Entregador agredido em Manaus se manifesta após repercussão de vídeo: ‘O que fica é a indignação’

O entregador Henry se pronunciou por meio das redes sociais. (Reprodução/ Internet)

07 de fevereiro de 2022

16:02

Marcela Leiros – Da Revista Cenarium

MANAUS – O entregador Henry se manifestou, nas redes sociais, após a repercussão de um vídeo que registrou o momento em que ele foi agredido por um cliente em frente ao Instituto da Mulher Dona Lindú, localizado no bairro Adrianópolis, zona Centro-Sul de Manaus, no sábado, 5. Em publicações e em uma live da qual participou, Henry falou que está indignado com toda a situação e que sente que o caso ficará impune. Acrescentou, ainda, os riscos que os entregadores enfrentam no cotidiano.

“Eu estava de costas e não esperava um ataque, a gente nem trocou insulto. Ele me agrediu covardemente. A intenção dele era me humilhar e mostrar que a nossa profissão não vale nada. No nosso País não tem lei e ele vai sair impune, que nem saiu. Não pagou minha bag, o prejuízo, me ameaçou. Mesmo que não tenha acontecido nada comigo, a situação foi de perigo iminente”, contou ele durante a live com o empresário Fritz Paixão.

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Natural do Maranhão, Henry ainda explicou que vive no Amazonas há cerca de 14 anos. Costumava morar em Presidente Figueiredo, município conhecido como a “Terra das Cachoeiras”, a 126 quilômetros de Manaus. “Vim para cá para arrumar trabalho e tirar minha mãe da situação ruim que a gente vivia no Nordeste. Ela é professora e a gente sabe que a remuneração não é boa. Eu tive que vim para cá atrás de melhoria”, acrescentou.

Henry é formado em Gestão Comercial e estava cursando o técnico em Engenharia de Aquicultura quando a pandemia o impossibilitou de continuar os estudos. “Nosso futuro é imprevisível e eu gostaria muito que a minha cidade tivesse visibilidade, para que a gente pudesse ficar lá, subsistir lá”, contou ele emocionado.

“Aprendi uma coisa muito importante com o meu mestre: nunca se briga na rua. Se briga na rua, apanha na academia. Então eu não sou de agressão e violência. Pacifico todas as vezes. O que fica é a indignação: não vai ter fim essa violência, nós precisamos de leis para regulamentar essa profissão, já chega de correr tanto risco”, finalizou.

Repercussão nacional

As cenas causaram revoltas em autoridades locais e até celebridades se manifestaram contra a violência sofrida por Henry. O influenciador David Brazil, que possui 8,4 milhões de seguidores, publicou o vídeo e, revoltado, questionou se o agressor já estava preso. “Já tá preso esse infeliz?”, pôs na legenda.

Publicação do influenciador David Brazil teve centenas de comentários (Reprodução/ Twitter)

A publicação rendeu milhares de comentários. Outros famosos, como o humorista Tom Cavalcante e a apresentadora Antonia Fontenelle comentaram na publicação. “Irmão tem muito psicopata entre nós! Ta muito maligno esse planeta”, disse o homorista.

Comentários na publicação do influenciador David Brazil (Reprodução/ Instagram)

A juíza federal Jaiza Pinto Fraxe também acrescentou, no Twitter, que “lesão corporal é crime” e pediu que parem de agredir os entregadores. “Parem de agredir entregadores de refeições. Muitos estão a 12h seguidas voando em cima de uma moto para você comer bem. Eles são trabalhadores como nós! Merecem respeito, empatia e dignidade”, publicou ela.

Entenda o caso

No vídeo, registrado por uma mulher que presencia toda a situação, o entregador é jogado ao chão e logo após é imobilizado. “Ei, moço, deixa ele. Ele ‘tá’ só fazendo o trabalho dele, não faz isso não”, pede. O cliente olha para a mulher e diz estar ciente da agressão.

“Está me agredindo porque eu “tô” querendo receber e ele não quer me pagar. Filma ele, moça”, pede o motoboy. “Eu falei para ti que ia passar o Pix”, disse o cliente. O entregador contesta então que está esperando há 20 minutos e não recebeu. “Eu ia voltar na casa da mulher onde eu peguei, mas ele está me agredindo”, diz o entregador.

O motoboy pede ajuda dos que estão por perto, mas até o final da filmagem ninguém intervém contra ação truculenta do homem. O trabalhador inclusive solicita que pessoas que testemunharam a agressão chamassem a polícia.

O cliente então coloca o dedo em riste e diz que o entregador só sairia dali se desse a encomenda que ele solicitou. No momento seguinte, o homem arranca a mochila de entrega do rapaz e puxa com muita força os itens. As pessoas falaram que ele não poderia fazer isso e ele debocha. “Que’ não pode? Eu tenho dinheiro para pagar. E está aqui as minhas coisas. Ele não quer esperar o Pix”, desdenha.

A mulher responde dizendo que transferências via Pix chegam imediatamente. Depois, o cliente pega suas coisas e adentra a unidade hospitalar.

Investigação

Em nota, a Polícia Civil do Amazonas informou que no sábado, 5, foi registrado um Boletim de Ocorrência (BO) no 1º Distrito Integrado de Polícia (DIP), quando uma guarnição da Polícia Militar do Amazonas (PMAM), apresentou, na unidade policial, Alexandre Campos Pereira, de 33 anos, por vias de fato cometido contra o entregador.

Maiores esclarecimentos apontaram que Henry foi entregar uma encomenda de roupas de recém-nascido para Alexandre, momento em que o cliente tentou realizar o pagamento via Pix, porém, sem sucesso, pois o sistema estava com problema. Alexandre, então, efetuou metade do pagamento no valor de R$ 6, em espécie, e a outra parte seria via Pix, também no mesmo valor, mas não conseguiu.

Ainda segundo o BO, o entregador não quis esperar e não poderia entregar o produto sem o devido pagamento. Então, Alexandre se dirigiu até a vítima e derrubou a motocicleta dela. A polícia foi acionada para atender a ocorrência, e posteriormente encaminhou os indivíduos ao 1° DIP.

Conforme o delegado Marcos Arruda, titular da unidade policial, Alexandre assinou um Termo Circunstanciado de Ocorrência (TCO) e foi liberado.