Incomodado com críticas, Bolsonaro confessa que age para tirar Ramos da vice-presidência da Câmara

Em sua live semanal Jair Bolsonaro, em ato falho, admitiu interferência política na Câmara (Isabelle Chaves/CENARIUM)

13 de maio de 2022

20:05

Interferência no Poder

Num País em que a inflação e o desemprego atingem dois dígitos, a gasolina, o diesel, o gás de cozinha e a energia têm preços descontrolados, temos um presidente da República que dedica seu tempo a perseguir críticos ao ser governo. Em sua live semanal Jair Bolsonaro, em ato falho, admitiu interferência política na Câmara, num desrespeito a uma garantia constitucional que é a independência dos poderes. O presidente afirma que pediu ao presidente do PL, Valdemar Costa Neto, para tirar o deputado federal, Marcelo Ramos (PSD-AM), da vice-presidência da Casa.

Mentiras sobre ZFM

As ações e críticas de Ramos contra os decretos que prejudicam a Zona Franca de Manaus incomodam Bolsonaro. Mas não é só ao deputado que ele ataca. Bolsonaro ataca a verdade dos fatos. Disparou mentiras sobre os decretos que reduzem o IPI, alegando, ao contrário do que afirmam todas as entidades empresariais, economistas, lideranças dos trabalhadores e políticas, que as medidas não atingem a ZFM. O fato é que os decretos ameaçam os quatro polos mais importantes de Manaus: duas rodas, eletroeletrônicos, informática e concentrados de refrigerantes que, juntos, somam mais de 87 mil empregos diretos.

Carta na manga

Bolsonaro também atacou o senador Omar Aziz (PSD-AM), coordenador da bancada do Amazonas no Congresso. Aziz e Ramos têm sido os mais contundentes e ativos parlamentares do estado na defesa da ZFM. A julgar pela reação do presidente, as críticas às medidas de seu governo ganharam eco. Sobre o cargo de vice, Marcelo Ramos tem uma carta na manga. Em dezembro de 2021, Costa Neto deu ao parlamentar uma carta de anuência à desfiliação de Ramos da sigla, afirmando que a saída dele não configura infidelidade partidária por ter razões programáticas, e concordando expressamente com a manutenção de Ramos na Mesa da Câmara.

Polarização com Judiciário

Empacado nas pesquisas após já ter “faturado” com a saída de Sérgio Moro da disputa presidencial e pelos efeitos do Auxílio Brasil, Bolsonaro usa da estratégia de ignorar o adversário Lula e travar outros embates, que incluem o TSE e o STF, em particular o ministro Alexandre Moraes. Partiram do magistrado outras duas decisões que desagradaram o presidente: a sustação dos efeitos dos decretos do IPI sobre itens da ZFM e a liminar garantindo Marcelo Ramos na vice-presidência da Câmara. Fonte próxima a Bolsonaro diz que ele faz “uma campanha diversionista, na qual ignora Lula e busca polarizar com o Judiciário ou quem mais vier”.

Cortina de fumaça

O presidente rebaterá, como fez em sua live, cada ataque que vier. Até insinuar golpe faz parte dessa estratégia diversionista. Na avaliação desse interlocutor, Bolsonaro, com isso, domina o debate e a exposição na mídia, deixando Lula praticamente sem espaço para criar fatos políticos. Com essa cortina de fumaça, o presidente desvia as atenções do noticiário ruim e distrai a todos com suas confusões. Enquanto isso, o governo ganha tempo para que a economia melhore para chegar com mais força no momento de entrar a campanha no rádio e TV, em que Bolsonaro terá pela primeira vez, tempo para apresentar o que sua administração fez. Ou disfarçar o que não fez.