Artistas amazonenses participam do ritual Kuarup em homenagem ao cacique Aritana, no MT

O artistas Ito Teixeira (à esquerda) e Adriano Paketá (à direita) (Reprodução/Arquivo Pessoal)

18 de setembro de 2021

07:09

Mencius Melo – Especial para Cenarium

MANAUS – Os artistas parintinenses do Boi Garantido Adriano Paketá e Ito Teixeira participaram durante a semana das comemorações do Kuarup, cerimônia dedicada aos que partiram. Desta vez, o homenageado foi o lendário cacique Aritana. O evento aconteceu na aldeia Yawalapiti, no Parque Indígena do Xingu, localizado no Estado do Mato Grosso (MT). O evento contou com a participação de nove povos do Xingu, entre eles, os Nafukuá, Mehinako, Kamajura, Wauja, Kuikuro, Yawalapiti, Matipu, Kalapalo e Awetí.

De acordo com Ito Teixeira, a experiência é enriquecedora. “Trabalho como artista de alegoria no festival de Parintins há quase quatro décadas e jamais havia tido uma experiência tão marcante como essa que vivi nesses quatro dias no Xingu”, descreveu Ito. Para o artesão, o Kuarup é uma aula de Brasil. “Assistir, acompanhar e viver o Kuarup é começar a entender o Brasil a partir de sua origem, da verdade dos primeiros povos que aqui já viviam muito antes da ocupação portuguesa”, assinalou.Adriano Paketá se preparando para o ritual Kuarup (Reprodução/Arquivo Pessoal)

Impressões

Tanto Ito Teixeira quanto Adriano Paketá ficaram impressionados com o tratamento e a gentileza dos anfitriões. “A Educação dos indígenas, o tratamento dispensado aos convidados, a sua organização social, seguido da qualidade da pele”, descreveu Ito. “A organização e a participação de todos é algo que chama bastante a atenção porque é um evento que reúne quase dez povos”, enfatizou Adriano Paketá.

Ainda de acordo com o alegorista, até quando indagados por visitantes de uma forma mais “deselegante”, os indígenas souberam usar a educação. “Visitantes perguntaram ao final da cerimônia se em 2022 terá Kuarup. A questão é que o Kuarup é uma cerimônia de despedida e os indígenas não querem que ninguém parta. O melhor seria não ter Kuarup”, informou. “Os indígenas apenas sorriam e desconversavam”, resumiu Ito Teixeira.

Aventura e recepção

Estreantes no Kuarup e visitantes pela primeira vez no Estado do Mato Grosso, Ito Teixeira e Adriano Paketá foram acolhidos pelo filho mais velho do cacique Aritana, Tapir. “Fomos muito bem recebidos e ainda desfrutamos de alguns privilégios como o de visitar ‘A Casa dos Homens’ e ali participar de uma reunião”, contou Paketá. “Esse espaço é místico e de alta importância na organização social do povo xinguano”, explicou Ito.

Segundo Ito, a viagem é uma aventura que exige desprendimento e uma dose extra de força de vontade. “Foram 72 horas de viagem até entrar no Parque do Xingu. Utilizamos voo, ônibus, carro, voadeira, enfim, uma estrutura e quase uma odisseia para chegar num pedaço humano e fundamental do Brasil”. Já o artista Adriano Paketá resumiu a emoção: “Ver a união dos povos e assistir a realização do ritual é inesquecível”, finalizou.

Aritana

Aritana Yawalapiti nasceu em 1949, na região de Goiânia, no Estado de Goiás. Era considerado um dos poucos remanescentes da geração que travou contato com os irmãos indigenistas Cláudio Villas-Bôas e Orlando Villas-Bôas, criadores do Parque Indígena do Xingu. Do povo Yawlapiti, Aritana era uma liderança reconhecida internacionalmente. Foi presidente do Instituto de Pesquisa Etno Ambiental do Xingu (Ipeax).

Na década de 1980, assumiu liderança na defesa dos povos indígenas do Alto Xingu. Foi ativo representante não só dos Yawalapiti, mas de inúmeras populações tradicionais da região que compreende o Parque Indígena do Xingu. Lutou na defesa dos direitos ambientais, saúde, educação e na conturbada agenda das demarcações territoriais dos povos indígenas do Xingu e do Brasil. Morreu em agosto de 2020, aos 71 anos, vítima da Covid-19.