Especial – Tragédia Yanomami: Vítimas da desnutrição

Foto de menina Yanomami, de 8 anos, deitada em uma rede com as costelas expostas chamou a atenção para a crise humanitária dos Yanomami (Reprodução/Folha de S. Paulo)

06 de julho de 2021

17:07

Paulo Bahia e Bruno Pacheco – Da Revista Cenarium

MANAUS – Após pedir ajuda do governo federal e não conseguir, uma criança Yanomami de pouco mais de um ano morreu, no dia 21 de maio, na comunidade Yarita, dentro da Terra Indígena Yanomami, em Roraima. O quadro de desnutrição era tão grave que o menino não conseguia lagrimar e nem chorar. Um pedido para retirá-lo da região e para que fosse socorrido na capital Boa Vista não foi atendido. Os relatos são do presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Ye’kuanna (Condisi-YY), Júnior Hekurari Yanomami.

“A criança tinha um ano, mais ou menos, de idade. A equipe médica atendeu a criança na quinta-feira, 20. Pediram remoção urgente da criança que se encontrava em estado muito grave de desnutrição. A criança não estava conseguindo nem chorar e lagrimar, muito mal”, contou Júnior à CENARIUM, no dia 22 de maio.

O pedido de remoção urgente ocorreu exatamente às 16h53 de quinta-feira, 20, pela equipe médica que atendia a criança. Os profissionais de saúde solicitaram um avião para que o atendimento fosse realizado em unidade de saúde especializada, tendo em vista o quadro agravado, mas a medida não foi atendida pelo Distrito Sanitário de Saúde Indígena Yanomami (Dsei-Y) e pela Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai). No dia 21, por volta das 12h30, a criança veio a óbito.

Júnior Yanomami afirmou que ingressará com um pedido de ação no Ministério Público Federal (MPF), relatando o descaso do poder público e a situação precária da comunidade indígena. “Nós, do Condisi, entendemos que foi negligência total por parte do Dsei Yanomami. Nós, do Condisi, pedimos providência das autoridades, do MP [Ministério Público], que o governo tome providência urgente. A situação da saúde Yanomami está se agravando demais. Piorando muito”, lamentou o representante.

“Não sei se amanhã vai morrer mais um. Se depois de amanhã vai morrer mais crianças por causa de desnutrição”, afirma Júnior Hekurari.

Negligência

Na comunidade Yarita, vivem cerca de 800 pessoas, onde, de acordo com Júnior Yanomami, somente dois profissionais de saúde levam atendimento médico aos indígenas. A situação na região, para ele, é motivo de alerta, principalmente por conta do período pandêmico vivenciado pelos povos tradicionais e por todo o País e, ainda, devido aos registros de ataques de garimpeiros aos indígenas.

Segundo os indígenas, a região sofre uma crise na atenção à saúde e a falta de assistência básica. A situação alarmante ganhou notoriedade após uma foto de uma menina de 8 anos em estado grave de desnutrição expor a crise humanitária.

“Dois profissionais e sem recurso para atender a população Yanomami. Por isso, a saúde Yanomami está nos piores dias que eu já vi na minha vida. Nunca tinha visto a saúde como está agora. Temo a saúde Yanomami entrar em colapso total. Precisamos de interferência do governo federal para isso”, relatou.

Para o representante, o Sesai “não está nem aí com a saúde indígena Yanomami”. “Só falam que estão estudando para aju dar. Só estão lá sentados no ar-condicionado, na cadeira confortável, enquanto a população Yanomami está morrendo de desnutrição, de diarreia, de outras doenças simples, de malária. Eu estou muito chateado com essa situação, muito chateado mesmo, entendeu”, finalizou.