Em debate cheio de preconceitos, deputado chama colega de ‘gatinho’, que rebate: ‘não sou sua nega’

Deputados Wilker Barreto e Sinésio Campos: discussão sem interesse coletivo (Aleam)

11 de março de 2021

20:03

Paula Litaiff – Da Revista Cenarium

MANAUS – O que era para ser uma discussão sobre fiscalização do Poder Executivo nas esferas estadual e federal descambou para um debate bizarro, cheio de termos preconceituosos, na Assembleia Legislativa do Amazonas (Aleam), entre o oposicionista Wilker Barreto (Podemos) e o colega de Parlamento Sinésio Campos (PT) nesta quinta-feira, 11.

Em seu discurso, Sinésio repercutiu o pronunciamento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que teve os direitos políticos devolvidos na segunda-feira, 8, e criticou o presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), na gestão da pandemia.

“A imunização (contra a Covid-19) deve ser a “arma de dar vida para a população. O que o governo do Bolsonaro vem fazendo é resistir à vacinação em massa”, declarou Campos. 

Na tentativa de tentar desconstruir o discurso do deputado do Partido dos Trabalhadores, Wilker Barreto, cuja filiação partidária integra a base de Bolsonaro no Congresso, usou termos figurados, em tom pejorativo, para atacar o colega.

“Deputado Sinésio, Vossa Excelência contra o governo federal é um leão; contra o governo estadual é um gatinho”, afirmou Barreto em aparente semblante de deboche.

Ao retrucar o parlamentar oposicionista ao Governo do Amazonas, Sinésio buscou a autoafirmação de seu gênero para responder. “Gatinho, não! Sou muito macho!”, respondeu ao proferir a voz em alto som.

Misoginia e racismo

Para piorar o discurso fora do comum para um Parlamento, Sinésio cita a palavra “nega” – que, também, é usada como sinônimo de negra, no feminino – e disse a Wilker Barreto que ele deveria usar a frase irônica com as “negas dele”, referindo-se às mulheres com as quais o deputado do Podemos tivesse “intimidade”.

“Se Vossa Excelência gosta de chamar de ‘gatinho’, chame de gatinho as suas ‘negas’, as suas panterinhas, correto? Me trate aqui como deputado!”, declarou Sinésio, e continuou. “Aqui comigo o buraco é mais embaixo!”, insinuando que buscava “respeito” do colega no Parlamento.

Viés de gênero

Insistindo em um diálogo que não condiz com as demandas sociopolíticas do Estado e/ou País, Sinésio Campos tentou irritar Wilker Barreto, colocando “sob suspeita” a masculinidade do colega.  

“Não chamo que Vossa Excelência é uma leoa, tá certo? (sic) Dizer que um é leão e outro é gatinho?”, afirmou Sinésio, em um discurso com transmissão na internet.  

Deixa o ‘nega’

O debate sem objetivo entre os deputados do Amazonas só chegou ao fim após o presidente da Aleam, Roberto Cidade (PV), intervir e pedir ao responsável pelo registro de ata, que retirasse alguns termos dos registros da sessão plenária.

Roberto Cidade, presidente da Aleam, manteve nos anais da Casa o termo pejorativo à mulher negra (Aleam)

“Peço que retirem dos anais da Casa (Assembleia Legislativa do Amazonas), a palavra ‘gatinho’ e ‘leoa”, declarou Roberto Cidade, deixando de se referir ao discurso de Sinésio Campos, no qual ele cita o termo “nega” em tom ofensivo.

A pandemia

Nesta semana, o Brasil ultrapassou os Estados Unidos (EUA) em número de mortes diárias de pacientes com Covid-19. Na última terça-feira, 9, foram registrados 1.947 óbitos nos EUA contra 2.349, no País.  

Com a nova média de morte por dia, o total de vidas ceifadas pelo novo coronavírus atinge 270.917 no País.

São Paulo é o Estado com mais mortes (62.570) e casos confirmados (2.149.561) de Covid-19. Minas Gerais é o segundo Estado com mais casos (938.811) e o Rio de Janeiro é o segundo com mais óbitos (33.893).

Uma série de equívocos cometidos pelo governo federal e em níveis estadual e municipal atravancou a imunização contra a Covid-19 em todo Brasil, conforme matéria do jornal O Globo.