Com subida dos igarapés, pesquisador explica procedimentos corretos para resgate de animais silvestres

Preparo evita nervosismo e medo do animal resgatado, segundo o pesquisador do Inpe, Gabriel Masseli (Arquivo Pessoal/Reprodução)

20 de março de 2021

11:03

Bruno Pacheco – Da Revista Cenarium

MANAUS – O período chuvoso na Amazônia tem aumentado o nível de rios e afluentes das cidades e alertado especialistas para acidentes com animais silvestres que vivem nessas regiões. Por conta da temporada de enchentes, a saída de bichos em busca de alimentação e refúgio em meio à subida da água é comum nesta época e é preciso cuidado com os procedimentos corretos na hora do resgate desses seres vivos.

Em entrevista à REVISTA CENARIUM, o pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e mestrando em Ecologia, Gabriel Salles Masseli, explicou que, devido ao período sazonal de maior pluviosidade, os igarapés transbordam e o reino animal que vive no rio, como jacarés, serpentes, peixes e outros, avançam com a água que aumenta conforme a chuva cai. Os seres vivos que ficam nas áreas ripárias (bordas e áreas próximas de igarapés), como jararacas, iraras, aranhas, acabam fugindo da inundação ou em busca de suas presas que partem para as áreas não inundadas.

“Primeiramente, os procedimentos de contenção e/ou manejo de qualquer animal silvestres devem ser realizados somente por pessoas capacitadas e que possuem autorização. Por exemplo: biólogos e/ou veterinários com autorização de órgãos, polícia ambiental, Ipaam (Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas) Semmas (Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Sustentabilidade), dentre outros órgãos ambientais”, salientou Gabriel Masseli, especialista em resgate de animais silvestres.

Gabriel Salles explicou que o resgate desses animais deve ser feito por especialistas e órgãos autorizados (Arquivo Pessoal/Reprodução)

Segundo o pesquisador, o procedimento de contenção em caso de resgate muda conforme o gênero a ser resgatado e as condições que o animal se encontra, variando desde algo mais simples, como conter uma jiboia da espécie Boa constrictor com um gancho e uma caixa de transporte até casos mais complexos que necessitam do auxílio de um veterinário para aplicar medicamentos tranquilizantes com o uso de dardos, por exemplo: uma Suçuarana da espécie Puma concolor em um local urbano.

Salles explica ainda que por conta da variedade na complexidade do atendimento, a instabilidade da ocorrência e a necessidade de conhecimentos sobre história natural e características dos animais, o resgate desses animais não é algo simples e que pode ser feito por qualquer pessoa.

Peçonhentos

No caso de animais peçonhentos, isto é, que contêm veneno – substância capaz de matar –, o primeiro procedimento a ser realizado deve ser o isolamento total, não deixando que pessoas e animais domésticos tenham acesso, além de ligar para a polícia ambiental, o corpo de bombeiro ou o próprio 190. “É importante frisar que em hipótese alguma devem matar não somente as serpentes, mas qualquer animal silvestre, pois isto é crime federal previsto nas leis nº 9.605 E a 5.197”, frisou o pesquisador do Inpa.

Segundo o pesquisador, isolar o animal peçonhento até o agente responsável pelo resgate chegar é fundamental. (Arquivo Pessoal/Reprodução)

Conforme Gabriel Masseli, é de suma importância que fique uma pessoa vigiando o animal de longe para ver se ele se locomove para outro local, com o intuito de avisar o especialista ou agente do órgão competente que vai realizar o resgate. “Em geral, são dois grupos (famílias) de serpentes que são consideradas de interesse médico por serem peçonhentas (possuem glândula de produção de veneno e dentição especializada para inoculação da peçonha), são elas: Família Viperidae (Jararacas, cascavéis e surucucus); Família Elapidae (Corais verdadeiras)”, acentuou.

Entretanto, ressaltou Masseli, existem espécies que se parecem com as serpentes peçonhentas, mas não são, por exemplo, Corallus caninus – cobra papagaio. “Ela não é peçonhenta, mas por ter a cabeça triangular e dentes caninus relativamente grande, confundem com peçonhenta, e muitas que parecem não ser, mas são peçonhentas, como a Micrurus scutiventris – coral verdadeira, é uma coral, mas que possui coloração toda preta, sem anéis e só tem algumas manchas alaranjadas nas escamas ventrais”, explicou.

“O mais importante é não mexer com o animal e chamar algum órgão ambiental, a policia ou o corpo de bombeiros, e em hipótese alguma deve matar os animais, pois estará cometendo crime”, realçou.

GABRIEL Salles Masseli, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa)

Observação

À CENARIUM, o pesquisador do Inpa reforçou que é preciso observar se a agente que fará o resgate tem autorização para realizar o procedimento e, ainda, acompanhar se não está sendo praticado abusos ou agressões contra o animal. “Eu, particularmente, defendo que deveriam existir vagas especiais para biólogos e veterinários, bem como solicitar pelo menos um curso de técnico ambiental para os componentes dos grupamentos em órgãos ambientais, pois vemos erros graves sendo realizados por agentes de alguns órgãos durante resgate de animais, isso devido à falta de conhecimento básico que os cursos de formação não os oferecem.

Preparo evita nervosismo e medo do animal resgatado (Arquivo Pessoal/Reprodução)

Por conta disso, afirma Gabriel, o despreparo fará com que o agente responsável pelo resgate provoque nervosismo e medo ao animal, podendo causar algum ferimento, ou mesmo levar o animal a óbito. Quanto à população, Masseli salienta que as pessoas devem saber que esses os animais não são inimigo do homem. Pelo contrário, são animais ajudam o ser humano, como na fabricação de remédios, por exemplo.

“Se não deixarmos estes animais acuados, eles não irão tentar se defender, causando acidentes. As serpentes elas preferem fugir de oque  picar, pois ela precisa de veneno para se alimentar, somente em último caso ela injeta veneno, ou seja quando está acuada”, finalizou o pesquisador Gabriel Masseli.