Cheia dos rios no Amazonas já afeta mais de 400 mil pessoas e 25 cidades estão em emergência

Além da cheia, moradores enfrentam a Covid-19 e outras doenças desencadeadas pelo acúmulo de água (Reprodução/Facebook)

15 de maio de 2021

17:05

Gabriel Abreu

MANAUS – De acordo com relatório divulgado neste sábado, 15, pela Defesa Civil Estadual, a cheia dos rios no Amazonas já afeta 408.827 pessoas, sendo que 25 municípios decretaram situação de emergência, 18 em situação de transbordamento, nove em alerta e dois em atenção. Na capital, o nível do rio Negro está em 29,64 metros marcando a quinta maior cheia da história dos últimos 118 anos.

O levantamento é realizado diariamente pela Defesa Civil do Amazonas, por meio do Centro de Monitoramento e Alerta (Cemoa) e pela gerência regional que realiza o acompanhamento diário com os coordenadores municipais. O mês de janeiro foi muito chuvoso na região de Manaus em toda bacia do rio Negro, e as chuvas continuaram volumosas nas bacias dos rios Negro, Branco, Purus e Juruá.

Segundo Renato Cruz Senna, meteorologista do Sistema de Proteção da Amazônia (Sipam), essas bacias contribuem especialmente para a cheia do rio Negro em Manaus. Além disso, está em curso o fenômeno La Niña, que resfria os oceanos e faz com que a zona de formação de nuvens seja empurrada para áreas mais ao norte da região, onde se concentra o fluxo de umidade. “O La Niña está terminando, mas isso não garante que as formações de nuvens se encerrem imediatamente”, afirmou o meteorologista.

Bacia do Solimões e Bacia do Negro influenciam diretamente na cheia em Manaus (Divulgação/CPRM)

Cheia

De acordo com o Serviço Geológico do Brasil (CPRM), o principal motivo da subida extrema dos rios foram as chuvas intensas registradas nos meses de janeiro e fevereiro em toda a bacia amazonense. “O nível do rio hoje é bem próximo ao que foi observado em 2012. Em Manaus, teve uma subida muito extrema entre os meses de janeiro e fevereiro. O grande problema observado foi a chuva no princípio do ano. A partir de março e agora em abril, o rio não está subindo muito rápido. O problema é que subiu muito rápido em janeiro e não começou a descer na mesma velocidade”, explicou a pesquisadora em geociências do CPRM, Luna Gripp.

Estão em Emergência: Guajará, Envira, Eirunepé, Itamarati, Ipixuna, Carauari, Juruá, Pauini, Boca do Acre, Lábrea, Canutama, Tapuá, Borba, Nova Olinda do Norte, Novo Aripuanã, Manacapuru, Careiro da Várzea, Anori, Caapiranga, Anamã, Manaquiri, Tabatinga, Tonantins, Atalaia do Norte e Boa Vista do Ramos.

Anamã

Um dos municípios às margens do rio Solimões, Anamã, distante a 209 quilômetros de Manaus, lida todos os anos com a subida das águas dos rios de forma extrema, tendo em vista que, nas grandes cheias, a cidade toda fica inundada. Conhecida como a Veneza da Amazônia, como a própria placa de boas-vindas diz, a cidade de 13,9 mil habitantes já aprendeu a viver com a subida das águas do rio Solimões, com seus habitantes adaptando-se em tudo que envolve suas rotinas, principalmente no transporte.

As ruas da cidade ficam tomadas principalmente por canoas e botes (Ricardo Oliveira/Revista Cenarium)

Manaus

A previsão do Serviço Geológico do Brasil (CPRM) é que atinja um valor recorde de 30 metros, com um intervalo provável variando entre 29,50 m e 30,50 m. Segundo o modelo utilizado, a probabilidade de que o rio venha atingir a cota de máxima observada em 2012 é de 56%.

Cheia do rio Negro na feira da Manaus moderna, 2021 (Ricardo Oliveira/Revista Cenarium)

No centro da capital, a defesa civil municipal construiu pontes para que a população conseguisse se locomover. Os feirantes que atuam na maior feira da região Norte, Manaus Moderna, terão que se mudar para uma balsa em frente ao rio Negro por conta das águas já invadirem o local.

Quinze bairros de Manaus já estão sofrendo com a enchente de 2021, de acordo com a defesa civil estadual, mais de 19 mil pessoas estão sendo afetadas pela cheia do rio Negro. No próximo dia 31 de maio, o CPRM divulga o último alerta de cheia do rio Negro para 2021.

Impacto

Matéria feita pela TV Cenarium mostra os impactos da cheia em comunidade indígena.

Auxílio cheia

Para minimizar os impactos a famílias atingidas pela enchente dos rios, o governo estadual lançou no dia 6 de maio, o Auxílio Estadual Enchente um benefício no valor de R$ 300, que será concedido para 100 mil famílias, em todo o estado, que tiverem suas moradias invadidas pela cheia dos rios. Desde fevereiro, o Governo do Estado está realizando a Operação Enchente, uma série de ações para minimizar o impacto da subida das águas dos rios.

Segundo o governador do Amazonas, Wilson Lima (PSC), o Auxílio Estadual Enchente será pago em parcela única, por meio de um cartão magnético. “Esse cartão será entregue para aquelas famílias que estão sendo atingidas, neste momento, pela subida dos rios. O cartão será voltado para aqueles municípios que já decretaram Situação de Emergência”, explicou o governador.

O auxílio vai contribuir para movimentar a economia no Estado. “É uma injeção direta na economia em torno de R$ 30 milhões. Com isso, os investimentos do Governo do Estado nessa enchente já chegam a R$ 97 milhões”, disse Lima.

Operação Enchente

Desde fevereiro, o Governo do Amazonas está executando uma série de ações para minimizar os impactos das famílias vítimas da cheia. Por meio da Operação Enchente 2021, o Estado já levou ajuda humanitária, água potável e ações nas áreas social, saúde e fomento, como anistia de dívidas e operações de crédito, aos municípios em Situação de Emergência decretada em razão da cheia.

O Auxílio Estadual Enchente vai injetar R$ 30 milhões na economia. Com isso, os investimentos do Governo do Estado na enchente 2021 somam R$ 97 milhões, uma vez que as demais ações da Operação Enchente têm previsão total de R$ 67 milhões em recursos.

Matéria que mostra os impactos da cheia no Amazonas em destaque no Jornal da Cultura.