Animal amazônico raro, erroneamente chamado de ‘cobra-mole’, é encontrado em Rondônia

Raro, o animal respira pela pele e é um parente próximo de sapos, salamandras e rãs (Reprodução/Internet)

14 de fevereiro de 2021

16:02

Mencius Melo

MANAUS – Um animal aparentemente parecido com uma cobra, de raríssima aparição na natureza, foi encontrado no leito do rio Madeira, próximo às obras da usina de Santo Antônio em Rondônia. O animal de corpo cilíndrico na verdade não é um réptil e sim um anfíbio, parente das salamandras, rãs, pererecas e sapos. Para completar, ele não tem pulmões, respira pela pele. Na região é conhecido como ‘cobra-mole’ ou ‘cobra-cega’.

Com aparência de cobra, gymnophiona é um anfíbio que respira pela pele por não possuir pulmões (Reprodução/Internet)

A reportagem da REVISTA CENARIUM conversou com o biólogo da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Fabiano Tadei, para saber mais sobre o animal. “E um anfíbio chamado de gymnophiona, que quer dizer ‘serpente nua’ pelo fato de não ter escamas. Assim como não possuem escamas os sapos, rãs e as pererecas. No Brasil, são conhecidas como cecílias ou cobra-cega”, descreveu.

De acordo com o biólogo, a gymnophiona é um animal raro e notável porque possui a capacidade de respirar pela pele, isto é: o animal não possui pulmões. “A respiração desses animais ocorre pela pele e por regiões especializadas localizadas na região entre a cavidade bucal e a faringe”, afirmou o profissional.

Não é venenoso

Mesmo possuindo uma aparência nada convidativa, a gymnophiona é uma espécie inofensiva. “Ela não é peçonhenta. Não apresenta veneno e nem dentes”, detalhou. Questionado sobre onde ela habita, Fabiano explicou: “Essa, encontrada no rio Madeira, é uma espécie aquática, outras cecílias podem viver em ambientes úmidos”, relatou.

Uma das poucas espécies de salamandras até hoje encontradas no Brasil, a Bolitoclossa paraensis é originária do Pará (Reprodução/Internet)

Outro detalhe é que por se tratar de um animal raro, os dois únicos espécimes catalogados até então, estão no Museu Emílio Goeldi em Belém do Pará. “É uma espécie endêmica da região amazônica, com ampla distribuição geográfica nesse espaço. Já foi relatada a leste e oeste da região”, informou o biólogo.

Mesmo tratada como novidade, o bicho está há tempos ‘nos olhos da ciência’. “Essa espécie foi descrita por Taylor em 1968, curiosamente, baseado em um espécime localizado no museu de história natural de Viena. Ganhou interesse cientifico no final do século passado, quando foi descrita sua morfologia e biologia, sendo caracterizada como o maior tetrápode sem pulmões”, comentou Tadei.

Novos Estudos

Até agora, apenas dois exemplares da espécie haviam sido encontrados. Por causa disso, há poucas informações sobre sua área de vida. Os novos exemplares foram resgatados durante a secagem do leito do rio Madeira. Três dos exemplares capturados foram devolvidos ao rio, um morreu e os outros dois foram coletados para estudo.

Parente do gymnophiona, o minúsculo sapo amazônico ‘ponta-de-flecha’ possui um veneno mortal (Reprodução/Internet)

Os primeiros exemplares foram encontrados em 2011, mas os cientistas só divulgaram agora porque esperaram concluir a catalogação. Segundo o biólogo Juliano Tupan, analista da Santo Antônio Energia, responsável pelas obras, um aspecto importante é a confirmação do local onde o animal vive. “Agora temos certeza de que esse animal está presente na bacia do rio Madeira, que vai até a Bolívia, e no Pará”, concluiu.