‘Cunhãs – Meninas da Amazônia’: grupo arrecada recursos para gravar clipe e participar de festival na Áustria

As jovens precisam gravar o primeiro videoclipe da banda e estão realizando uma vaquinha online para realizar o sonho (Arquivo Pessoal/Reprodução)

06 de maio de 2021

07:05

Bruno Pacheco

MANAUS – As crianças do grupo musical “Cunhãs – Meninas da Amazônia” estão se preparando para se apresentar virtualmente no Festival Cultural do Brasil em Viena, na Áustria, que ocorre entre os meses de junho a novembro deste ano. Para isso, as jovens que vivem na comunidade Gleba Maravilha, zona rural de Porto Velho, precisam gravar o primeiro videoclipe da banda e estão realizando uma vaquinha online para realizar o sonho.

O grupo é composto por sete meninas, entre crianças e adolescentes. Maria, Vitória, Ana, Manú, Isabel, Lara e Yasmin são naturais da Reserva Extrativista do Lago do Capanã Grande, interior do município de Manicoré (a 330 quilômetros de Manaus). Por meio da música, elas buscam transmitir uma mensagem de preservação da floresta e valorização da cultura e dos costumes tradicionais da Amazônia.

A canção ‘Sou Amazônia’ contou com a participação especial de Rick, primo das meninas do grupo ‘Cunhãs’ (Arquivo Pessoal/Reprodução)

Nesta quarta-feira, 5, o produtor cultural da banda, o músico Teimar Martins, falou com a REVISTA CENARIUM sobre o projeto que transformou a vida das meninas, que são primas e irmãs. Segundo Martins, tudo começou com um simples ensaio, sem pretensões profissionais. Ele conheceu as meninas, porque elas são sobrinhas da esposa dele e, durante uma apresentação familiar, Teimar descobriu o talento musical das jovens e as convidou para participar de um grupo musical.

“O projeto surgiu com a descoberta de que uma das meninas cantava. E como eu já tinha observado o modo de vida familiar, principalmente a preservação dos valores e costumes que quase estão se perdendo em nossa região, resolvi juntar a música com essa característica com as quais já trabalhamos aqui há muito tempo em outros projetos: a valorização da nossa cultura amazônica ribeirinha”, destacou.

Após a descoberta, Martins falou com o irmão produtor musical, Tullio Nunes, sobre o projeto de lançar o grupo Cunhãs – Meninas da Amazônia. “Ele agregou com outra ideia que já tinha de unir a inserção de instrumentos percussivos feitos de materiais recicláveis para, justamente, conscientizar as pessoas a não poluírem o meio ambiente, com a música cantada por adolescentes. O objetivo é tudo isso: conscientização ambiental, preservação dos valores, tradições e costumes amazônicos, inclusão social, entre outros”, salientou.

Teimar Martins é produtor cultural da banda (Arquivo Pessoal/Reprodução)

O teste

Teimar conta que quando chegou à comunidade, primeiro fez um teste de aptidão e percepção musical para avaliar as meninas e convidá-las a participarem do grupo musical. As crianças e as famílias aceitaram e logo começaram a ensaiar, aprender música e a tocar instrumentos musicais. “Com o projeto, estou aprendendo música e a tocar violão e teclado”, disse Lara, uma das crianças que faz parte do backing vocal do grupo.

Lara é backing vocal do grupo

Para se apresentarem ao público, após muito estudo, o grupo lançou a primeira música da carreira: a “Sou Amazônia”, que conta ainda com a participação do primo Rick, cantor de Rap. A canção está disponível em todas as plataformas musicais e tem composição do produtor Tullio Nunes, trazendo nas letras o orgulho de ser da região e fazendo relação com a natureza. Para gravação e edição do clipe, as jovens estão realizando uma vaquinha online para arrecadar fundos e concluir o projeto.

Segundo Teimar, um dos primeiros objetivos do projeto já foi conquistado, que foi fazer com que as meninas sentissem orgulho de serem pertencentes da comunidade, de serem amazônidas, ribeirinhas, e assim influenciarem mais pessoas, principalmente, os adolescentes e jovens a não terem vergonha da identidade regional.

