‘Alta de juros e custos devem elevar preços de imóveis no AM’, afirmam especialistas

O aumento do dólar afetou o preço dos insumos da construção civil. (Reprodução/ Internet)

09 de abril de 2021

20:04

Jennifer Silva

MANAUS – O mercado imobiliário será impactado diretamente com o aumento da taxa média de juros do setor econômico. A pandemia do novo coronavírus trouxe o aumento do dólar, que resultou de modo direto no preço dos insumos da construção civil. De acordo com especialistas ouvidos pela Cenarium ao longo desta semana, a expectativa é que os primeiros meses sejam de baixa para o setor, mas há uma possibilidade de avanço para o fechamento de 2021.

“Os lançamentos estão estancados por conta desse aumento de material e expectativa de inflação, que não se sabe muito bem aonde vai chegar. Eu tenho a impressão que a partir do segundo semestre isso se estabilize e a gente volta a retomar o mercado da forma que está. Já o estoque, indicador muito importante, mostra a diferença entre o que você tem para vender e o que você está vendendo. Então os imóveis que estão no mercado, resultados de lançamento, e resultados de lançamentos passados. A gente sempre tinha uma certa preocupação com os produtos mais antigos, que são imóveis de padrão mais alto com demora de venda, mas até o ano passado as vendas foram tranquilas”, afirma Albano Máximo, presidente da Associação das Empresas do Mercado Imobiliário no Estado do Amazonas (Ademi-AM).

Albano Maximo, presidente da Associação das Empresas do Mercado Imobiliário do Amazonas (Ademi-AM), biênio 2021-2023
(Reprodução/ Ademi-AM)

A expectativa é de aumento de até 6% nos preços dos imóveis este ano, segundo projeção da FipeZap. É uma alta mais forte do que a expectativa de inflação para este ano, de 4,81%, segundo o boletim Focus. No ano passado, os preços de vendas de casas no país subiram 3,7%. Com o preço do dólar elevado, o custo de matérias-primas fica elevado em mais de 70%. No último ano, o aumento médio foi de 15% a 20%. Pesquisas apontam que os itens como cobre subiu mais de 200% no período, aço (com alta de 70%) e cimento (45%), entre outros.

“O aumento das matérias-primas preocupa, pois vai ser repassado ao consumidor, isso é inevitável. Os insumos subiram, algumas coisas devem retroceder. A pandemia trouxe incerteza, elevou a cotação do dólar e interrompeu o ciclo de produção, o que impacta os custos do setor. A expectativa é de aumento nos preços, o que pode frear as vendas. Foi gerada essa crise, porque as usinas esperavam que a economia praticamente parasse, diminuiu sua produção, isso aconteceu com o cimento, o ferro, vários insumos. Então, na retomada esse material faltou e o preço acabou subindo”, explicou Albano.

A economista Denise Kassama avalia que os financiamentos devem ficar mais caros com o avanço da Selic a médio e longo prazos. O Banco Central elevou a taxa de 2% para 2,75% ao ano e indicou novo aumento de igual magnitude (0,75 ponto percentual) em maio. “O aumento da taxa selic em 0,75% anunciada pelo Banco Central, a princípio impacta nas ações a longo prazo. A curto prazo a gente vai sentir muito pouco essa diferença, mas em tudo que nós financiarmos a longo prazo esse impacto com certeza vai ser bem sentido. É o caso por exemplo do financiamento de carros, da casa própria, então qualquer financiamento a longo prazo vai seguir esse aumento e vai tornar o preço do bem, bem mais caro, dependendo do tempo que você tiver financiando”, esclarece.

Para os especialistas, os juros altos tendem a reduzir a demanda por financiamento ao longo do ano e encerrar o ciclo de recordes. Em janeiro e fevereiro, houve alta de 77% na compra de imóveis financiados na comparação com o primeiro bimestre do ano passado, para 74,3 mil imóveis, segundo dados da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip).

Projeção 2021

O presidente da Ademi-AM, Albano Maximo, conta que as projeções para 2021 até o final do ano são boas, porém, levando em conta a pandemia do corona vírus, o primeiro semestre do ano será fraco. “O primeiro semestre deste ano, com certeza vai ser um semestre fraco. Os indicativos que a gente tem dos primeiros meses do ano é que eles têm sido muito abaixo daquilo que a gente vinha conseguindo nos anos anteriores. O que se espera é que a partir de julho, com essa campanha de vacinação, a gente tenha uma retomada gradual do mercado”, garantiu.

Os desafios para 2021, explica Albano, não dependem muito do setor. “Porém, o setor é sempre um dos que puxam a economia, mas é o setor que sempre tem muito otimismo. Em uma recente pesquisa efetuada pela Abrainc, com os principais players do mercado, eles mostram que a tendência é de otimismo para o ano de 2021, então o setor vai continuar trabalhando, aguardando a conjuntura se estabilizar e eu acho que vamos fechar o ano bom”, completou.

O engenheiro civil Marco Antônio, dono da MRG Engenharia e Arquitetura, conta à Cenarium que apesar de ser um ano atípico, 2020 foi um ano onde muitas pessoas entenderam a necessidade de fazer intervenções em suas moradias, causando uma alta procura por serviços de projetos, reformas e construções, trazendo a maior demanda, o que gerou grande lucro para sua empresa.

Engenheiro Civil Marco Antônio Almeida, dono da MRG Engenharia e Arquitetura (Reprodução/ Arquivo pessoal)

“Até então o desafio foi conseguir acompanhar a alta desenfreada nos preço dos materiais, fazendo os levantamentos de custo de uma construção ficarem mais difíceis por conta da instabilidade dos preços, porém se adequando a isso rapidamente conseguimos acompanhar o crescimento da demanda e transformamos o ano atípico de 2020 no ano de maior faturamento da empresa. As metas para 2021 são ainda maiores, apesar de Manaus ter sofrido com a segunda onda da Covid-19 e lockdown extenso, já atingimos 20% da meta estimada para o ano já no mês de março, que é o equivalente a 80% de todo o faturamento do ano de 2021”, contou entusiasmado o engenheiro civil.

Com pandemia e home office, as pessoas passaram a dar mais valor para suas casas. Isso impulsionou o mercado.