De superfaturamentos a escândalos em patrimônio: lembre as experiências dos candidatos que já foram prefeitos de Manaus

Amazonino Mendes e Alfredo Nascimento: 16 anos depois, e uma nova tentativa de retornar ao cargo de prefeito de Manaus (Reprodução/Internet)

21 de setembro de 2020

08:09

Paula Litaiff*

MANAUS – Com o fim do prazo para as convenções partidárias na semana passada [16 de setembro], dois dos 11 nomes escolhidos em atas para candidatos a prefeito de Manaus já ocuparam o cargo e tiveram um histórico turbulento.

O ex-governador Amazonino Mendes (Podemos) desistiu de concorrer à reeleição em 2012, em meio a denúncias de sua gestão; Alfredo Nascimento (PL) largou a cadeira em 2004, para assumir um ministério que lhe gerou uma experiência marcada por escândalos.

Pelo Calendário Eleitoral, o registro oficial dos candidatos deverá ser feito até o dia 26 de setembro no Tribunal Regional Eleitoral (TRE-AM). No dia 15 de novembro, 1,3 milhão de eleitores de Manaus estão aptos a irem às urnas para escolher o novo prefeito e vereadores e, segundo pesquisas eleitorais, mais de 50% ainda não sabem em quem votar.

Além de Amazonino e Alfredo, estão no páreo para administrar Manaus: David Almeida (Avante), Ricardo Nicolau (PSD), José Ricardo (PT), Alberto Neto (Republicanos), Chico Preto (DC), Marcelo Amil (PCdoB), Coronel Menezes (Patriotas), Romero Reis (Novo) e Gilberto Vasconcelos (PSTU).

Desses candidatos, nove ainda não tiveram um mandato majoritário eletivo, já que David foi governador do Amazonas interinamente. O cientista político e advogado, Carlos Santiago, diz que o crescimento de políticos sem mandatos na corrida pelo Executivo Municipal ainda é o reflexo da insatisfação sociopolítica da população que começou entre 2017 e 2018.

Há três anos, iniciou no Brasil a mobilização de movimentos sociais, empresariais, políticos partidários e apartidários que buscavam pela renovação nos poderes Executivo e Legislativo após escândalos conhecidos como “Mensalão” (2006) e “Petrolão” (2014), uma das fases mais complexas da operação Lava Jato, que perdura até hoje.

“O aspecto de experiência (negativa ou não) na gestão pública vai ser ressaltado neste pleito, principalmente por conta da pandemia do novo coronavírus, que acentuou a crise econômica brasileira. A má gestão desses recursos atinge as camadas mais sensíveis da sociedade, resultando no desemprego e diminuição da renda das pessoas”, explicou Santiago.

O cientista avalia que Amazonino Mendes e Alfredo Nascimento – este último com maior rejeição do eleitorado, de acordo com as últimas pesquisas – serão os que mais devem enfrentar situações radicais em suas campanhas eleitorais, cujo prazo começa no próximo dia 27 de setembro.

“Todos que passaram pela gestão pública, seja na esfera municipal ou estadual, têm sua parcela de culpa pelo atual cenário urbano. Isso pode ser observado na cobertura de atendimento da saúde básica, mobilidade urbana e saneamento básico”, defende Santiago.

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Expectativa x realidade

Carlos Santigo pondera ainda que as “heranças malditas” de obras não concluídas e das consequências delas na capital amazonense não anulam as realizações de antigos gestores. O que, de acordo com ele, isso também pode ser evocado como força na disputa pelos votos.

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“Eles vão se vender nas realizações de ajuda a famílias carentes que, para eles, foram impactadas pelas ações que deram certo. Obras e programas serão lembrados. É claro que o que não foi feito, também vai ser muito cobrado, principalmente pelo adversário”, concluiu o analista.

Caso Emparsanco

Amazonino Mendes é o candidato a prefeito de Manaus que mais ficou no cargo [três vezes], sendo, também, o último a deixar a cadeira em 2013. No ano seguinte, o ex-governador sequer buscou concorrer à reeleição, após analisar o cenário eleitoral da época que lhe colocava em terceiro nas pesquisas, isto é, sem possibilidade de ir para o segundo turno e ainda era considerado o candidato com maior rejeição.

A resistência da população ao nome de Amazonino devia-se, principalmente, às suspeitas de superfaturamentos em obras e serviços, entre eles o mais escandaloso caso que envolveu a empreiteira Emparsanco S/A.

Executivos da construtora foram acusados de embolsar R$ 87 milhões da Secretaria Municipal de Infraestrutura (Seminf) em 2010 para tapar buracos, mas nunca conseguiram provar a execução das obras. O caso foi arquivado pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE), mas depois desarquivado e ainda está sob investigação.

Patrimônio milionário

Alfredo Nascimento deixou o mandato na Prefeitura de Manaus, antes do prazo estipulado, em março de 2004, para assumir o Ministério dos Transportes, no governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), onde ficou até julho de 2011. Ele pediu exoneração, após ser acusado de autorizar pagamentos para obras superfaturadas e a imprensa nacional associar as suspeitas ao aumento patrimonial de seu filho, Gustavo Pereira.

O Ministério Público Federal (MPF) passou a investigar denúncias de enriquecimento ilícito do filho de Alfredo em 2011, quando Gustavo tinha 27 anos. A empresa do filho de Alfredo, que era arquiteto, a Forma Construções conseguiu aumentar seu patrimônio em mais de R$ 50 milhões, dois anos depois de ser fundada, representando um salto de 86.500%.

A Revista Veja e o Jornal O Globo chegaram a publicar documentos, os quais atribuíam repasses milionários do Ministério dos Transportes, durante a gestão de Alfredo, para empresas ligadas à Forma Construções.

Tanto Alfredo Nascimento como Amazonino Mendes negam as denúncias em entrevistas a jornalistas. Os casos seguem sem resolução.

(*) Colaborou a jornalista Carolina Givoni