Diretor de proteção ambiental do Ibama é exonerado após colaborar com reportagem investigativa

O ex-diretor de proteção ambiental do Ibama, Samuel Vieira de Souza, em entrevista ao Programa "A Voz do Brasil". (Valter Campanato/ Agência Brasil)

18 de agosto de 2022

13:08

Marcela Leiros – Da Agência Amazônia

BRASÍLIA – O ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, determinou a exoneração do diretor de Proteção Ambiental do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), o militar Samuel Vieira de Souza. A decisão acontece menos de uma semana após reportagem do Grupo Globo sobre uma megaoperação do instituto que identificou pistas clandestinas na Terra Indígena (TI) Yanomami, em Roraima, ser veiculada. O agora ex-diretor colaborou com o material.

A decisão foi publicada no Diário Oficial da União (DOU) desta quinta-feira, 18. Ainda não foi anunciado quem comandará o setor.

“O ministro de Estado chefe da Casa Civil da Presidência da República, no uso de suas atribuições e tendo em vista o disposto no art. 4º do Decreto nº 9.794, de 14 de maio de 2019, resolve exonerar Samuel Vieira de Souza do cargo de diretor de Proteção Ambiental do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – Ibama”, consta no documento.

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Trecho do Diário Oficial da União com a exoneração. (Reprodução)

A reportagem foi veiculada no domingo, 14, e mostrou a operação realizada no final de julho pelas Forças Armadas, Polícia Federal (PF), Ibama, Força Nacional, agências reguladoras, todos coordenados pela Ministério da Justiça. Samuel Vieira de Souza participou in loco da ação, e contribuiu com a reportagem.

Samuel Vieira de Souza na reportagem. (Reprodução/ Fantástico)

O instituto mapeou 277 pistas clandestinas, utilizadas por garimpeiros, no interior e entorno do território indígena. Pelo menos nove delas estavam a menos de 40 quilômetros de um dos três pelotões especiais de fronteira do Exército existe na região. Estimativas apontam que mais de 20 mil garimpeiros ilegais atuam na área.

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A reportagem mostrou, também, a partir de dados de monitoramento de voos do garimpo, um tráfego intenso de aeronaves do crime, da região de Boa Vista para a Terra Indígena, e dali para a Venezuela. No ano passado, a Polícia Federal apreendeu 86 aeronaves utilizadas para a atividade legal.

Terra Indígena Yanomami

O território, considerado a maior reserva indígena do Brasil, é onde vivem mais de 28 mil Yanomamis. Tem cerca de 10 milhões de hectares distribuídos no Amazonas e em Roraima, com 371 comunidades de difícil acesso.

O relatório “Yanomami sob ataque”, divulgado pela Hutukara Associação Yanomami, apontou que, em 2021, a degradação causada pelo garimpo chegou a marcar 3.272 hectares, frente aos 2.234 hectares de 2020, 1.038 hectares a mais em um ano. A associação é quem estima que, atualmente, há 20 mil garimpeiros explorando ilegalmente a região.