Casos de indígenas infectados por Covid-19 aumentam em 111% em quatro dias, diz Apib

Mortes contabilizadas pelas organizações indígenas são de 15 parentes, um salto de 50% de óbitos nos últimos quatro dias (Foto: Divulgação/Apib)

28 de abril de 2020

19:04

Bruno Pacheco – Da Revista Cenarium

MANAUS – Nos últimos quatro dias, os casos de indígenas infectados pelo novo Coronavírus, doença que causa a Covid-19, aumentaram em 111% e as mortes contabilizadas pelas organizações indígenas são de 15 parentes, um salto de 50% de óbitos. O levantamento é da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), divulgado nesta terça-feira, 28.

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Segundo a entidade, no dia 23 deste mês, os casos confirmados eram de 42 indígenas contaminados e 10 parentes mortos. “A última atualização dos dados feita, na noite do dia 27 de abril, pelas organizações de base da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) e pela Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), contabilizam 89 parentes infectados e 15 mortos”, diz a Apib.

A associação afirma que a cada dia, os casos de indígenas contaminados aumentam de forma alarmante e o governo Bolsonaro segue agindo de forma criminosa, negligenciando a proteção dos povos indígenas, descumprindo a Constituição Federal. “Pelo levantamento realizado pelas organizações indígenas, 19 etnias estão sendo afetadas até o momento e os casos suspeitos já abrangem todas as regiões do país”, pontua.

A Apib diz que os dados do Governo Federal seguem sendo subnotificados e a Sesai não consegue acompanhar e registrar os indígenas que vivem nas cidades fora dos territórios tradicionais.

“Entendemos este fato com um ato de racismo institucional e exigimos a revogação urgente da portaria 070/2004 para garantir o atendimento de todos os indígenas, aldeados ou não”, exige a entidade.

Preocupação

Em abril, as mortes de indígenas contaminados por Covid-19 aumentaram 800% em 15 dias. Segundo a Apib, foram nove casos registrados entre os dias 6 e 21, um salto se comparado com o mês de março, que registrou a primeira morte pela doença de uma indígena do povo Borari, de 87 anos, no município de Santarém (PA).

A associação e o movimento indígena diz encarar o momento da pandemia da Covid-19 com extrema preocupação e alerta: “podemos viver outro ciclo de genocídio dos nossos povos”

“As invasões e crimes cometidas por madeireiros, garimpeiros e grileiros seguem intensas nos nossos territórios da mesma forma que a ameaça da contaminação do vírus avança a cada dia”, esclarece.

Colapso

O Amazonas registou nesta terça-feira, 28, 4.337 casos da doença. No interior do estado, a Covid-19 chegou a 47 municípios, que acumulam 1.438 infectados, segundo a Fundação de Vigilância em Saúde (FVS-AM).

“Hoje, o Amazonas, que está com colapso no sistema de saúde, segue como estado com maior número de casos de contaminados e de mortes por Covid-19 entre indígenas. A Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab) tem recebido diariamente informações de casos suspeitos e acompanhado denúncias sobre a falta de testes rápidos e da não atenção da Sesai com os indígenas que vivem fora dos territórios. Indígenas, que estão em tratamento por outras doenças, e estão sendo contaminados nos hospitais e na Casa de Apoio à Saúde Indígena (Casai) de Manaus. Isto é grave!”, enfatiza.

Como forma de enfrentamento às ameaças da pandemia e o aumento das violências contra os povos indígenas, a associação iniciou ontem, 27, a 16ª edição do Acampamento Terra Livre (ATL) online, que deve acontecer até o dia 30 com encontros virtuais.

O intuito, segundo a Apib, é mobilizar a articulação indígena e pressionar o Governo Federal e os Governos Estaduais para implementações de medidas urgentes de proteção à vida dos povos indígenas.

O encontro pode ser acompanhado ao vivo pelo site apib.info. Os casos de Covid-19 de povos indígenas podem ser conferidos no site quarentenaindigena.info.