Agenor Tupinambá posa com adornos indígenas e internautas falam em ‘apropriação cultural’

Sessão de fotos publicada no perfil deo influencer Agenor Tupinambá (Luca Leite/Reprodução)

25 de junho de 2023

15:06

Ívina Garcia – Da Agência Amazônia

MANAUS – O influencer amazonense Agenor Tupinambá, que esteve no centro do debate com a polêmica da capivara Filó e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), voltou a ser criticado após publicar uma sessão de fotos onde aparece utilizando adornos de indígenas Mura e grafismos.

Os mais de mil comentários da publicação na rede social Instagram se dividem entre pessoas que acusam Agenor de “apropriação cultural” e outros elogiando a postura de se tornar um defensor da floresta. “Aldeia capivara? Protetor da floresta? Você é descendente de latifundiários e ainda cria búfalos, cria vergonha nessa tua cara harmonizada“, escreveu um internauta. “Sem noção esse cara, ‘tô’ chocada com tamanha cara de pau“, pontuou outro.

Sessão de fotos publicada no perfil do influencer Agenor Tupinambá (Luca Leite/Reprodução)

Na época da polêmica envolvendo Agenor e Filó, pessoas resgataram o histórico de conflito de familiares do jovem com indígenas da região. “Quem poderia imaginar que o avô do ‘pobre ribeirinho’ é réu em conflitos com os indígenas Mura, incluindo invasão de terras, agressão à liderança indígena e desmatamento. Aliás, a fazenda do neto que vocês acreditam ser uma comunidade ribeirinha é em área desmatada“, pontuou Karibuxi, em uma série de tweets.

Por outro lado, algumas pessoas usaram a sessão de comentários para defender a publicação de Agenor. “A mãe dele é indígena. Povo sem noção, que não sabe de nada e vem aqui falar asneira sem conhecer a sua cultura da família dele. Me poupe da ignorância de alguns aqui“, escreveu. “Pois honre mesmo a floresta e seus ancestrais, pois são eles que te sustentam diante tanta força contrária“, ressaltou outro.

A reportagem buscou contato com o influencer por meio da assessoria, mas não obteve resposta até o fechamento da matéria.

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Apropriação cultural

O debate sobre apropriação cultural perdura na sociedade há tempos, principalmente quando se fala de cultura afrodescendente e símbolos dessa luta. No caso dos indígenas, a doutora em antropologia pela Universidade de Brasília (UnB) e ativista indígena Raquel Tupinambá afirma que o debate é complexo, já que a ascendência indígena entre os brasileiros é comum.

Falar disso é falar um pouco sobre o processo de colonização do Brasil, por exemplo, quando dizemos que Brasil é terra indígena e que a mãe do Brasil é indígena. Isso porque em várias regiões do País as mulheres foram capturadas e estupradas por homens brancos, que geraram famílias miscigenadas“, lembra.

É uma situação complexa e delicada, não dá para dizer que a pessoa não é indígena. A pessoa pode não ter relação com a cultura ou proximidade com a educação ou vivência indígena, ela não teve esse contato com esse mundo, mas não podemos afirmar que a pessoa não é indígena ou não tem raízes indígenas“, disse Raquel.

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Um exemplo disso é a cantora Anitta, que usou um figurino inspirado na entidade Cabocla Jurema durante o Carnaval de Olinda deste ano. O look foi confeccionado por artesãs da aldeia Ypaw Myz’ym, na Terra Indígena Arariboia, no Maranhão, como uma forma de valorizar a cultura e fortalecer as artistas indígenas, conforme admirou, à época, a ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara.

Roupa de Anitta foi confeccionada por indígenas da aldeia Lagoa Quieta, no Maranhão (Reprodução/Instagram)

Sobre a utilização de adornos e grafismos indígenas, Raquel ressalta que a mera utilização deles não configura como apropriação cultura, mas, sim, como ampliação de vozes. “Claro que uma pessoa branca sem qualquer relação com os povos indígenas, que não se utiliza da cultura, não deve se promover com isso. Mas existe, por exemplo, a questão do fortalecimento da cultura, como a cantora Anitta que teve uma roupa feita por mulheres Guajajara especialmente para um evento, levando o trabalho dessas mulheres para os holofotes“, avalia.