Defensoria pública afirma que situação dos Yanomami no AM é ‘delicada’

Indígenas Yanomami no território amazonense. (Divulgação/ DPE)

25 de fevereiro de 2023

14:02

Gabriel Abreu – Da Agência Amazônia

MANAUS – A Defensoria Pública do Amazonas (DPE-AM) divulgou um diagnóstico parcial da situação de vulnerabilidade de indígenas Yanomami que vivem em comunidades isoladas nos municípios de Barcelos, Santa Isabel do Rio Negro e São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas. Em duas comunidades visitadas se constatou alta incidência de malária por P. falciparum (a forma mais grave), casos de desnutrição, além da falta de estrutura das unidades de saúde.

As visitas no Amazonas foram coordenadas pela defensora pública Isabela Sales, entre os dias 13 e 14 de fevereiro, nas aldeias Waharo e Pahana, situadas ao longo do Rio Padauari, no município de Barcelos, próximo à fronteira com a Venezuela, distante a 401 quilômetros de Manaus. Isabela Sales explica que a situação é delicada.

“Nós temos acompanhado a situação para assegurar que as comunidades do lado amazonense do território Yanomami também sejam contempladas com ações emergenciais, porque a situação é bastante delicada, devido à falta de assistência. Se agirmos rápido, será possível evitar um desastre maior”, afirmou Sales.

O acesso às comunidades Yanomami foi por via aérea (Divulgação/DPE)

A situação dos Yanomami no Amazonas é diferente dos indígenas de Roraima. Lá, o avanço do garimpo ilegal no território indígena provocou uma crise humanitária, sanitária e de saúde. Mais de 20 mil garimpeiros invadiram a região e chegaram a regiões antes intocadas, como Auaris, quase na fronteira com a Venezuela.

Além das ações de emergência em saúde, o Governo Lula deu início à “Operação Libertação“, para combater o garimpo ilegal no território Yanomami. A operação está prevista para durar de seis meses a um ano.

Posto de atendimento dos indígenas Yanomami, no Amazonas. (Divulgação)

Saúde Yanomami

Os relatos da defensora durante as visitas mostram que apesar das comunidades possuírem postos médicos, a situação é de abandono e precariedade: faltam medicamentos simples, como dipirona, e os usados no combate a verminoses; não há energia elétrica nem tratamento de água; falta espaço adequado para internação de pacientes, dentre outros problemas estruturais.

Durante a visita, verificou-se ainda a alta incidência de indígenas com malária e crianças com distensão abdominal, provavelmente causada por verminoses.

“Até o freezer onde as vacinas ficam acondicionadas está quebrado. Ou seja, não tem como armazenar esse tipo de insumo por muito tempo e as equipes de saúde acabam ficando sem uma estrutura mínima para atender os que ficam doentes”, disse.

A defensora explicou ainda que, para chegar às comunidades, as equipes de saúde são transportadas por aeronaves de pequeno porte, já que o acesso é difícil até mesmo pelo rio.

“A preocupação com essas comunidades tem aumentado, tendo em vista a crise humanitária vivenciada no Território Indígena Yanomami, em Roraima. E aqui, no lado amazonense do TIY, a situação também é agravante devido à desestruturação do sistema de saúde para esses povos. E como os Yanomami são considerados indígenas de recente contato, o atendimento se torna ainda mais complexo”, salientou.

Estrutura do posto de saúde no território indígena Yanomami no Amazonas (Divulgação/DPE)

Medidas emergenciais

No início de fevereiro, a Defensoria solicitou ao Centro de Operações de Emergência (COE-Yanomami) a inclusão das aldeias Yanomami localizadas no Amazonas nas ações de atenção em saúde que vêm sendo realizadas em caráter emergencial pelo governo federal. Embora os trabalhos estejam concentrados prioritariamente em Roraima, a União já sinalizou positivamente para realizar a reforma das unidades de saúde que estão mais precárias no território amazonense.

“Nós entendemos que algumas localidades do Amazonas devem ser incluídas nessas ações porque o que temos visto aqui no Alto Rio Negro não é diferente do que se tem visto em Roraima. E com isso, estamos buscamos qualificar essas informações e trabalhando para evitar uma tragédia maior”, afirmou a defensora pública Isabela Sales. 

Plano de Emergência

Na quinta-feira, 23, a Defensoria Pública participou de uma reunião com a Fundação Estadual do Índio (FEI), Fundação de Vigilância em Saúde (FVS) e outras instituições, onde apresentou a situação encontrada em Waharo e Pahana. A partir disso, um plano de emergência no âmbito estadual também será estruturado a fim de levar assistência em saúde às comunidades mais afetadas, principalmente para controle de doenças como malária, tuberculose e outras doenças evitáveis.

Em entrevista ao programa Cenarium Entrevista, da TV Cenarium Amazônia, a defensora pública falou sobre a situação dos Yanomami do Amazonas. A entrevista na íntegra pode ser assistida abaixo.

(Reprodução/YouTube)