‘Artigo de luxo’ e cada vez mais caro, consumo de carne bovina deve cair ao menor nível em 26 anos

Consumo reduzido da carne é reflexo da fome e resultado de um desmonte na política de segurança alimentar no País, dizem especialistas. (Ricardo Oliveira/Agência Amazônia)

08 de agosto de 2022

09:08

Bruno Pacheco – Da Agência Amazônia

MANAUS – Um artigo já considerado de ‘luxo’ por estar cada vez mais caro nos estabelecimentos comerciais, a carne bovina deve ter o consumo reduzido ao menor nível em 26 anos, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). A estimativa do órgão é de que apenas 24,8 kg do alimento sejam consumidos por pessoa durante o ano de 2022, sendo a menor proporção da série histórica, iniciada em 1996. Para especialistas, a queda é reflexo da fome e resultado de um desmonte na política de segurança alimentar no País, em meio à alta da inflação.

“Esse é o resultado da explosão dos preços e o reflexo da fome e da inflação que assolam o País. O brasileiro precisa voltar a sorrir, com comida no prato, emprego e renda”, comentou o economista, petroleiro e militante Radiovaldo Costa.

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Consumo reduzido da carne é reflexo da fome e resultado de um desmonte na política de segurança alimentar no País, dizem especialistas. (Ricardo Oliveira/Agência Amazônia)

A produtora cultural, a ativista dos direitos humanos e militante da causa negra Michelle Andrews afirma que a queda no consumo da carne está relacionada diretamente à política econômica do Governo Bolsonaro. “Eles permitiram o desabastecimento, incentivaram o dólar em alta, desmontaram a política de segurança alimentar”, comentou a ativista, que critica a concentração de riquezas no País.

Consumo da carne

No período pré-pandemia, em 2019, o consumo da carne era de 30,6 kg por habitante. Em três anos, a queda foi de 20%. A disponibilidade do alimento atingiu a maior proporção em 2006, com 42,8 kg de carne bovina por pessoa. Nos últimos dez anos, a maior taxa registrada foi de 38,3 kg, em 2013. O número é obtido por meio de cálculo que soma o volume importado com a produção nacional e subtrai com a quantidade exportada.

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A Conab estima que a produção de carne bovina também mantenha o comportamento de redução na oferta em maio ao mercado interna com demanda desaquecida. Além disso, especialistas explicam que fatores como a alta de preços e a perda do poder de compra da população, cujos impactos já estão sendo sentidos, influenciem na queda.

(Ricardo Oliveria/Agência Amazônia)

Para Michelle Andrews, a baixa no consumo da carne traz impactos na saúde das pessoas e podem ser sentidos, principalmente, em estados que lideram na proporção da população em situação de extrema pobreza no País, como é no Maranhão e o Amazonas, por exemplo.

Segundo dados de dezembro de 2021, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ambas as Unidades Federativas, Maranhão e Amazonas, têm 14,4% e 12,5%, respectivamente, dos habitantes vivendo com menos de US$ 1,90 por dia, ou seja, R$ 10,73 em valores atuais.

“Nossa população está mais pobre e comendo mal. Não temos acesso à comida de qualidade e só o que resta são alimentos ultra-processados, com preços mais acessíveis, mas com impacto devastador na saúde”, destacou a ativista do direitos humanos.

O básico

De acordo com o 2º Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, divulgado em junho deste ano, o Brasil retrocedeu na segurança alimentar ao atingir o mesmo patamar de fome registrado nos anos de 1990: ao todo, 33,1 milhões de pessoas não têm o que comer no País. Em 1993, eram 32 milhões de pessoas na mesma situação.

A pesquisa mostrou ainda que mais da metade da população brasileira (58,7%) convive com algum grau de insegurança alimentar: seis em cada 10 pessoas., ou seja, 125,2 milhões de habitantes nesta situação, o que representa um aumento de 7,2% desde 2020.

Com a alta da inflação, que atingiu 11,89% no acumulado dos últimos 12 meses, e o aumento no preço dos combustíveis, Michelle Andrews frisa que a capacidade de compra da população cai e as dificuldades para ter o básico, como o café da manhã, acabam surgindo.

“Está difícil o básico para o café da manhã, imagina para o almoço. Isso é responsabilidade direta do governo federal porque é algo que acontece de ponta a ponta do País. Não é algo localizado. No Amazonas, tem o agravante, porque, além de tudo, o governo federal está destruindo o modelo Zona Franca de Manaus (ZFM) e aumentando no desemprego. Os próximos anos deverão ser de reconstrução. Mas não serão fáceis”, reforçou a militante Michelle Andrews.

Como ajudar contra a fome?

Ativista pelos direitos humanos, Michelle Andrews compartilhou nas redes sociais cinco dicas sobre como ajudar contra a fome: colaborar com projetos sociais organizados por mulheres e mães das periferias amazônicas; ajudar e incentivar projetos como estes ao longo do ano; além das cestas básicas; a ajuda pode ser com força de trabalho e organização de ações para arrecadações.

Michelle Andrews é ativista dos direitos humanos e militante da causa negra (Reprodução)

As outras duas formas de se mobilizar é utilizar sua visibilidade as redes sociais para ajudar no combate à fome e as opressões sociais, contribuindo na divulgação de projetos sociais; e fazendo parte de campanhas solidárias.