Desmatamento na Amazônia Legal registra aumento histórico de 69% no primeiro trimestre deste ano

Caminhão trafega em área desmatada da Floresta Amazônica, no Estado do Amazonas (Bruno Kelly/REUTERS)

16 de maio de 2022

20:05

Fábio Leite – Da Cenarium

MANAUS – Um aumento histórico no desmatamento da Floresta Amazônica foi registrado no mês de abril deste ano. Uma área de 1.954 km² foi desmatada na região da Amazônia, nos quatro primeiros meses de 2022, de acordo com o sistema de alerta do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Esse número é 69% maior em comparação ao mesmo período de 2021, quando a marca era de 1.153 km².

Um dos Estados da Amazônia que tem maior índice de desmatamento é o Amazonas, com 29%. Entre as ações do governo federal para frear o desmatamento na região está a Operação Guardiões do Bioma e ações da Polícia Federal junto ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMbio). Para o ambientalista Carlos Durigan, as ações de contenção dos órgãos ambientais e do governo federal não estão surtindo efeitos.

“Pelo que estamos vendo dos dados de desmatamento divulgados tanto pelo Inpe quanto pelo Imazon [Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia], o desmatamento, em abril, bateu novo recorde histórico, isso significa que as políticas públicas voltadas ao desenvolvimento regional sustentável e, ao mesmo tempo, as ações para conter crimes ambientais não têm funcionado”, destacou o especialista.

Na Amazônia Legal, o Mato Grosso foi o Estado que mais sofreu com área desmatada na Floresta Amazônica, no mês de abril, com 31%. Seguido pelo Amazonas e, posteriormente, pelo Pará, com 20%. Os dados são do Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD), do Imazon. Houve aumento também, no registro de alerta, em uma área de 1.012 km² da Amazônia, um avanço de 75% em comparação ao mesmo mês do ano passado, que foi de 580 km².

“Ainda não se tem um estudo mais a fundo sobre as peculiaridades de cada caso, por Estado, o que se sabe, no geral, é que o aumento do desmatamento tem relação direta à ocupação ilegal de terras públicas, e a falta de implementação do CAR (Cadastro Ambiental Rural) e do Código Florestal, na sua plenitude, também contribui, e ao não se monitorar a cobertura das reservas legais, em propriedades privadas, agrava ainda mais a situação, pois também há aumento de desmatamento nestas áreas”, explica o ambientalista.

O aumento no desmatamento tem “relação direta com a atual gestão [governo federal], que optou por desestruturar as instituições responsáveis pelo monitoramento, proteção e políticas públicas”, afirma Durigan que, em seguida, frisa sobre ações para conter a destruição da floresta. “Acredito que para este processo ser contido é necessário o restabelecimento do PPCDAM [Programa de Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia] e, ainda, uma política mais firme de implementação do que é preconizado pelo Código Florestal Nacional.

Preocupação

O especialista vê com preocupação, na ótica do aumento do desmatamento, os constantes ataques que a Zona Franca de Manaus (ZFM) vem sofrendo com os seguidos decretos federais que tiravam a competitividade do modelo econômico de desenvolvimento da economia amazonense. Por ora, os decretos não têm efeitos, após o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, suspender de forma liminar.

“A ruptura deste modelo, de forma abrupta e não planejada, pode gerar, sim, uma pressão ainda maior sobre as paisagens naturais da Amazônia, uma vez que na falta de perspectivas, parte da população pode acabar por engajar-se em atividades econômicas degradantes e mesmo ilegais. Esta é uma tendência que já pode ser observada na região, já que passamos por um período de crise econômica forte, e sem a ZFM este cenário que vivemos, atualmente, se agravaria ainda mais”, finalizou Carlos Durigan.

Acre registra aumento

O Acre perdeu uma área equivalente a 10% maior do que havia sido desmatado no mesmo período do ano passado. Em abril de 2021, a área afetada pelo desmatamento no Estado era de 10 km², em abril deste ano passou a ser de 11 km². Os dados são do Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD) do Imazon.