Em Manaus, servidores da Funai aderem ao ato nacional por melhorias e justiça no caso Dom e Bruno

Servidores da Fundação Nacional do Índio (Funai) buscam melhorias trabalhistas e justiça por Dom Phillips e Bruno Pereira (Bruno Pacheco/Cenarium)

22 de junho de 2022

14:06

Bruno Pacheco – Da Agência Amazônia

MANAUS — Em Manaus, servidores da Fundação Nacional do Índio (Funai) que atuam no Amazonas aderem, nesta quinta-feira, 23, ao ato nacional do órgão que pede por melhorias nas condições de trabalho e justiça no caso do jornalista britânico Dominic Mark Phillips, mais conhecido como “Dom Phillips”, e do indigenista Bruno da Cunha Araújo Pereira, assassinados em 5 de junho deste ano, na região do Vale do Javari, no interior do Estado, após serem ameaçados em campo.

Manifestação está prevista para essa quinta-feira, 23, em frente à sede da Funai, em Manaus (Bruno Pacheco/Cenarium)

Nessa terça-feira, 21, o Sindicato dos Servidores Públicos Federais no Amazonas (Sindsep-AM) comunicou que uma greve de 24 horas foi aprovada por 19 votos a favor, três votos contra e duas abstenções. A mobilização acontece a partir das 9h dessa quinta-feira, 23, em frente à sede do órgão em Manaus, na Avenida Maceió, bairro Adrianópolis, na zona Centro-Sul. À REVISTA CENARIUM, funcionários da Funai informaram que os serviços essenciais da instituição não serão afetados e os atendimentos presenciais ocorrem normalmente.

Além disso, o ato pede a demissão do atual presidente da Funai, o delegado da Polícia Federal (PF) Marcelo Xavier, que está no comando do órgão desde julho de 2019, sob o apoio da bancada ruralista no Congresso Nacional, mas que vem se envolvendo em polêmicas com os indígenas do País. A manifestação também busca a recomposição salarial de 19,99% ao funcionalismo público federal.

A previsão é que a mobilização ocorra em todas as unidades da Funai nas 26 capitais do Brasil e no Distrito Federal, com uma vigília nas unidades para cobrar a responsabilização de crimes contra as vozes que lutam pela Amazônia e pelos direitos dos povos originários. A categoria pede, ainda, uma audiência com o Ministério da Justiça e Segurança Pública.

Funai em greve

A greve nacional foi decidida na sexta-feira, 17, em Plenária Nacional Extraordinária promovida pela Confederação dos Trabalhadores no Serviço Público Federal (Condsf/Fenadsef), a Associação Nacional dos Servidores da Funai (Ansef) e os Indigenistas Associados (INA). Em uma nota, os servidores clamam que nenhuma gota de sangue a mais seja derramada, referindo-se aos ataques contra o jornalista Dom Phillips e o indigenista Bruno Pereira.

“Lutamos para que as investigações cheguem até a ampla cadeia de crime organizado, instalada no Vale do Javari e para que nunca mais tenhamos que passar por situação semelhante, o que requer a imediata proteção dos nossos colegas indigenistas, dos Povos Indígenas e de suas lideranças, organizações e territórios”, destacam os servidores, na carta.

“Para isso, precisamos dar um basta na atual gestão anti-indígena instalada na Fundação Nacional do Índio e reunir nossas forças para estruturar mínimas condições de trabalho e segurança para a execução da nossa missão institucional de promover e proteger os direitos dos Povos Indígenas”, continuam os servidores, no documento.

Dom e Bruno

O jornalista Dom Phillips e o indigenista Bruno Pereira foram vistos pela última vez em 5 de junho deste ano quando seguiam trajeto da Comunidade São Rafael ao município de Atalaia do Norte, na região do Vale do Javari, no Amazonas. Somente em 15 de junho que remanescentes humanos das vítimas foram localizados pelas equipes e buscas da Polícia Civil (PC-AM) e dos bombeiros.

No dia 18 de junho, um exame médico realizado pelos peritos da Polícia Federal (PF) apontou que o assassinato do jornalista britânico Dom Phillips foi ocasionado por “traumatismo toracoabdominal”, provocado por disparo de arma de fogo com munição “típica de caça, com múltiplos balins”, o que gerou lesões principalmente sediadas na região abdominal e torácica.

Já o indigenista Bruno Pereira, segundo a perícia, morreu em decorrência de “traumatismo toracoabdominal e craniano”, acometidos também por disparos de arma de fogo típica de caça e vários projéteis, o que ocasionou lesões no tórax/abdômen, onde ele levou dois tiros, e na face/crânio, onde ele foi baleado uma vez.

Presos

Três suspeitos – Amarildo da Costa Oliveira, conhecido como “Pelado”; Oseney da Costa Oliveira, o “Dos Santos”, irmão de Amarildo, e Jeferson da Silva Lima, o “Peladinho” ou “Pelado da Dinha” – foram presos pela morte do indigenista e do jornalista e outras cinco pessoas foram identificadas por participarem da ocultação dos cadáveres.

Veja, na íntegra, o manifesto de greve dos servidores da Funai: