Balsa de garimpo ilegal denunciada por indígenas é apreendida pela operação ‘Guardiões do Bioma’

(Reprodução redes sociais Juma Xipaia)

16 de abril de 2022

20:04

Ívina Garcia- Da Revista Cenarium

PARÁ – A operação “Guardiões do Bioma”, coordenada por agentes da Polícia Federal (PF), Força Nacional de Segurança Pública, Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e Funai, apreendeu na tarde deste sábado, 16, uma balsa de garimpo próximo à aldeia Kaarimã, em Altamira (PA), a 455km de distância de Belém.

A denúncia de invasão ilegal havia sido feita por indígenas Xipaia, ao notarem a chegada do maquinário no território. Após o alerta, os órgãos de proteção ambiental realizaram buscas, desde a tarde dessa sexta-feira, 15, nas reservas extrativistas Riozinho do Anfrísio e do Rio Iriri, para localizar a máquina de extração ilegal.

A operação mobilizou duas aeronaves para o transporte de sete pessoas que foram encontradas nas balsas usadas para atividades garimpeiras e levadas até a Polícia Federal. De acordo com a publicação oficial do Ministério da Justiça, cinco adultos foram levados para a delegacia da PF, localizada na cidade de Itaituba (sudoeste do Pará). Dois menores foram apreendidos e estão sob os cuidados da Justiça.

Pedido de Socorro

A cacica Juma Xipaia publicou vídeos, nas redes sociais, alertando sobre a chegada das balsas e da invasão ao lado da aldeia Kaarimã, em Altamira, no Pará. “Nos ajudem, esse vídeo é um pedido de socorro! A gente pede apoio dos órgãos competentes, os guerreiros das outras aldeias já pediram para eles saírem, mas eles estão com maquinário pesado, não sabemos o que pode ser feito“, declarou antes da apreensão.

De acordo com o sócio-fundador do Instituto Socioambiental (ISA) e ex-presidente da Funai, Márcio Santilli, a política mineral brasileira passa por um momento grave e afirma a importância na discussão das implicações que a atividade de mineração traz.

“Nos últimos três anos, tivemos um aumento de mais de 100% na extensão desse tipo de predação mineral, especialmente na Região Amazônica. É o momento de se discutir profundamente o custo socioambiental para a população”, considera.

A respeito das atividades extrativistas, Márcio acredita que o garimpo, com as tecnologias atuais, são prejudiciais tanto para as comunidades indígenas e ribeirinhas como para quem mora nas metrópoles.

“Quando se trata de Terras Indígenas, temos um impacto direto sobre esses povos, na cultura e modo de viver. Mas em todos os casos, temos impactos muito graves nos rios e nos cursos d’água, que acabam erodidos e contaminados por mercúrio, de modo que isso acaba comprometendo não só os povos indígenas como as comunidades ribeirinhas que vivem às margens dos rios da Amazônia“, avalia.

“Garimpeiros predatórios”

Segundo Márcio, apesar de não existirem informações sobre o grupo que tentava atuar no local, o tipo de draga encontrado pelos indígenas e pelo ICMBio são grandes e podem ter sido financiados por grupos maiores que estão atuando na Região Amazônica nos últimos anos.

A gente está falando de dragas com alto poder de detonação. Estamos falando de balsas gigantescas e de apoio logístico via aérea como ocorre em território Yanomami. É importante notar que as operações realizadas pela Polícia Federal, recentemente, têm identificado claras conexões entre esses empreendimentos garimpeiros predatórios e o crime organizado”, conclui.

Balsas de garimpo próximo à aldeia Kaarimã (Reprodução/Juma Xipaia)