Amazônia concentra 42% dos trabalhadores resgatados em situação análoga à escravidão no Brasil

O trabalho análogo à escravidão é mais comumente encontrado em Zonas Rurais (Foto: Ricardo Oliveira)

07 de fevereiro de 2022

21:02

Ana Carolina Barbosa – Da Revista Cenarium

MANAUS — Aproximadamente 42% dos trabalhadores resgatados em situação análoga à escravidão no Brasil, nos últimos 27 anos, estavam sendo explorados em Estados da Amazônia Legal. Os dados são do Painel de Informações e Estatísticas da Inspeção do Trabalho no Brasil (Radar SIT), do governo federal. Foram 24.342 pessoas na Amazônia em um universo total de 57.644 registradas em todo o País no período analisado.

Das 24.342, pelo menos 265 foram localizadas entre 2020 e 2021. Dessas, 70,18%, ou 186, foram resgatadas no Pará, Estado com o maior volume tanto em 2020 (76) quanto em 2021 (110). Em segundo lugar no ranking amazônico, está o Amazonas, com 23 resgates no biênio, seguido de Mato Grosso (21), Tocantins (20), Rondônia (8) e Roraima (7). Acre e Amapá não apresentam dados.

Fonte: Secretaria de Trabalho, órgão do Ministério do Trabalho e Previdência

Pessoas resgatadas em 27 anos nos Estados da Amazônia Legal:

  • Pará: 13.359
  • Mato Grosso: 6.190
  • Tocantins: 3.012
  • Rondônia: 936
  • Amazonas: 474
  • Acre: 236
  • Roraima: 98
  • Amapá: 37

O Estado do Pará está em primeiro lugar no ranking de resgate dos trabalhadores. (Fonte: Secretaria de Trabalho, órgão do Ministério do Trabalho e Previdência)

A maioria dos casos acontece em áreas rurais

A plataforma também mostra que aproximadamente 77,7% das pessoas resgatadas no período, no Brasil, foram encontradas em situação análoga à escravidão em área rural e resgatadas por equipes de Inspeção do Trabalho, o equivalente a 44.786 pessoas. Outras 12.858 estavam sendo exploradas em área urbana.

Neste último caso, enquadra-se no perfil, por exemplo, casos de repercussão nacional, como o de Madalena Gordiano, 46, mulher negra resgatada, em 2021, pelo Ministério Público do Trabalho, após 38 anos de exploração em uma casa em Patos de Minas, Minas Gerais.

Na residência em que ela vivia desde criança, era obrigada a realizar serviços domésticos durante o dia inteiro, sem receber salário. Segundo relatos de Madalena a equipes de reportagem, eram negados a ela até itens de higiene pessoal, o que a fazia recorrer a vizinhos. Um deles acabou denunciando o caso às autoridades. Madalena também foi obrigada a casar-se com um parente da família idoso, que deixou como herança uma pensão a ela, e cujo dinheiro era utilizado apenas pelos patrões. Após o resgate, Madalena foi acolhida em uma casa de apoio para recuperação e teve seus direitos restabelecidos.

Também em Minas Gerais, em janeiro deste ano, uma grande operação para o combate ao trabalho escravo, foi realizada no início deste ano, com o resgate de 270 pessoas. Após a liberação dos trabalhadores, eles foram indenizados e puderam retornar aos seus municípios de origem. Situações de trabalho escravo, especialmente em áreas rurais e ‘casas de família’ são comuns no Brasil e têm sido denunciados constantemente, com o acompanhamento da mídia. O Ministério do Trabalho disponibiliza o ‘Disk 100’ para denúncias.