Bancos vão negar crédito a frigoríficos que comprarem gado de áreas desmatadas da Amazônia

Norma só passa a valer em 2025, mas já teve adesão dos maiores bancos brasileiros associados à Febraban (Reprodução/Estadão)

31 de maio de 2023

20:05

Iury lima – Da Agência Cenarium

VILHENA (RO) –  Segundo as novas regras do financiamento da cadeia de carne bovina, estabelecidas pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban), na terça-feira, 30, os frigoríficos e matadouros que compram gado criado em áreas do desmatamento ilegal, na Amazônia Legal, terão crédito e financiamento negados pelas instituições financeiras públicas ou privadas.

A norma só vale a partir de 2025, mas já teve adesão dos maiores bancos associados à Febraban. Para as instituições que aderirem à autorregulação, como o Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), deverão solicitar dos frigoríficos a execução de um sistema de rastreabilidade que demonstre que o gado não pertence a áreas desmatadas ilegalmente, mesmo de fornecimento indireto.

Fazenda de criação de gado localizada no Estado de Mato Grosso (Reprodução/PCSA)

Na prática

As empresas só terão acesso a crédito se apresentarem as seguintes informações no sistema de rastreabilidade:

  • Existência de embargos do Ibama;
  • Documentação de compra e venda;
  • Cadastro Ambiental Rural das propriedades em dia;
  • Origem do gado;
  • Informar se há trabalhadores em condições análogas à escravidão.

Pelo menos 21 bancos já assinaram o protocolo para monitorar a cadeia de abastecimento de frigoríficos, entre eles, Itaú, Bradesco, Santander e Caixa. O Banco do Brasil, maior fornecedor de crédito para o setor do agronegócio, também integra o grupo.

Fachada do edifício Banco do Brasil, na Asa Norte, Brasília. Banco é o maior financiador do agro no País (Fernando Bizerra/Agência Senado)

Medida oportuna

Para a economista e ex-vice-presidente do Conselho Federal de Economia (Cofecon), Denise Kassama, a norma é muito oportuna em tempos atuais. “Já está mais do que na hora de alguém começar a pagar a conta de todo esse estrago ambiental”, afirmou Kassama à REVISTA CENARIUM.

“Acredito que, a longo prazo, é uma medida importante não só para a economia, mas para a preservação da Amazônia. E a gente faz votos de que outras atividades primárias também tenham esse tipo de medidaSó temos um planeta, então, temos que cuidar dele. Consertar sai muito caro do que preservar”, destacou.

A economista e vice-presidente do Conselho Federal de Economia (Cofecon), Denise Kassama (Reprodução/Acervo Pessoal)

Frigoríficos reagem

A decisão da Febraban não repercutiu bem entre as empresas do setor de frigoríficos. A Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec) comparou as novas regras a uma terceirização de responsabilidade.

A associação afirmou, por meio de nota, que os frigoríficos são vistos como um elo fundamental para o ordenamento da cadeia pecuária. Afirmou também que as empresas do ramo aceitam as responsabilidades, mas não que “outros setores terceirizam as suas responsabilidades para os frigoríficos”. A Abiec representa as três maiores empresas do ramo no País: JBS, Minerva e Marfrig.

Hoje, o Brasil é o maior exportador de carne bovina do mundo; 28% de tudo o que é produzido no País vai para o exterior. Na avaliação da ex-vice-presidente do Conselho Federal de Economia, “os produtores choram de ‘bucho cheio”“Com certeza, eles não vão pagar essa conta sozinhos, esse custo vai acabar sendo diluído em toda a cadeia produtiva“, criticou Denise Kassama.