Bolsonaro diz que mulheres ‘estão praticamente integradas à sociedade’ e é criticado por movimento feminista

Especialistas dizem que a popularidade de Bolsonaro não deve ser afetada por não ser a primeira vez que ele reproduz discurso parecido (Isaac Nóbrega)

08 de março de 2022

21:03

Malu Dacio – Da Revista Cenarium

MANAUS – O presidente Jair Bolsonaro (PL) disse durante cerimônia em comemoração ao Dia Internacional da Mulher, nesta terça-feira, 8, que hoje em dia as mulheres estão “praticamente integradas à sociedade”. O evento aconteceu no Planalto, em Brasília.

Segundo informações do Correio Braziliense, Bolsonaro ainda repetiu uma fala da ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves, e disse que a participação das mulheres no governo é maior do que em gestões anteriores. Na verdade, além de Damares, são ministras Tereza Cristina (Agricultura) e Flávia Arruda (secretária de governo).

Ainda segundo o veículo de comunicação, o mestre de cerimônias de comunicação do Palácio do Planalto anunciou no sistema de som da cerimônia alusiva ao Dia Internacional da Mulher que Bolsonaro assinará decreto que prevê a oferta gratuita de absorventes, o que foi confirmado na noite desta terça-feira, 8.

Não é a primeira vez que Bolsonaro reproduz falas machistas. Sua própria filha Laura foi definida como uma ‘fraquejada’, pois Bolsonaro é pai de 4 filhos homens. No final de 2021, o presidente foi filmado dançando uma paródia de funk que tinha uma letra que compara mulheres de esquerda a cadelas.

Fala é alvo de críticas

Vice-presidente do coletivo feminista ‘As Amazonas’, Yasmin Martins, 23, afirmou que considerando que já tivemos uma mulher eleita, democraticamente, à Presidência da República, o Brasil já viveu momentos políticos muito melhores que esse.

“Nós, infelizmente, vivemos num bojo de política machista e sexista que nos afasta de espaços políticos, das esferas políticas, das esferas sociais e suas mais diversas frentes. Essa fala do presidente só caracteriza ainda mais a definição do governo, de segregação, que é esse governo de Jair Bolsonaro”, criticou.

“É muito mais que a fala de uma pessoa política; acredito que tem sido e tem se tornado um projeto político de destruição do governo Bolsonaro”, defendeu.

Ato de campanha

O sociólogo e professor da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Gilson Gil, disse à REVISTA CENARIUM que a fala de Bolsonaro é um ato de campanha. “Creio que ele está em campanha. Disse que vai aprovar o projeto dos absorventes, exaltou a presença feminina no governo e falou em Deus. Está, penso eu, tentando se recompor com o eleitorado feminino, que apresenta alta rejeição a ele”, lembrou.

O especialista defende que, contudo, o histórico de Bolsonaro não confirma tais declarações. “Assim como há poucas mulheres no ministério e ele não dá mostras reais de zelar por esse segmento”, defendeu Gilson.

Ele reafirmou que vê mais como uma tentativa de ‘surfar’ na campanha, em cima de um tema sensível, como a presença feminina na vida em sociedade, hoje.

“São alinhamentos eleitorais e ele, mesmo que sem jeito, tenta aparentar que se preocupa com esse tema”, finalizou.