“Um outro objetivo é de levar, por meio delas, o olhar do poder público para a comunidade onde vivem atualmente, que carece de infraestrutura (água potável, escola, telefonia, atividades de esporte e lazer), ou seja, para que essas pessoas tenham o mínimo de acesso à qualidade de vida”, contou Martins.

Para Teimar, a Amazônia é um patrimônio cultural imaterial do mundo, além de ser o oxigênio para o planeta. Ele destaca que é preciso cada vez mais fortalecer a cultura do povo local, preservar a natureza, o meio ambiente, para que as próximas gerações continuem usufruindo de tudo das riquezas da região, por isso a escolha das meninas para participarem do projeto.

Amor à região

A comunidade Gleba Maravilha, onde as meninas residem, está localizada do outro lado do rio da capital rondoniense, distante 5,5 quilômetros às margens da BR-319. Na região, moram aproximadamente 100 famílias. Para as meninas, morar no lugar, em meio à natureza, é motivo de orgulho. Em um vídeo enviado à REVISTA CENARIUM, a pequena Isabel explica que ama a comunidade Gleba por conta das riquezas naturais encontradas na região, além de ser um lugar em que ela pode encontrar a família, primos e amigos.

“Eu gosto daqui, porque tem um igarapé, frutas para comer, a minha família e os meus primos. A gente brinca de várias coisas, como a ‘pira se esconde’ [uma brincadeira infantil de se esconder]. Por isso, que eu gosto daqui, pois tem tudo isso”, declarou Isabel.

Isabel afirma que ama viver na comunidade

Maria, a vocalista do grupo, salientou que o projeto a ajudou a ver a cultura da comunidade de uma forma diferente e hoje, afirma, ela sente orgulho de quem é.

“Antes desse projeto, eu tinha vergonha de quem eu era, ribeirinha, do lugar de onde eu vim, da minha origem, da minha cultura, da minha fala. Quando eu ia para a escola, bagunçavam comigo pela maneira que eu sou. Isso me constrangia e eu não assumia quem eu era. Quando esse projeto veio, ele me ajudou a ver as coisas diferentes e hoje tenho orgulho de quem eu sou”, conta Maria.

Maria destacou que o projeto a ajudou a se sentir orgulhosa de ser ribeirinha

Gratificante

A música entrou na vida de Teimar há cerca de 33 anos, quando ele tinha nove anos de idade. Ele afirma que quando ensina música, está repassando o que aprendeu com as oportunidades que a vida artística lhe deu. “Eu acredito que devemos ser a conexão por meio do que temos de melhor para oferecer. No meu caso, o que fiz a vida toda foi tocar. Repassar o que sei é gratificante”, disse.

Atualmente, Teimar participa do grupo “Minhas Raízes”, projeto que também reúne todos esses conceitos e que nasceu na comunidade ribeirinha de Nazaré, baixo Rio Madeira, em Porto Velho. “Desde os 9 anos atuo como músico. Tive a oportunidade e tenho ainda de trabalhar com grandes bandas aqui da minha cidade Porto Velho. É um grande privilégio”, pontuou.

“Valorizar o que temos, o que somos, é uma forma de fortalecer a construção da nossa identidade Cultural, pois o belo é ter essa multiculturalidade brasileira representada por cada região. E a nossa é a Amazônia. Ame o seu lugar, ame a sua cultura. Isso é fundamental. O respeito deve começar pelo nosso próprio valor ao que somos, ao que temos”, finalizou.

Vaquinha online

Para ajudar as meninas a gravarem o primeiro videoclipe da carreira, basta doar qualquer valor em débito para o grupo, por meio da vaquinha virtual que está disponível no link https://vaka.me/2040291. O produtor do clipe será Tullio Nunes, da Produtora Onda, e o coordenador da campanha de arrecadação é Teimar Martins, produtor cultural do grupo Cunhãs.

Grupo fez um vídeo à CENARIUM convidando para ajudar na vaquinha online