Amazonense Gabriel Mota ganha bolsa para participar de Conferência Internacional da Aids, no Canadá

19 de maio de 2022

11:05

Diovana Rodrigues – Da Revista Cenarium

MANAUS — O amazonense Gabriel Mota, membro da International Aids Society (IAS), associação mundial de pesquisadores, cientistas e ativistas do campo do Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV), com ações urgentes para reduzir o seu impacto, ganhou uma bolsa para participar de atividade global durante a 24ª Conferência Internacional da Aids, em Montreal, no Canadá. “Ganhar essa bolsa representa colocar o Amazonas em evidência no cenário internacional da resposta ao HIV/Aids”, diz.

Gabriel Mota fala sobre a importância da discussão do HIV para o avanço do tratamento e da prevenção da doença.
(Paulo Neves/ Estúdio Fábrica de Imagens)

O “Aids 2022” será realizado de 29 de julho a 2 de agosto, com reuniões de pré-conferência começando em 26 de julho, contando com painéis, workshops, mesas de debate e outras metodologias. “Pela primeira vez, a maior conferência do mundo sobre HIV e Aids será realizada pessoalmente em Montreal, Canadá, bem como virtualmente, para torná-lo acessível ao maior número de pessoas possível”, diz o site do evento.

Devido a sua atuação como educador comunitário no projeto Implementação da Profilaxia Pré-Exposição (ImPrEP), que aconteceu em diversas cidades brasileiras entre 2018 e 2021, foi possível o acompanhamento de chamadas com bolsas para participar do evento, por meio de uma atividade cultural dentro do espaço da “Vila Global e Juventude”, o espaço onde jovens lideranças propõem atividades que realizam em suas localidades em relação à redução desses impactos do HIV e Aids.

“É nessa conferência que grandes novidades são apresentadas e há espaço para construir um network entre pessoas de vários cantos do mundo. Para participar, você precisa se registrar e as taxas variam, começando a partir de aproximadamente 100 dólares, dependendo do seu país de origem. E podem participar todos profissionais envolvidos em pesquisa do HIV, em vários segmentos. Eu estarei participando como Educador Comunitário”, esclarece. A Educação Comunitária é um campo de atuação que busca aproximar iniciativas voltadas à prevenção e à resposta ao HIV/AIDS, por meio de ações dentro das populações-chaves, por meio de debates, rodas de conversas, oficinas, palestras e multiplicação do conhecimento.

“Em 2021, fizemos um documentário em Manaus falando sobre a PrEP, parte de um projeto do Instituto de Pesquisa Clínica Carlos Borborema, dentro da Fundação de Medicina Tropical (FMT) e financiando pela Opas. Propus uma atividade de debate a partir desse documentário, indicando a importância de levar a experiência amazônica para uma conferência internacional. Submeti o projeto, consegui carta de recomendação dos meus superiores e então chegou a resposta que eu havia sido contemplado com uma bolsa completa, que abrange passagem, hospedagem, ajuda de custo e alimentação”, fala o educador.

Todas as inscrições devem ser submetidas por meio do formulário de inscrição online, sendo que, em grupo, é aplicável para cinco ou mais pessoas. Além de que o registro de mídia ocorre de forma gratuita para profissionais qualificados, como jornalistas, fotógrafos, cinegrafistas e educadores comunitários.

“Mesmo com todo o retrocesso na política pública de Aids no Brasil, nossa cidade segue ampliando a oferta de meios de prevenção, mas ainda encontramos muitos entraves sociais nesse processo. Aí ganhar essa bolsa, me senti valorizado e com o trabalho que realizo nesse campo reconhecido por uma entidade internacional. Eu levo minha cidade, meu Estado, para todos os lugares, e é preciso que a Amazônia esteja em evidência na resposta que precisamos dar a essa outra pandemia que divide espaço junto com o Covid-19, que é a Aids” revela.

“O mundo avança rumo a medicações mais eficazes, injeções para tratar a infecção do vírus, redução da vulnerabilidade de populações chaves, e aqui no Brasil ainda esbarramos em profissionais da saúde que desconhecem metodologias de prevenção mais avançadas, como a prevenção combinada; insistem no discurso do preservativo como exclusiva forma de prevenção, tirando do usuário a possibilidade de usar diferentes métodos; leitos de hospitais em pessoas, já chegando em quadro de Aids… E isso tudo é um reflexo não apenas da saúde, mas também educativo. (…) Sem conhecimento, as pessoas reproduzem preconceito e desinformação, e levam assim aqueles que precisam chegar até o serviço de realizar testagem ou tratamento”, provoca sobre a prevenção e tratamento da doença no Brasil.

Em relação ao quadro de HIV no Amazonas, Gabriel alerta sobre o alto número de casos no ano de 2021, quando foram registrados cerca de 855 casos, um aumento de 26,29% se comparado ao ano de 2020, quando foram registrados 677, segundo a Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas (FVS-RCP/AM). “Isso é grave, porque o HIV descoberto e tratado de maneira precoce pode ser controlado a ponto de não ser mais transmissível. A ciência afirma isso. Mas essa informação não chega onde tem que chegar. Essa é a importância de discutir a Aids: respeitar e garantir o direito das pessoas à vida”, alerta.

Quadro sobre ocorrências do HIV no Amazonas. (Fonte: Boletim Epidemiológico de 2021).

Sobre a Aids 2022

A conferência tem como principal objetivo: “convocar o mundo a se unir para se reengajar e seguir a ciência. Ele definirá futuras agendas de pesquisa, transformará as evidências mais recentes em ação e traçará um novo consenso sobre a superação da epidemia de HIV como uma ameaça à saúde pública e ao bem-estar individual”, segundo a organização.

Com palestras como “A visão da bancada: avanços na pesquisa básica e translacional em HIV“, com o moderador Alberto Bosque, The George Washington University, Estados Unidos (EUA) e “Saúde mental e HIV: a dimensão emergente e crítica no combate ao HIV“, da Unidos pela Saúde Mental Global, The Lancet, STOPAIDS, Elton John AIDS Foundation.

Com a exposição de aproximadamente 300 pôsteres e uma ampla variedade de tópicos, será realizada de forma presencial no Palais des congrès, de Montréal. Cada apresentação será exibida por um dia e os expositores posicionaram-se ao lado do seu trabalho em horários programados para responder a perguntas e fornecer mais informações sobre os resultados de seus estudos. De forma virtual, cerca de 1.200 e-posters (com três minutos de duração) estarão disponíveis para visualização sob demanda na plataforma da conferência.