‘As ameaças e ataques estão se tornando constantes’, denuncia indígena sobre violência contra povo Pataxó

Alice Pataxó pede por socorro e segurança, após as comunidades indígenas, do município de Porto Seguro, relatarem serem vítimas de tiros de arma de fogo (Arquivo Jornalistas Livres)

16 de agosto de 2022

14:08

Bruno Pacheco – Da Agência Amazônia

MANAUS – A ativista e comunicadora indígena Alice Pataxó denunciou, nessa segunda-feira, 15, que as ameaças e os ataques contra o povo Pataxó têm se tornado constantes e que aldeias no extremo Sul da Bahia são alvos de fazendeiros há muito tempo. Nas redes sociais, a jovem líder indígena pediu por socorro, justiça e segurança após as comunidades indígenas, do município de Porto Seguro, relatarem serem vítimas de tiros de arma de fogo.

“Estamos vivendo uma onda de ataques nas aldeias Boca da Mata e Cassiana no território indígena Barra Velha (Aldeia Mãe), os ataques armados contra os indígenas já vinham acontecendo desde junho, mas as ameaças e ataques estão se tornando constantes”, começou a indígena, em uma sequência de publicações no Twitter.

Os ataques citados pela ativista foram registrados nessa segunda-feira, 15, na comunidade Pataxó de Boca da Mata e Cassiana, no território indígena (TI) Barra Velha, no município de Porto Seguro (BA). Nas imagens, compartilhadas pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), é possível ver um grupo de indígenas deitado em meio ao mato tentando se proteger de tiros.

Segundo a Federação Indígena das Nações Pataxó e Tupinambá do Extremo Sul da Bahia (Finpat), a região vem sofrendo uma escalada de violência desde junho deste ano, quando cerca de 180 Pataxós realizaram a retomada da Fazenda Brasília, que fica dentro de uma área identificada e delimitada como território indígena, com RCID.

Nas redes sociais, a ativista Alice Pataxó afirmou que as famílias da comunidade estão sendo coagidas, impedidas de sair de casa e as crianças não podem acessar a escola. “Vídeos onde mulheres e crianças fogem para se esconder têm circulado nas redes sociais em um pedido de socorro pelo povo”, escreveu, na rede social.

“A violência parte de muitos lados, dos fazendeiros e pistoleiros, muitas vezes milicianos contratados para exterminar a comunidade, uma situação violenta que passa por cima dos Direitos Humanos de todos nós”, explicou Alice Pataxó, no Twitter. “As aldeias que ficam no extremo Sul da Bahia são alvos de fazendeiros há muito tempo, em um território de muita luta e conquista do povo Pataxó, no processo de retomada e demarcação de seus territórios”, continuou.

Alice Pataxó publicou uma série de twitters relatando os ataques (Reprodução)
Alice Pataxó publicou uma série de twitters relatando os ataques (Reprodução)

Cerco de pistoleiros

A escalada de violência contra os Pataxós vem sendo registrada há dois meses. No dia 26 de junho, segundo uma nota da Finpat obtida pela AGÊNCIA AMAZÔNIA, cerca de 60 indígenas, entre crianças, mulheres e jovens, foram ameaçados de morte e atacados em uma área de ocupação territorial, denominada de Fazenda Brasília, por uma “quadrilha e organização criminosa formada por cerca de 200 fazendeiros, pistoleiros, milicianos”.

No documento, a entidade indígena acusa ainda que policiais militares estão entre as pessoas que realizaram os ataques. O grupo, segundo a Finpat, entrou na região com, aproximadamente, 50 caminhonetes e outros veículos, portando arma de fogo, como pistolas, fuzis e escopetas. “Os indivíduos, em sua maioria, estavam encapuzados com toca ninja, um deles se identificou como proprietário da Fazenda Brasília e outro como policial da Caema/BA”, diz trecho da nota.

Nas redes sociais, a Apib denunciou que as comunidades estão sob o certo de pistoleiros e mostrou os indígenas fugindo de tiros nessa quinta-feira, 11. Segundo a articulação, há cerca de um mês, as famílias estão sendo impedidas de transitar, sem possibilidade de comprar alimentos nas cidades ou sair para trabalhar. “Uma retaliação às retomadas, organizada pelo ‘agrobanditismo’”, pontuou a Apib.

Sem retorno

AGÊNCIA AMAZÔNIA entrou em contato com o Governo da Bahia, por meio da assessoria de comunicação, solicitando um posicionamento sobre os ataques ao povo Pataxó e questionando quais ações da estão sendo realizadas na proteção dos povos indígenas da região. Até a publicação desta matéria, sem retorno.

Confira a nota da Federação Indígena das Nações Pataxó e Tupinambá do Extremo Sul da Bahia: