, é óbvio que eu não iria abrir mão daquilo que é princípio desde que eu nasci, das minhas atividades religiosas. Por isso, nunca marquei reunião no sábado, e sempre fui respeitado. As pessoas sabem do meu modo de viver, conhecem meus princípios e já evitam fazer esse tipo de convite.

CENARIUM – O senhor critica muito os velhos “caciques” da política amazonense. O ex-governador Amazonino Mendes não fez nada de aproveitável em 40 anos de vida pública no estado?

D.A. – O que tem de positivo tem que ser destacado, tem que ser reconhecido, porém já tiveram oportunidade, várias oportunidades. O que um governante precisa para mudar sua cidade, seu estado, são três coisas: tempo, dinheiro e apoio político. E eles já tiveram todo tempo, todo dinheiro, todo apoio político necessário para resolver os problemas da nossa cidade, do nosso Estado e não o fizeram. É preciso dar oportunidade para quem pode fazer, e eu me coloco nessa posição de quem pode fazer.

“Estou mais maduro e preparado para administrar Manaus” – David Almeida
(Ricardo Oliveira/Revista Cenarium)

CENARIUM – Como o senhor conceitua os senadores do Amazonas Eduardo Braga (MDB) e Omar Aziz (PSD)? O último, inclusive, foi seu líder partidário.

D.A. – Eduardo já foi duas vezes governador, uma vez prefeito. Já teve sua oportunidade e pode ajudar o Amazonas, mas lá no Congresso. O mesmo pensamento, eu nutro sobre o Omar. É alguém que já teve a sua oportunidade e que agora pode ajudar Manaus e Amazonas lá em Brasília, não mais como governador ou prefeito.

CENARIUM – O senhor tem uma avaliação da gestão do prefeito de Manaus, Arthur Virgílio Neto (PSDB)?

D.A. – O Arthur foi avaliado duas vezes pela população. Ele foi eleito e reeleito, então, a população o aprovou. Essa é a realidade. Sobre a gestão, há acertos como pode haver erros. Atualmente, acredito que o principal desafio do próximo prefeito é a mobilidade urbana e o transporte coletivo. Nisso aí, a prefeitura pode ter parado. O próximo prefeito, também, terá que se preparar para as dívidas contraídas pela Prefeitura de Manaus, não só na gestão de Arthur, mas das administrações anteriores, porque outro grande desafio é arrecadação menor. Por isso, a prefeitura não pode cair nas mãos de um aventureiro.

 
CENARIUM – Excluindo os adversários postos à disputa pela Prefeitura de Manaus, quais políticos o senhor não faria aliança de forma alguma?

D.A. – Com que tem ou teve a oportunidade de governar o Amazonas, como Wilson Lima (atual governador do Estado), Omar Aziz e Eduardo Braga. Eu sou a criptonita deles (criptonita ou kryptonita é um mineral citado nas histórias relacionadas ao Superman que tem um efeito de enfraquecimento das forças físicas e faculdades mentais).

CENARIUM – O senhor tem resistência a alguma corrente política ideológica a ponto de negar apoio a sua candidatura a prefeito?

D.A. – Sim, tenho. Não negocio acordo com os partidos de esquerda.

CENARIUM – Essa rejeição à ideologia de esquerda tem a ver com a demonização da corrente criada pelos evangélicos cristãos ou é a mais uma decisão política?  

D.A. – É uma decisão política, porque minha ideologia é centro-direita.

A ideologia partidária de esquerda é a única vertente que David diz não querer se aliançar
(Ricardo Oliveira/Revista Cenarium)

CENARIUM – Na última eleição que o senhor disputou ao governo do Amazonas, seu primeiro vice na chapa era filiado ao Partido dos Trabalhadores (PT), uma legenda de esquerda, mas uma decisão judicial o retirou da chapa. O que mudou de 2018 a 2020?  

D.A. – Naquela época, eu não escolhi o vice (Jorge Guimarães) pela ideologia partidária, mas pelo que ele era. Infelizmente, não houve um consenso dentro do PT e minha chapa foi implodida. Também, por esse motivo, prefiro evitá-los.

CENARIUM – O seu atual partido, o Avante, entrou em alinhamento no Congresso com o presidente da República, Jair Bolsonaro. O senhor, também, está entre os pré-candidatos a prefeito de Manaus de direita que sonha com o apoio dele?  

D.A. – Muitos pré-candidatos de direita falam que têm o apoio do presidente Bolsonaro, mas só o tempo dirá quem tem realmente. As informações que eu possuo é que ele (Jair Bolsonaro) influencia positivamente em pelo menos 52% dos eleitores de Manaus. Logo, o apoio dele é muito importante.

CENARIUM – A quase um mês do fim do prazo para as convenções partidárias que é dia 16 de setembro, o senhor tem algum apoio pré-definido?  

D.A. – O Avante tem conversas avançadas com o Partido Republicano de Ordem Social (Pros), Partido da Mulher Brasileira (PMB) e Partido Trabalhista Cristão (PTC), além de mais três partidos que ainda não posso citá-los, mas serão 248 candidaturas a vereador em Manaus que darão sustentação a nossa candidatura majoritária.  

CENARIUM – A união a esses partidos se deu mais pela vertente ideológica ou pela viabilidade eleitoral de tempo de TV, rádio e recursos de Fundo Partidário?  

D.A. – Esses apoios se deram mais pela confiança que eu construí com os presidentes nacionais dos partidos e pela afinidade política. Agora, estamos buscando ampliar esse arco de alianças.

(*) Colaborou o jornalista Bruno Pacheco