Especial – Tragédia Yanomami: Omissão Federal

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05 de julho de 2021

11:07

Marcelo Marques – Especial para a Revista Cenarium

BOA VISTA, RR – A Hutukara Associação Yanomami enviou cinco pedidos de ajuda às autoridades informando sobre os ataques dos garimpeiros na região onde fica a comunidade Palimiú. Nenhum deles foi atendido. Para o vice-presidente da associação, Dário Vitório Kopenawa, filho do líder Yanomami e xamã Davi Kopenawa, o principal motivo para os ataques é a própria presença em si do garimpo ilegal dentro da Terra Indígena Yanomami, invadida hoje por mais de 20 mil garimpeiros.

“Há muito tempo, já denunciamos às autoridades a presença do garimpo. Já fizemos campanha nacional e internacional ano passado pedindo a desintrusão dos garimpeiros. Esse ataque de agora não foi por conta do bloqueio no rio, mas há anos já estamos ameaçados e o resultado foi esse conflito. Nós somos cidadãos brasileiros e temos direito à segurança e a União não está fazendo isso”, disse.

A Hutukara chegou a enviar um primeiro ofício, antes do ataque no dia 10 de maio, à Frente de Proteção Etnoambiental Yanomami da Fundação Nacional do Índio (Funai), à superintendência da Polícia Federal em Roraima (PF/RR) e ao Ministério Público Federal em Roraima (MPF/RR). O documento, do dia 30 de abril, já relatava um conflito ocorrido no dia 27 de abril.

“Um grupo Yanomami interceptou cinco garimpeiros que subiam o rio em direção ao Korekorema, no Rio Uraricoera, em uma voadeira carregada de combustível para avião e helicóptero, apreendendo a carga de 990 litros de combustível. Assistindo ao ocorrido, outros sete garimpeiros, que desciam o rio em direção a Boa Vista, reagiram disparando três tiros contra os indígenas (…). Felizmente, não houve feridos. Após o tiroteio, os Yanomami expulsaram os cinco garimpeiros, alertando-os para que não voltassem, porque não querem garimpeiros subindo e descendo o rio e causando transtornos às comunidades”, informava o primeiro ofício.

O documento já pedia medidas urgentes para garantir a segurança da comunidade Palimiú e reforçava a necessidade da implementação de medidas contundentes para impedir a presença garimpeira ilegal no interior da Terra Indígena Yanomami.

“Há muito tempo já denunciamos às autoridades a presença do garimpo. Somos cidadãos brasileiros e temos direito à segurança e a União não está fazendo isso”, Dário Vitório Kopenawa, vice-presidente da Hutukara Associação Yanomami

Sem ajuda

Como o primeiro pedido não foi atendido, o resultado foi o ataque no dia 10 de maio, com sucessivos dias de violência. “Sete barcos de garimpeiros atracaram por volta das 11h30 e atacaram indígenas da comunidade, dando início ao tiroteio no local, em conflito aberto, por cerca de meia hora. Quatro indivíduos garimpeiros foram baleados e outro indígena de raspão. As embarcações dos garimpeiros saíram para a proximidade e ameaçaram voltar para vingança por volta das 12h30”, diz trecho do segundo ofício destinado à Funai, MPF, PF e ao Exército Brasileiro, pedindo urgência para impedir a violência e garantir a segurança em Palimiú.

A Hutukara Associação Yanomami tem recebido denúncias de comunidades indígenas e encaminhado ofícios pedindo ajuda às autoridades (Divulgação)

No dia 12 de maio, um terceiro ofício foi enviado, especificamente, à 1ª Brigada de Infantaria de Selva do Exército (1ª BIS), ao general Frutuoso, solicitando apoio logístico para a segurança local e instalação de posto emergencial de segurança na comunidade Palimiú e no Rio Uraricoera, diante de mais um confronto armado de garimpeiros contra indígenas e agentes da PF. Neste dia, o Exército chegou a ir à comunidade, mas passou somente algumas horas e retornou do local.

Afronta

Ainda no dia 12, mais uma situação de afronta dos garimpeiros foi registrada pela Hutukara. “Às 22h45, recebemos ligação de indígenas Yanomami da comunidade Palimiú relatando que chegaram 40 barcos de garimpeiros no local dos recentes tiroteios e alertando que os garimpeiros estão se organizando para iniciar novos ataques aos Yanomami. Foi informado também que os garimpeiros continuam circulando livremente e intensamente o Rio Uraricoera, portando armas”, cita trecho do quarto ofício, do dia 13 de maio.

O quarto ofício pedindo ajuda reforça a necessidade urgentíssima da presença permanente do poder público no local, para garantir a segurança das comunidades indígenas e reitera ao Exército a instalação de um posto avançado emergencial na comunidade de Palimiú. O pedido não foi atendido, segundo as próprias lideranças.

O quinto ofício da Hutukara, do dia 17 de maio, descreve mais uma audácia dos invasores. “Segundo disseram os Yanomami, 15 barcos de garimpeiros se aproximaram contra a comunidade. Os Yanomami disseram que, além dos tiros, havia muita fumaça e que seus olhos estavam ardendo, indicando o disparo de bombas de gás lacrimogênio contra os indígenas. Os Yanomami estavam muito aflitos e gritavam de preocupação ao tele fone. Ao fundo, era possível escutar o som dos tiros. A situação era grave”.

Neste ofício, enviado à Funai, MPF, PF e Exército, a associação indígena reitera o pedido aos órgãos que atuem com urgência dentro de seu dever legal e pede, mais uma vez, a instalação de um posto avançado emergencial na comunidade Palimiú.