Centro de Estudos da USP fará parcerias com pesquisadores da Amazônia, afirma coordenador

O pesquisador e coordenador do Ceas, Paulo Artaxo. (Agência Brasil)

06 de maio de 2023

18:05

Gabriel Abreu* – Da Revista Cenarium

MANAUS – A Universidade de São Paulo (USP) criou, em março, quatro novos locais de estudos, entre eles, o Centro de Estudos da Amazônia Sustentável (Ceas). Segundo explicou à REVISTA CENARIUM o professor do Instituto de Física (IF) da USP e coordenador Ceas, Paulo Artaxo, o centro planeja ser uma ponte entre a pesquisa científica produzida na Amazônia com a USP, por meio de pesquisas e missões científicas.

Instituições de Ensino da Região Norte, como a Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e a Universidade Federal do Pará (UFPA), além do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), produzem material científico sobre sustentabilidade há pelo menos sete décadas. “O Centro de Estudos da Amazônia Sustentável pretende ser uma ponte entre pesquisadores da região amazônica de todas as instituições de ensino e pesquisa e a Universidade de São Paulo como um todo”, explicou Artaxo.

O centro quer se estruturar como local de compartilhamento de conhecimentos e saberes (científicos, tradicionais, locais, práticos), oportunizando interações e colaborações com instituições e organizações que atuam na região amazônica. A expectativa é que o centro aproxime estudantes, tanto de graduação e pós-graduação quanto aos pesquisadores da USP na Amazônia. Os saberes tradicionais dos povos amazônicos também são essenciais para o projeto.

Os esforços devem ser centrados para facilitar o acolhimento de estudantes da região amazônica nas atividades da USP. “A Amazônia fornece oportunidades únicas em todas as áreas científicas, para ampliar nosso conhecimento sobre as complexas interações sociais com o meio ambiente. Temos muito a aprender com a região, e a ciência que o Ceas desenvolverá focará na preservação do ecossistema, bem como em encontrar caminhos para o desenvolvimento sustentável da Amazônia”, finaliza Artaxo.

Missão Amazônia

Vinculado diretamente à Reitoria da USP e com a participação de cerca de 30 pesquisadores, o Ceas terá como foco a Amazônia. Como propósito estão a produção, integração e disseminação da ciência, por meio de atividades acadêmicas e científicas, inter e transdisciplinares, relacionadas ao ensino, à pesquisa e à extensão, para o desenvolvimento sustentável da região.

Membro do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), Paulo Artaxo fala das emissões de gases de efeito estufa na região Norte (Reprodução/Internet)

As atividades propostas para o Ceas focam ainda na preservação da biodiversidade e na cultura dos povos originários, o uso sustentável dos recursos naturais, a ampliação de esforços para mitigação de emissões e adaptação às mudanças climáticas e para a melhora de condições de vida das populações, considerando toda a diversidade étnica e populacional (povos da floresta, ribeirinhos, comunidades quilombolas e os residentes das áreas urbanas) e os paradoxos e complexidades amazônicas.

Paulo Artaxo exemplifica que os pesquisadores querem desenvolver atividades socioeconômicas que possam trazer benefícios e uma maior igualdade de renda, de educação, de saúde para população amazônica, com estratégias baseadas em ciência e não estratégias baseadas em interesses políticos ou estratégias baseadas, por exemplo, em degradação do ecossistema ou em atividades ilegais — como garimpo ilegal, invasão de terras públicas, invasão de terras indígenas —, que é o que caracteriza atualmente nas atividades econômicas principais da região amazônica.

“O Brasil tem que encontrar um caminho de desenvolvimento e que traga efetivamente a diminuição das desigualdades sociais, não só na Amazônia, em todo o Brasil, e, ao mesmo tempo, desenvolver estratégias para o desenvolvimento que seja efetivamente sustentável a médio e longo prazo para região amazônica“, explicou Artaxo.

Centro buscará produzir conhecimento técnico-científico para enfrentar os desafios relacionados a aspectos territoriais, como no caso do garimpo (Arquivo/Agência Brasil)

Pesquisas básicas e aplicadas

Na região serão desenvolvidas pesquisas básicas e aplicadas. As primeiras vão procurar entender como se dá, por exemplo, o funcionamento básico do ecossistema amazônico; como as mudanças climáticas podem impactar a fotossíntese das plantas; e como se dá a recirculação de água no ecossistema amazônico, formando os rio voadores.

Já as aplicadas buscarão soluções adequadas para o desenvolvimento de um sistema energético adequado, de maneira que os municípios não precisem depender de combustíveis fósseis, como diesel poluente, vendido a preços altíssimos; como desenvolver o acesso à internet nos lugares mais remotos da Amazônia; e qual a melhor maneira de proteger as populações indígenas da agressão de garimpos ilegais e da invasão das suas terras.

Então, antropologia, física, biologia são disciplinas que vão trabalhar juntas entre pesquisadores da USP e pesquisadores da região amazônica para o desenvolvimento sustentável da região”, explicou Paulo Artaxo.

Linhas de pesquisa

A formação do Ceas é muito recente e, ao longo das próximas semanas, ocorrerá uma série de reuniões para definir a missão, o regimento e os projetos a serem desenvolvidos. O Conselho Diretor será estruturado para dar direções estratégicas, assim como o Conselho Consultivo para auxiliar a alcançar a troca de conhecimentos, aumentando o impacto das pesquisas e ações. Artaxo está otimista quanto ao início das atividades.

“Esperamos que, em poucos meses, o centro esteja em pleno funcionamento, escrevendo propostas de pesquisa para grandes financiadores, de dentro e de fora do Brasil, e assim conseguir financiamentos e apoios para o desenvolvimento de nossas pesquisas e atividades”, aguarda o coordenador, acrescentando que o Ceas terá uma sede física, com salas para receber pesquisadores e alunos da região amazônica, e contribuir para a integração das atividades.

“Já temos vários projetos temáticos financiados pela Fapesp [Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo], que têm colaborações com o Ceas, mas queremos escrever propostas específicas e multidisciplinares nos próximos meses, para que o centro tenha recursos próprios para projetos de pesquisa dentro da nossa agenda de atuação para os próximos cinco anos”, explica.

Rio Jurura, em Caruari, no coração da Floresta Amazônica (Florence Goisnard / AFP)

Funcionamento do Ceas

Os pesquisadores são de unidades como Instituto de Física, Instituto de Biociências, Instituto de Química, Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas, Centro de Energia Nuclear na Agricultura (Cena) da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), da USP em Piracicaba, da Faculdade de Direito, da Faculdade de Saúde Pública, assim como do campus da Cidade Universitária, Quadrilátero Saúde-Direito, Piracicaba, Ribeirão Preto e a Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH).

O Ceas também terá colaborações com instituições estrangeiras. O coordenador diz que é difícil fazer pesquisa de ponta sem fortes parcerias internacionais, e essas parcerias estão sendo estruturadas. Ele citou o Instituto Max Planck, da Alemanha, o CNRS francês, a Universidade de Yale, em Connecticut, a Universidade de Berkeley, na Califórnia, a Michigan State University e Universidade de Lancaster, na Inglaterra, entre os que manifestaram interesse em colaborar nas pesquisas que o centro vai formar.

(*) Com informações da USP