Alta no preço da carne obriga famílias a consumirem mais legumes e ovos

A Conab afirmou que o consumo de carne no Brasil será o menor em 25 anos (Marcelo Casal Jr./Agência Brasil)

02 de setembro de 2021

17:09

Wesley Diego – da Cenarium

SÃO PAULO – A queda na renda dos brasileiros, a disparada do preço nos açougues e o grande volume de exportação de carne fez desaparecer o bife do prato da população. De acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o consumo de carnes bovina, suína e de frango no Brasil será o menor dos últimos 25 anos. A compra total pelos brasileiros de proteína animal vem diminuindo desde 2014 e teve uma queda acentuada durante a pandemia.

O consumo por pessoa caiu em média 4% nos primeiros quatro meses de 2021 em relação a 2020. Ainda segundo a Conab, todos os tipos de carne tiveram alta nos últimos 12 meses. Dados de julho de 2021 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) indicam que a carne bovina teve acréscimo acumulado de 34,08%; cortes suínos subiram 25,08%; frango em pedaços encareceu 21,89%. 

A queda na renda, somada à alta nos supermercados, fez os brasileiros substituírem a carne. “Com essa crise toda, carne aqui é difícil”, diz Fabiana Dourado, moradora de Birigui, no interior de SP, que reside com três filhos e cinco netos. “Depois que entrou esta pandemia, teve muito aumento. Carne é bem raro comer aqui em casa e optamos em comer legumes e ovos. Mas também já estão aumentando”, comenta a faxineira.

Fabiana Dourado mostra sua geladeira: legumes e ovos substituem as carnes (Reprodução/Arquivo Pessoal)

Ovo é a nova carne

E Fabiana está certa, o ovo subiu cerca de 12% nos últimos 12 meses em SP. O consumo de ovos, que o Brasil quase não exporta, chegou ao maior nível em 20 anos.

O Instituto de Economia Agrícola de São Paulo (IEA) exemplifica a alta dos preços. No Estado, o valor do músculo bovino (moído) em julho de 2020 era de R$ 25,65 o quilo. Um ano depois, o consumidor pagou R$ 36,93 por quilo, alta de 44%.

Geladeira com ovos de Fabiane (Reprodução/Arquivo Pessoal)

Insegurança alimentar

O risco de desnutrição ronda o País considerado o celeiro do mundo. Um relatório da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) mostra que quase dobrou o número de brasileiros com fome de 2018 a 2020: 7,5 milhões de pessoas no Brasil vivem em insegurança alimentar leve.

Considerando a prevalência de insegurança alimentar moderada ou grave, o número saltou para 46,6 milhões de brasileiros. Apesar da manutenção do Auxílio Emergencial às famílias, o acesso aos itens de básico de alimentação devido ao avanço da inflação que chegou a 31,12% em agosto. 

Enquanto a fome, que foi extinta no Brasil em 2013, volta com força, as prioridades do governo federal parecem outras. Na sexta-feira, 27, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) disse a apoiadores que escolhessem entre comprar fuzil ou feijão.

“Tem que todo mundo comprar fuzil, pô. Povo armado jamais será escravizado. Eu sei que custa caro. Aí tem um idiota: ‘Ah, tem que comprar é feijão’. Cara, se você não quer comprar fuzil, não enche o saco de quem quer comprar”, disse o presidente Jair Bolsonaro semana passada a apoiadores.

Veja o vídeo:

Jair Bolsonaro conversa com apoiadores (Reprodução/Facebook)