Assassinado aos 41 anos, indigenista Bruno Pereira recebe homenagem em Atalaia do Norte, no AM

O indigenista Bruno da Cunha Araújo Pereira (Reprodução)

11 de agosto de 2022

12:08

Bruno Pacheco – Da Agência Amazônia

MANAUS – O indigenista Bruno da Cunha Araújo Pereira, assassinado em 5 de junho deste ano junto com o jornalista Dominic Mark Phillips, o ‘Dom Phillips’, na região do Vale do Javari, no extremo Oeste do Amazonas, vai receber uma homenagem nesta quinta-feira, 11, em Atalaia do Norte (a 1.137 quilômetros de Manaus). O Cartório da 47ª Zona Eleitoral da cidade passará a se chamar pelo nome do ativista, que foi morador do município entre 2012 e 2016 e estava em uma expedição pelas proximidades quando foi morto.

O evento está marcado para as 10h30 horário local desta quinta-feira (12h30, no horário de Brasília) e contará com a presença do presidente e da vice-presidente e corregedora eleitoral do Tribunal Regional Eleitoral do Amazonas (TRE-AM), os desembargadores Jorge Manoel Lopes Lins e Carla Maria Santos dos Reis, respectivamente.

Servidor de carreira da Fundação Nacional do Índio (Funai), Bruno Pereira era engajado em pautas em defesa às causas indígenas e exímio conhecedor do Vale do Javari, além de ter sido considerado um dos maiores especialistas em indígenas isolados ou de recente contato do Brasil. A homenagem para o indigenista foi aprovada por meio da portaria do TRE-AM nº 654, de 7 de julho de 2022.

Assassinato

Bruno Pereira e Dom Phillips foram mortos após receberem ameaças em campo na região do Vale do Javari, palco de conflitos e rota do tráfico de drogas, garimpo ilegal e exploração ilegal de madeira. Ambos realizavam uma expedição nelas proximidades. O jornalista e o indigenista foram vistos pela última vez em uma embarcação entre a Comunidade São Rafael e Atalaia do Norte, cidade para onde eles estavam retornando.

Segundo a União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja), organização que atua pelos direitos dos povos tradicionais da região, Bruno Pereira era ameaçado constantemente por sua atuação contra invasores na terra indígena. Já o jornalista era conhecido por reportagens denunciando as violações dos direitos das populações originárias e vinha trabalhando em um livro sobre meio ambiente.

Dom Phillips (à esq.) e Bruno Pereira foram mortos no Vale do Javari (Reprodução)

Investigações da Polícia Federal apontaram que Bruno e Dom foram mortos depois que flagraram os irmãos Oseney da Costa de Oliveira, conhecido como “Dos Santos”, e Amarildo da Costa de Oliveira, o “Pelado”, fazendo pesca ilegal de pirarucu. O indigenista e o jornalista já eram desafetos dos irmãos e, segundo a PF, foram rendidos pela dupla, assassinados e tiveram os corpos esquartejados e incendiados.

Tanto Amarildo quanto Oseney foram presos junto com Jefferson da Silva Lima, o “Pelado da Dinha”, foram presos suspeitos de participarem no crime. Apenas Amarildo e Jefferson confessaram o assassinato, enquanto Oseney negou. Os três se tornaram réus da Justiça Federal, após denúncia do Ministério Público Federal (MPF).

Bruno Pereira

O indigenista Bruno da Cunha Araújo Pereira tinha forte relação de amizade com os indígenas e era conhecido como “protetor dos povos originários”. Apesar de ser natural de Recife, capital de Pernambuco, o ativista não escondia o amor pela Amazônia e pelas riquezas e sabedorias da região, ingressando na Funai, em 2010, para atuar em defesa das populações indígenas.

Na Funai, o indigenista atuou na coordenação regional do órgão em Atalaia do Norte de 2012 a 2016, quando deixou o cargo e, em 2018, voltou a prestar serviço para a fundação como coordenador-geral de Índios Isolados e de Recente Contato da Diretoria de Proteção Territorial. Ao longo da carreira, Bruno Pereira buscou trocar conhecimento com os indígenas e passou a falar quatro línguas das populações originárias locais, participando ainda de, pelo menos, dez longas expedições de localização de isolados.