30 de março de 2022

20:03

Malu Dacio – Da Revista Cenarium

MANAUS – A chuva não escondeu o brilho e a luz da programação especial em comemoração ao aniversário de nascimento de 96 anos do poeta Thiago de Mello, que aconteceu na tarde desta quarta-feira, 30, no Museu da Cidade de Manaus. No evento, foi anunciado que o próximo edital da Manauscult receberá o nome de Thiago de Mello.

Thiago era um dos maiores poetas vivos no Brasil e nos deixou no dia 14 de janeiro deste ano. A programação foi organizada pela Prefeitura de Manaus, por meio do Conselho Municipal de Cultura (Concultura) e Fundação Municipal de Cultura, Turismo e Eventos (Manauscult).

O diretor-presidente da Manauscult, Alonso Oliveira, utilizou o evento para fazer o convite à família do poeta, representada na ocasião pela filha Isabella Thiago de Mello, que aceitou o pedido com muita alegria.

“Nós gostaríamos de fazer um pedido de licença. A Manauscult pretende anunciar um edital e ter esse edital recebendo o nome desse nosso grande poeta, Thiago de Mello. Gostaríamos de homenagear mais uma vez e esse momento aqui serve para pedir a autorização, sua e da família”, pediu o titular da entidade.

“Mas só se for agora”, respondeu a filha de Thiago de Mello ao responsável da pasta, Alonso Oliveira. A notícia foi recebida com alegria e aplausos dos presentes. O responsável da pasta respondeu que a área jurídica tomará as medidas cabíveis para a formalização do edital.

“É um edital que vai contemplar os 8 segmentos da Cultura. Dentre eles, a Literatura. Todos os artistas poderão ser beneficiados, como ele sempre quis”, completou Oliveira.

Homenagens

O presidente do Concultura, Tenório Telles, emocionou a todos ao lembrar da amizade que perdurou por mais de 40 anos com Thiago de Mello. “A poesia nos ajuda a viver. A ressignificar nossas vidas e a ter esperança”, disse.

Tenório também recitou famosos poemas de Mello. “Em 1951, ele já dizia que ‘somente sou quando em versos. Meu pensamento perfura muros de nada a procura do que não fui, nem serei. Eu sigo em forma de palavra”, parafraseou Telles.

“Sigo em forma de palavra. Toda trajetória desse poeta foi feita de palavras. Feita a palavra, sua arma, seu canto e o sentido da existência. Nós precisamos das palavras para viver. Palavras que nos acolhem, alegram, iluminam e nos ajudam a seguir. Palavras que nos dizem do amor”, salientou.

Para Tenório, a vida e a poesia de Thiago de Mello se ligam e se conectam com a história da nossa terra e do nosso País. É possível ler na sua obra aspectos fundamentais da história recente do Brasil e da América Latina.

“Sua lírica tem profundas relações com os anseios, sonhos e esperanças da nossa gente. Pelo seu conteúdo de humanidade e sensibilidade poética, sua obra se reveste de uma densidade e força humana e política das mais representativas da literatura brasileira”, disse.

Família e memórias

Cineasta e filha do poeta, Isabella Thiago de Mello agradeceu as homenagens e a dedicação à perpetuação das memórias de seu pai. Ela frisou o trabalho que tem feito, desde que seu pai estava em vida, para beneficiar o Amazonas com a história de Thiago de Mello.

“É resultado de uma vida inteira, de entrega à literatura, aos direitos humanos e à integração cultural da América Latina. Para nós aqui, amazônidas, a sua obra, o seu estudo pela floresta em pé e as questões indígenas às quais ele se dedicava tanto, na luta pela preservação da floresta em pé é um resultado”, disse.

“São tantas questões que envolvem a nossa cultura, a nossa economia, as nossas riquezas, por isso ele é vivo e será para sempre vivo, porque o homem vai, mas a obra fica”, completou.

Isabella lembrou o histórico de seu pai, natural do município de Barreirinha e disse que apesar da formação em medicina, as palavras eram a missão de seu pai.

Ela também comentou o projeto de tombamento das casas que pertenceram a seu pai. “Nós estamos preservando essas casas e ao fazer isto, preservamos a história de todos nós. Assim como a Bahia preserva a casa de Jorge Amado, como Minas Gerais preserva a casa de Guimarães Rosa, como a Colômbia preserva a casa de Gabriel García Márquez”, exemplificou Isabella.

A filha do poeta lembrou também que as casas são as únicas arquitetadas pelo renomado Lúcio Costa, no Amazonas. “Tem raízes profundas com a Amazônia e com a floresta. Peço ajuda, uma formação de opinião de cada amazônida, para preservar essas casas porque serão celeiros na capital e no interior”, disse.