Indígenas são os mais atingidos por incêndios florestais, aponta estudo

Fogo atinge saúde dos povos indígenas na Amazônia (Reprodução/Facebook)

10 de maio de 2023

13:05

Bianca Diniz – Da Agência Amazônia

BOA VISTA (RR) – Um estudo publicado na revista Environmental Research Health, na sexta-feira, 5, revelou que a fumaça gerada pelos incêndios florestais na Amazônia está tendo um impacto alarmante na saúde dos povos indígenas da região. De acordo com os pesquisadores, os indígenas que vivem na bacia amazônica têm duas vezes mais chances de morrer prematuramente do que a população sul-americana em geral, devido à exposição à fumaça. 

Segundo a pesquisa, as regiões do Peru, Bolívia e Brasil são as mais afetadas pela exposição à fumaça, apresentando taxas de mortalidade seis vezes maiores do que a população em geral. Os pesquisadores ressaltam a gravidade das consequências negativas da exposição prolongada à fumaça, que pode trazer consequências para a saúde dos indígenas, além de representar um sério risco para a biodiversidade da região.

Agente do Ibama controlando incêndio no município de Apuí, Amazonas. (Ueslei Marcelino/Reuters)

A autora da revista, Eimy Bonilla, alerta sobre os indígenas serem os mais atingidos. “Embora os territórios indígenas sejam responsáveis ​​por poucos incêndios na bacia amazônica, nossa pesquisa mostra que as pessoas que vivem nesses territórios sofrem riscos de saúde significativamente maiores devido às partículas de fumaça, em comparação com a população em geral”.

Resultados

Os resultados revelam que os incêndios florestais na América do Sul causaram cerca de 12 mil mortes, entre 2014 e 2019, sendo, aproximadamente, 230 delas em territórios indígenas. “Em outras palavras, a exposição à fumaça causa duas mortes prematuras por 100 mil pessoas por ano em toda a América do Sul, mas quatro mortes prematuras por 100 mil pessoas em territórios indígenas. Bolívia e Brasil representam pontos críticos de exposição à fumaça e as mortes em territórios indígenas nesses países são de nove e 12 por 100 mil pessoas, respectivamente.“, indica a pesquisa.

A pesquisadora Bonilla explica que esses incêndios florestais liberam minúsculas partículas conhecidas como MP2.5, que contribuem significativamente para as concentrações de aerossóis e são prejudiciais à saúde. “Esses incêndios têm um impacto desproporcional sobre as pessoas que vivem em territórios indígenas. Com tempos de exposição mais longos e acesso limitado a atendimento médico, populações indígenas correm um risco muito maior de morrer em incêndios”, afirma Bonilla.

Segundo o estudo, nos últimos anos, a taxa de queima de biomassa, ou seja, a queima de material orgânico, como árvores ou resíduos agrícolas, na América do Sul, aumentou consideravelmente, impulsionada pela atividade humana, como mineração, extração de madeira e uso de terras agrícolas, além de variações nas condições climáticas.

A diretora de Ciência do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam) e coautora do estudo, Ane Alencar, ressalta a necessidade de monitorar o uso do fogo na Amazônia. “Estudos como esse ressaltam a importância de a gente olhar para a questão do uso do fogo na Amazônia como uma questão de saúde pública, o que nem é pensado atualmente. Estamos perdendo vidas por causa dos aumentos das queimadas e isso só tende a piorar nesse cenário acirrado pelas mudanças climáticas. Precisamos olhar para o uso do fogo e, realmente, reforçar políticas que controlem esse uso”, destaca a pesquisadora.

Leia o estudo: