Documentário ‘Libelu’ chega ao circuito cinematográfico com Palocci, Reinaldo Azevedo e Cadão Volpato em 1976

Registro de militares cercando estudante nos 'anos de chumbo' é a capa do documentário de Diógenes Muniz.(Reprodução/Divulgação)

31 de março de 2021

17:03

Mencius Melo

MANAUS – Estreia no dia 13 de maio no circuito nacional de cinema, o documentário “Libelu – Abaixo a Ditadura”, do diretor Diógenes Muniz. O filme é vencedor do Festival ‘É Tudo Verdade 2020’ e estará em exibição também nas plataformas de vídeo on Demand (VoD) do NOW, Vivo Play, Oi Play, Google Play, Itunes e Apple TV no dia 27 de maio. A primeira exibição no Canal Brasil está agendada para 20 de julho.

Em meio a uma semana tensa em Brasília, com movimentações de militares e incentivos de motins nas corporações, “Libelu – Abaixo a Ditadura” traz a geração de 1970. Jovens trotskistas da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (USP), que fundaram a organização Liberdade e Luta – Libelu. A entidade marcou a reorganização do Movimento Estudantil contra o regime militar de 1964.

Uma das assembleias da Libelu, na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU), no campus da USP (Reprodução/Acervo)

Mesmo com a última organização da luta armada, que ousou enfrentar o regime, dizimada em 1974, o clima no País ainda era de intensa perseguição aos opositores. É nesse cenário que jovens como Antonio Palocci, hoje ex-ministro, Reinaldo Azevedo, atualmente jornalista da Band News, Cadão Volpato, músico e produtor, e José Arbex Jr., também jornalista, surgem como revolucionários.

‘Esquerda mais arejada’

“A partir da metade dos anos 1970, quando a luta armada já havia sido dizimada e ainda não havia greves operárias no ABC, o movimento estudantil começou a se rearticular. Uma onda de passeatas saiu dos campi para as ruas e desafiou o regime. Isso culminou com o surgimento de uma esquerda mais arejada culturalmente, menos sisuda em termos de comportamento. É sobre essa geração que o filme fala”, adiantou Diógenes Muniz.

Entre as características da Libelu, criada em 1976, estavam as origens internacionalistas da organização, inspirada nos ideais socialistas de Leon Trotsky. Além de lutar pela queda do regime, a Libelu era conhecida por sua veia cultural, onde o rock era consumido sem qualquer barreira nacionalista. Para completar, as festas da organização eram as mais badaladas, prática logo taxada de “esquerda festiva”, pelas alas mais sisudas da esquerda.

O diretor Diógenes Muniz conta como surgiu a ideia de resgatar a história. “A primeira vez que cruzei com o tema foi em um poema do Leminski dedicado à ‘Liberdade e Luta’. Ele diz assim: ‘me enterrem com os trotskistas / na cova comum dos idealistas / onde jazem aqueles / que o poder não corrompeu’. Fiquei curioso com essas figuras tidas antes como incorruptíveis e idealistas pelo poeta”, recordou.

A partir das lutas da Libelu em 1976, o Movimento Estudantil (ME) se reorganizou para enfrentar a repressão do regime militar (Reprodução/Memorial da Democracia)

Dois resgates

Muniz adianta ainda que traçou dois objetivos que iriam permear o documentário. “Percebi então que para contar essa história eu precisava fazer dois resgates: o histórico, com reconstrução de fatos políticos daquele período, e também o íntimo, sobre o que a vida adulta reservou para aqueles jovens revolucionários?”, questionou.

 
Produtora-executiva Boulevard Filmes, Letícia Friedrich diz que a obra dialoga com a atualidade política e cultural do País. “Apesar de ser um resgate de um evento que se encerrou entre os anos 1970 e 1980, o filme dialoga de maneira forte com o País hoje”, contextualizou. O documentário é uma produção e distribuição da Boulevard Filmes em coprodução com Canal Brasil, Globo Filmes e Globo News.

Edição: Carolina Givoni