Ambientalistas defendem operações efetivas e menos ‘show’ da PF durante operações em garimpos do Pará

Posicionamento veio após Polícia Federal dar início a Operação Caribe Amazônico nas proximidades da terra indígena Munduruku. Foto: Pedro Ladeira/FOLHAPRESS

16 de fevereiro de 2022

21:02

Malu Dacio – Da Revista Cenarium

MANAUS (AM) – “Ações contra o garimpo não podem ser lampejos. As ações de comando e controle tem que ser permanentes e efetivas”, a opinião é defendida por um ambientalista e morador das proximidades do Tapajós, no Pará, que preferiu não revelar a identidade devido ao clima de tensão e medo de represálias que são constantes para quem é contra as atividades de garimpo ilegal no Estado.

A frase vem após a notícia de que a Polícia Federal deu início, na última segunda-feira, 14, à Operação Caribe Amazônico, nas proximidades da terra indígena Munduruku, no Estado do Pará. 

De acordo com a secretaria de comunicação do governo brasileiro, o objetivo das ações é reprimir atividades de garimpo ilegal no Rio Tapajós, por meio da apreensão de materiais e destruição de maquinários utilizados na prática ilegal, bem como a repressão de outros crimes ambientais que impactam na região de Alter do Chão.

O ambientalista e morador ouvido pela REVISTA CENARIUM, que optou por não se identificar, disse que o sentimento que fica é o de ceticismo. “A gente sempre fica um pouco cético em relação a essas ações de comando e controle, com bombas ‘policialescas’ midiáticas. Até porque a gente viu isso acontecer no ano passado, retrasado… Sempre quando sai em rede nacional sobre ‘os garimpos do rio Tapajós’, vem bomba, helicóptero, Exército, polícia e fazendo todo um show para a imprensa, com imagens bacanas, e aquela coisa toda está na grande mídia”, criticou o morador.

Mas o show termina e quando todos vão embora tudo retorna ao normal, lembra ele. “Passa uma semana e as coisas voltam a ser como eram ou até piores. Sem uma ação de comando e controle permanentes, efetivos que se perpetuem, fica difícil crer em resultados concretos em relação às medidas que estão sendo tomadas agora”, defendeu.

As informações do governo são que 150 agentes do Estado participam dessa ação em conjunto dos seguintes órgãos: Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal, Força Nacional de Segurança Pública, Marinha, Exército, Força Aérea Brasileira, Bope, PMDF, além do Ibama e Funai.

A ação, até agora, resultou na inutilização de quatro pás caveiras e dois motores usados para bombear os sedimentos na extração do ouro que estavam sendo despejados nos igarapés que deságuam no Rio Tapajós, poluindo o rio.  

150 agentes participam das operações Foto: Pedro Ladeira/FOLHA PRESS

Estudo

O ‘Caribe Amazônico’, como é conhecida a área de Alter do Chão, vem enfrentando alterações devido à intensificação do garimpo ilegal no rio Tapajós e seus afluentes. Informações divulgadas pela Folha de São Paulo, na tarde desta quarta-feira, 16, confirmam a ligação das águas mais turvas com a extração mineral na localidade.

O veículo afirma que um laudo pericial produzido pela Polícia Federal analisou imagens de satélite coletadas de julho de 2021 a janeiro de 2022 e confirma que o aumento do garimpo ilegal é responsável pela mudança de cor da água.

O geólogo Alexandre Gustavo Campelo explica como funciona o processo de Garimpo no Tapajós. “O Garimpo de Tapajós é praticamente um garimpo de barranco. Então, eles fazem desmatamento e lavam todo aquele solo”, conceituou Alexandre.

O ouro, então, é misturado com um material sedimentado. “Então, quando eles lavam em busca do ouro, como o ouro é mais pesado, eles fazem a coleta do material e começam a colocar na esteira de densidade. E o ouro fica, aí o resto do material, que é o barro, vai embora com a água”, disse o geólogo.

Garimpos mais rentáveis

Os melhores garimpos são os de barranco. É o que explica o ambientalista Ricardo Ninuma. No entanto, ocasiona desmatamento das margens e assoreamento acentuado. “Particularmente, acho que essas ações são preparadas para atacar a lavra clandestina garimpeira e por tabela tentam demonstrar que o governo está agindo em prol da natureza, juntamente com os verdadeiros defensores da floresta e do meio ambiente”, disse Ricardo.

“Quem é ambientalista enxerga essas ações como sendo um show. Não existe objetividade em defender, de fato, o meio ambiente. Quem e quantos foram autuados e/ou presos?”, finalizou Ninuma.