Com abril cada vez menos indígena, ‘malocão’ em Manaus vira instrumento de resistência

Populações tradicionais têm sido gravemente afetadas por movimento ruralistas e pela pandemia. (André Coelho/Reuters)

19 de abril de 2021

10:04

Via Brasília

Triste abril indígena

Ambientalistas e políticos ouvidos pela Coluna Via Brasília são unânimes em afirmar: não há o que se comemorar neste abril indígena em relação a políticas públicas voltadas à defesa dos povos indígenas. Um dos que melhor vocalizaram o cenário de ataque a estas populações foi o superintendente da Fundação Amazonas Sustentável (FAS), Virgílio Viana, que implantou a Secretaria de Estado de Desenvolvimento Sustentável do Amazonas no início dos anos 2000.

Viana diz jamais ter presenciado tamanha violência contra os indígenas, com invasões reiteradas de suas terras, protagonizadas por madeireiros, grileiros e garimpeiros. “A narrativa do governo dá licença para que esses agentes sigam sua destruição à luz do dia. Ao menos uma boa notícia surgiu nesse cenário de colapso ambiental, os movimentos indígenas estão se fortalecendo”, afirma Viana.

Parque das Tribos

O fôlego renovado que impulsiona os movimentos indígenas, consequência das ofensivas destes grupos econômicos que avançam sobre a floresta, se materializa, hoje, na inauguração do “Malocão do Parque das Tribos”. Lar em Manaus de 35 etnias, na zona Oeste de Manaus, é considerado o primeiro bairro indígena da capital. Resultado da parceria entre a Fundação Amazonas Sustentável (FAS) e a Embaixada da França, o Malocão consiste numa maloca comunitária para a promoção da cultura indígena, como exposições de trabalhos artesanais, culinária, dança e apresentação de rituais, como forma de impulsionar a geração de renda na comunidade. O espaço também será lugar de reunião de lideranças para discussão de pautas identitárias dos indígenas.

Políticas falhas

Parlamentar com forte atuação no interior do Amazonas, o deputado federal Sidney Leite (PSD-AM) diz que a ausência de políticas públicas para os povos indígenas mais notável é nas áreas da saúde e educação. “Os modelos adotados, hoje, são falhos e não dão conta dessas populações, que apresentam crescimento significativo”, afirma Leite. Para ele, o extrativismo também é insuficiente para garantir, atualmente, a sustentabilidade dos indígenas. “É urgente criar políticas de fomento para geração de renda, mas isso só se faz com decisão e vontade política. Só que, infelizmente, alguns não entendem a importância dessas populações para o nosso país”, arrematou o parlamentar.