Desmatamento: Cerrado e Amazônia perderam área do tamanho de seis cidades de São Paulo entre janeiro e julho

Os números levam em conta o monitoramento feito pelo Sistema Deter do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) (Thiago Alencar/CENARIUM)

06 de agosto de 2022

15:08

Iury Lima – Agência Amazônia

VILHENA (RO) – Tão devastadora quanto as taxas de desmatamento na Amazônia tem sido a destruição do Cerrado, na região central do Brasil. Juntos, os dois perderam, desde janeiro, 9.554km² de vegetação, área equivalente a mais de seis vezes o território da cidade de São Paulo. 

Nesse ritmo de degradação, em apenas sete meses, as altas foram de 28% para o Cerrado e de 7% para a Amazônia, comparado ao mesmo período do ano passado. O resultado foi o registro dos piores valores registrados para os dois ecossistemas, desde 2018, no caso do Cerrado, e 2016, na Floresta Amazônica.

Os números levam em conta o monitoramento feito pelo Sistema Deter do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

O Cerrado e a Amazônia fecharam com recordes negativos, também, no monitoramento anual do Deter, do Inpe (Reuters/Reprodução)

Cerrado

A ferida aberta no Cerrado, resultado da devastação ocorrida entre 1° de janeiro e 29 de julho deste ano, é 12 vezes maior que a capital de Minas Gerais, Belo Horizonte: um rastro de destruição de 4.091km² no bioma formado por savana e florestas estacionais.

O estrago é quase 30% maior, neste ano, e 50% mais elevado que o registrado em 2020, segundo o Inpe. Naquela época, foram explorados, ilegalmente, e para diversos fins, 2.726km².

Cerrado perdeu 12 cidades de Belo Horizonte nos primeiros sete meses do ano (WWF-Brasil/Reprodução)

Além da análise dos primeiros sete meses de 2022, o Sistema Deter revelou o quanto foram terríveis os últimos 12 meses na região. Chamado de “ano Deter”, o período compila os níveis de desmatamento sempre de agosto de um ano a julho do ano seguinte. Só de 2021 para cá foram 5.426km² devastados no Cerrado; o pior índice desde que o sistema foi lançado, e o mais agressivo dos últimos três anos. 

O aumento foi de 11,5%, em relação ao ano passado, e de 38,3% em comparação ao “ano Deter” encerrado em 2020. 

Amazônia

Já na Floresta Amazônica, onde o desmatamento fechou o primeiro semestre com o pior nível, desde 2008, a área sob alerta chegou a 5.463km², até o fim do mês de julho, portanto, um aumento de 7,1% em relação aos primeiros sete meses de 2021.

Leia também: Desmatamento na Amazônia: primeiro semestre foi o mais severo em 15 anos, aponta Imazon

A amazônia perdeu mais de 8 mil km² entre 2021 e 2022, aponta Inpe (Victor Moriyama/Greenpeace)

No calendário anual do Deter, o recorde de destruição é ainda maior: 8.579km², sendo que a liderança, entre os Estados da Amazônia Legal, ficou com o Pará e o Amazonas que, juntos, foram responsáveis por 62,5% da destruição. 

Preocupação

Os indicadores, especialmente, aqueles atribuídos à Amazônia, causam enorme preocupação ao WWF-Brasil, organização não governamental que atua no Brasil há 25 anos, no combate à degradação socioambiental.

“A Amazônia é patrimônio de todos os brasileiros: é ela que garante as chuvas que regam 90% das lavouras, abastecem os reservatórios de água potável e os que geram hidroeletricidade no Brasil e em outros países da América do Sul”, afirma o diretor de Conservação e Restauração do WWF-Brasil.

O diretor de Conservação e Restauração do WWF-Brasil, Edegar de Oliveira (Reprodução)

O ambientalista lembra que o bioma já está sob pressão do aquecimento global e, perigosamente, perto do ponto a partir do qual ele entra em processo de degradação sem volta. “Quando isso acontecer, todo o País ficará mais seco e mais exposto às crises hídrica, energética e até alimentar, com inflação de alimentos, como já começamos a ver”, alertou.

“Cada hectare desmatado nos coloca mais perto desse cenário e é por isso que não podemos admitir que números como estes, que o Deter acaba de divulgar, se repitam”, concluiu o diretor de conservação e restauração.

Leia também: Desmatamento, agronegócio e o avanço de mineradoras aumentam risco de genocídio da etnia Piripkura