Em meio a homenagens com maracás e cânticos indígenas, corpo do indigenista Bruno Pereira é velado em Pernambuco
24 de junho de 2022
12:06
Bruno Pacheco – Da Agência Amazônia
MANAUS — Em meio a homenagens com cânticos indígenas do povo Xucuru, o indigenista Bruno da Cunha Araújo Pereira, servidor licenciado da Fundação Nacional do Índio (Funai) assassinado em 5 de junho deste ano durante expedição no Vale do Javari, no Amazonas, está sendo velado nesta sexta-feira, 24, na cidade de Paulista, Região Metropolitana do Grande Recife, em Pernambucano.
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As homenagens contaram com cartazes, fotos de Bruno e Dom Phillips e pedidos por justiça. Os indígenas que habitam a Serra do Ororubá, no município de Pesqueira, no Agreste do Estado, levaram ainda maracás, instrumento musical também conhecido como chocalho, para cantarem o ritual do Toré, cuja manifestação cultural é símbolo de resistência e união de povos tradicionais do Nordeste.
O caixão do indigenista, coberto com bandeiras de times de futebol e uma camisa da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja), foi exposto ao público por volta das 9h30.
Morto aos 41 anos, junto com o jornalista inglês Dominic Mark Phillips, de 57 anos, após receberem ameaças de pescadores, o corpo do pernambucano Bruno Pereira chegou ao Recife na noite dessa quinta-feira, 23, em uma aeronave da Polícia Federal, depois de passar por exames periciais em Brasília, que apontaram que ele morreu com três tiros, dois no tórax e um na cabeça, com munição típica de caça.
Os restos mortais do indigenista serão cremados às 14h desta sexta-feira (horário de Brasília), no Cemitério e Crematório Morada da Paz, que disponibilizou, na internet, um memorial para envio de mensagens, orações e lembranças a Bruno Pereira. Até a publicação desta matéria, a página já contava com 572 textos, fotos e vídeos.
Defensor
Nascido em Recife, Bruno Pereira deixou sua cidade natal aos 22 anos para trabalhar em defesa da causa ambiental na Amazônia e desempenhou diversas funções na Fundação Nacional do Índio (Funai) na última década, quando teve passagem pela coordenação regional do Vale do Javari e aprendeu a falar quatro línguas das populações locais.
O indigenista, que deixa um legado e um ensinamento sobre como atuar pelos direitos das populações originárias, se tornou um dos principais especialistas do País em indígenas isolados e de recente contato, sendo considerado referência na área por colegas e pelos povos originários, com quem construiu forte relação de amizade e era visto como protetor.
Pereira estava licenciado da Funai, onde trabalhou por aproximadamente 12 anos, para participar de um projeto com o amigo jornalista Dom Phillips, no Vale do Javari, região da Tríplice Fronteira entre Colômbia, Brasil e Peru, onde há grande presença do narcotráfico.
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Presos
Até esta sexta-feira, 24, quatro pessoas foram presas suspeitas de participarem no assassinato de Bruno e Dom, são eles: os irmãos Amarildo e Oseney da Costa de Oliveira, conhecidos como “Pelado” e “Da Costa”, respectivamente, Jeferson da Silva Lima, o “Pelado da Dinha”, e Gabriel Pereira Dantas, que foi se entregou à Polícia de São Paulo nessa quinta-feira, 23, afirmando ter ajudado a “dar fim” nos pertences das vítimas e visto os executores efetuarem os disparos de arma de fogo. A Polícia Federal não descarta outros envolvidos.