Campanha eleitoral negativa expõe falta de propostas de candidatos, afirmam especialistas

Campanha eleitoral de ataques ofensivos, para especialistas, expõe falta de propostas. (Reprodução)

17 de janeiro de 2022

08:01

Bruno Pacheco – Da Revista Cenarium

MANAUS – Em período eleitoral, quando pré-candidatos e candidatos políticos iniciam as respectivas campanhas para se elegerem, é comum propagandas negativas que atacam os adversários. Para especialistas e analistas de política, o uso desse tipo de ferramenta nesta época do ano expõe a falta de propostas dos postulantes aos cargos públicos eleitos pelo povo.

O sociólogo, advogado e cientista político Carlos Santiago explica a mudança do marketing político, principalmente, depois do surgimento das novas normas eleitorais. “Antes, eram 90 dias de campanha política. Hoje, são apenas 40 dias. Antes da modificação da legislação, o marketing político, a estratégia eleitoral seguia uma receita bem tradicional”, comentou o especialista à CENARIUM.

A receita seguida pelo marketing político começava, segundo Santiago, com a construção do personagem/candidato político com sua qualificação profissional, experiência, família, os estudos e as suas contribuições sociais.

“Depois, colocava nas mãos do candidato, e nos lábios, as propostas para resolver os problemas da sociedade. Uma vez apresentado para a população, o candidato começa a propor soluções para resolver os graves problemas sociais a diversas áreas, na educação, saúde, segurança e mobilidade urbana. Na terceira etapa do modelo do marketing político tradicional, era a desconstrução da imagem dos adversários, criticando, mostrando incoerências, denunciando irregularidades, buscando a desconstrução da imagem”, afirmou o cientista político.

Já na pré-campanha, de acordo com Carlos Santiago, os políticos passam a se movimentar para já expor contradições, irregularidades e desconstruir qualquer imagem positiva dos seus possíveis adversários. “A desconstrução, a crítica contra os adversários sempre existiram dentro das estratégias eleitorais, do marketing político. Como a campanha era longa, de 90 dias, essa fase ficava para o final, naquele momento da disputa, do acirramento e fechamento das campanhas, como começavam os debates. Agora, os políticos que são pré-candidatos ou postulantes a cargos majoritários já estão utilizando a estratégia de desconstrução da imagem dos seus adversários já neste momento”, reforçou.

Experiência

O mesmo é reforçado pelo diplomata, também sociólogo e ex-prefeito de Manaus, Arthur Virgílio Neto. “Uma pessoa pública precisa ser experiente, ter sensibilidade com os problemas sociais de um povo que está passando fome. Precisa apresentar propostas realistas na direção do emprego e renda. Precisa ser respeitado pelo seu povo e pelo seu país. Obrigatório que saiba defender a ZFM e que reúna cabedal político para ser ouvido e levado a sério. Uma coisa é dizer e provar o que disse. Outra é fazer parte da mesmice e da acomodação. Quem não é preparado vive de mesquinharias, conchavos e ataques descabidos”, exemplifica Arthur Neto.

‘Jabuticaba’

O professor e cientista político Paulo Kramer afirma que a “pré-campanha” é uma “jabuticaba brasileira”, referindo-se à fruta originária do Brasil existente em quase todos os territórios do País. Para ele, a pré-campanha é “invenção da Justiça Eleitoral”, que “legisla loucamente sem ter sido eleita para isso”.

“O bê-a-bá das redes sociais ensina que elas se prestam muito mais a mensagens negativas do que a mensagens positivas. A ‘porrada’ digital chama a atenção dos internautas, e é esse tipo de polêmica que movimenta o ciberespaço. Se o ataque for maciço, intenso, e o ‘alvo’ não se defender a tempo, ele ficará ‘carimbado’, tornando-se mais difícil ‘descarimbá-lo’”, disse o especialista.

Kramer reafirma que a pré-campanha é um termo do calendário ditado pela Justiça Eleitoral, que ‘legisla’ ilegitimamente, pois, segundo ele, não recebeu mandato popular para tanto. O cientista político também critica o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Tribunal Regional Eleitoral (TRE) e o Ministério Público Eleitoral (MPE).

“O TSE, os TREs e o Ministério Público Eleitoral inventam tanta dificuldade para a livre expressão do candidato e a sua competição que desconfio de que não gostam de eleições e, se pudessem, as proibiriam para sempre, substituindo a democracia por uma ditadura de juristas, aliás uma tendência que vem se manifestando insistentemente em outros segmentos da política brasileira”, frisou.