Após vencerem a Covid-19, pacientes da Região Norte enfrentam os traumas deixados pela doença

A FVS divulgou que 21.368 pessoas já se recuperaram do novo Coronavírus (Divulgação)

22 de maio de 2020

20:05

Thiago Fernando

MANAUS – Mais de 212 mil pacientes do Norte já venceram a Covid-19, segundo informações divulgadas neste domingo, 5, pelas Secretarias de Saúde dos sete estados da região. Porém, a alta clínica não significa que a batalha contra o novo Coronavírus tenha terminado. Profissionais da Saúde afirmam que esses pacientes devem seguir com o tratamento em suas residências, até que ocorra a total recuperação física e mental. Em alguns casos, devido às sequelas da doença, essa reabilitação pode se prolongar e demorar alguns meses.

Esse é o caso do pastor Dennes Aparecido, 29 anos, que no início de abril foi diagnosticado com a Covid-19. Depois de passar seis dias internado no Hospital de Campanha Gilberto Novais, localizado na Zona Norte de Manaus, ele recebeu alta para continuar o tratamento em casa. Após quase um mês, Dennes revela sentir dificuldades ao tentar realizar tarefas simples como lavar a louça, além do surgimento de um problema cardíaco.

“Quando senti a falta de ar, fui logo para o hospital e descobri que já tinha comprometido 40% dos meus pulmões. Após ser liberado para voltar para casa, comecei a fazer fisioterapia pulmonar. Não consigo fazer nenhuma atividade. Além disso, devido a doença, desenvolvi uma arritmia que já comecei a tratar”, disse à REVISTA CENARIUM.

Dennes continua o tratamento da Covid-19 em casa (Arquivo Pessoal)

Já a doméstica Paula Gonçalves de Melo, 28, mesmo após superar a doença, relata o cansaço que sente ao realizar os afazeres domésticos, como varrer a casa, e o pânico que sente do novo Coronavírus atingir um dos filhos.

“Começou com uma gripe. No dia seguinte, senti dores no corpo e na cabeça. Nos outros dias, não sentia o gosto dos alimentos e nem o cheiro. Depois falta de ar e febre de 40 graus, dor no peito e nas costas. Fiquei um mês em casa, 20 dias mal e fui orientada pelo médico a ficar em casa e tomar dipirona e fazer inalação. Fui ao hospital, mas fui orientada a ficar em casa por não se tratar de um caso grave”, diz Gonçalves, que agora ajuda sua filha Jasmim, 12, a vencer a doença.

A doméstica Paula Rodrigues foi infectada pelo novo Coronavírus (Arquivo Pessoal)

Para o fisioterapeuta Dennis Fagner de Vasconcelos, que atua em Sobral, no Ceará, é extremamente necessário que os pacientes que receberam alta dos hospitais, sejam acompanhados por um grupo multiprofissional adequado. Ele lembra que durante o período de internação, além dos procedimentos realizados como a intubação, o paciente passa um longo período imobilizado.

“Os pacientes hospitalizados tendem a enfrentar o imobilismo como consequência da dinâmica hospitalar e assim, se restringindo ao leito. Assim, programas de exercícios ajudam a trazer uma melhora do quadro geral do paciente, visto que a resposta da capacidade cardiorrespiratória é positiva frente a um exercício bem prescrito, diminuindo as complicações e sintomas da COVID-19”, explicou o fisioterapeuta.

Tratamento pós-internação
Em entrevista publicada ao site AFP, Bertrand Guidet, chefe do Departamento de Medicina Intensiva no Hospital Saint-Antoine de Paris (FRA), afirmou que “Estragaríamos todo o enorme trabalho da terapia intensiva, se não tratássemos o paciente posteriormente”. Indo nessa mesma linha de pensamento, o psicólogo Alan da Costa afirma ser importante que o paciente tenha um acompanhamento pós-internação. Assim, evitando sequelas como ansiedade e depressão.

“Assim, em outros tratamentos como o do HIV, os pacientes do Covid-19 necessitam de um apoio profissional. Na Ufam (Universidade Federal do Amazonas), já temos um grupo que vem apoiando e acompanhando algumas pessoas que estão apresentando crises de ansiedade nessa quarentena. Os pacientes, além da doença e dos traumas, podem sofrer com a pós-internação”, explicou Costa, que ainda salientou as mudanças ocorridas em decorrência da pandemia no dia a dia do brasileiro.

O especialista também chama atenção para o retorno do paciente ao lar. “Também temos que pensar no retorno do paciente para a casa, porque é uma realidade diferente. Não apenas por causa do isolamento, mas pelas consequências da pandemia. Além de tudo que vivenciaram nos hospitais, muitos pacientes estão de luto e outros estão com medo das informações que são espalhadas. A doença é mais grave do que muitos acreditavam. Quem já teve, agora está com medo dos familiares e amigos serem contaminados”, finalizou.

Dados da Covid-19 no Brasil

Neste domingo, 5, o Ministério da Saúde anunciou que o Brasil totalizou 1.604.585 casos confirmados de Covid-19 e 64.900 óbitos. Além disso, outros 978.615 pacientes já se recuperaram do novo Coronavírus.

Segundo os dados, a Região Norte aparece como a 3ª com mais casos, sendo 293.121 infectados, 10.001 mortes e 212.723 recuperados.