Em megaoperação, PF desfaz rede de garimpo e desmatamento ilegal em terras indígenas de Rondônia

Juntos, os três territórios protegidos ultrapassam 800 mil hectares de florestas, com população estimada de quase 4 mil indivíduos (Reprodução/Polícia Federal/RO)

31 de maio de 2022

21:05

Iury Lima – Da Revista Cenarium 

VILHENA (RO) – Uma operação contra crimes ambientais, feita pela Polícia Federal (PF) e o Instituto do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), vistoriou e interrompeu atividades ilícitas em três Terras Indígenas (TIs) do Estado de Rondônia. A ação ocorreu durante cinco dias, entre 24 e 27 de maio, e terminou com a prisão de duas pessoas, embargo de seis empresas madeireiras e destruição de dois acampamentos utilizados por garimpeiros ilegais

Chamada de ‘Kaapora’, em alusão à entidade da floresta protetora dos animais e das plantas, na cultura de povos originários, a operação visou desarticular um grupo criminoso que atuava nas TIs Zoró, dos Povos Zoró e Aripuanã; Roosevelt, dos Cinta Larga, e no território Sete de Setembro, dos Paiter Suruí, segundo a PF. O esquema sustentava desde as práticas de desmate à mineração proibida nessas áreas de reserva.

Juntos, os três territórios protegidos ultrapassam 800 mil hectares de florestas, com população estimada de quase 4 mil indivíduos, segundo dados cruzados de órgãos e instituições como a Fundação Nacional de Saúde (Funasa) e Associação de Defesa Etnoambiental Kanindé. 

Sete empresas madeireiras foram fiscalizadas e seis delas tiveram as atividades suspensas por conta das irregularidades com a mercadoria (Reprodução/Polícia Federal/RO)

A operação

Avaliada pela PF como “de grande complexidade e elevados riscos operacionais”, a ação empregou 80 homens, sendo boa parte deles integrantes do policiamento especializado: policiais federais do Comando de Operações Táticas (COT), Grupo de Pronta Intervenção (GPI) e Comando de Aviação (CAV) da PF. Dessa forma, além da incursão, os agentes também realizaram diversos sobrevoos na região, de modo a identificar as irregularidades. 

“Durante a operação, foram fiscalizadas sete madeireiras em Espigão D’Oeste (RO) [a 541 quilômetros de Porto Velho] suspeitas de comprar e vender madeira de origem ilegal, sendo que seis empresas tiveram seu funcionamento suspenso e duas pessoas foram presas em flagrante”, informou a Polícia Federal.

A polícia também cumpriu 10 mandados de busca e apreensão contra lideranças indígenas que compactuavam com o esquema, além de servidores públicos e outros indivíduos envolvidos com o garimpo ilegal.

A PF e o Ibama identificaram diversos pontos de floresta desmatada ao sobrevoar a região invadida (Reprodução/Polícia Federal/RO)

“Durante as incursões e sobrevoos foram encontrados diversos pontos de desmate com árvores derrubadas nas Terras Indígenas Zoró, Roosevelt e Sete de Setembro, dois acampamentos improvisados, três motos e um carro utilizados no deslocamento interno dos infratores. Todos esses meios para a prática de infrações ambientais foram inutilizados, em conjunto com o Ibama, visando cessar a continuidade de atividades criminosas”, acrescentou a organização, em nota. 

Flagrante expôs o caso

As investigações se desenrolaram, desde o ano passado, quando duas pessoas, entre elas, um indígena, foram presos em flagrante com cerca de 50 gramas de ouro.

“Após intenso trabalho investigativo, a Polícia Federal identificou complexo esquema criminoso instalado no Estado de Rondônia, que envolvia lideranças indígenas da Terra indígena Zoró, servidores públicos e garimpeiros de Espigão do Oeste”, esclareceu a PF.

Madeira apreendida foi doada para prefeituras e órgãos públicos estaduais, segundo a PF (Reprodução/Polícia Federal/RO)

Ainda de acordo com a polícia, “as apurações revelaram que as lideranças indígenas permitiam a extração ilegal de ouro e madeira da reserva, recebendo, em contrapartida, uma porcentagem dos lucros ilícitos”.

A PF também diz que os servidores públicos integrantes do esquema “foram afastados, cautelarmente, de suas funções”. Já a madeira apreendida foi doada, pelo Ibama, para prefeituras, como a do município de Rolim de Moura (RO) e outros órgãos públicos estaduais.

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