Inteligência artificial vai prever avanço do desmatamento na Amazônia

A iniciativa surgiu da necessidade de impedir que o desmatamento aconteça, uma vez que o instituto apenas observava a devastação da ocorrida. (Divulgação/PrevisIA)

06 de agosto de 2021

11:08

Iury Lima – Da Cenarium

VILHENA (RO) – O Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) agora pode prever o avanço do desmatamento na Amazônia a partir de informações antecipadas pela PrevisIA, uma ferramenta em forma de Inteligência Artificial (IA), que monitora áreas que estão sob risco de devastação. A ferramenta é fruto de uma parceria entre o Imazon, Microsoft e Fundo Vale, e o lançamento ocorreu nessa quarta-feira, 4, de forma online.

A iniciativa surgiu da necessidade de impedir que o desmatamento aconteça, possibilitando a cobrança de ações mais efetivas de combate por parte do governo, a partir da apresentação das previsões geradas pela ferramenta, uma vez que a divulgação de estudos e levantamentos realizados pelo Imazon, até então, limitava-se à destruição já ocorrida, verificada por meio do Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD).

O idealizador da plataforma e pesquisador associado do Imazon, Carlos Souza Jr. (Reprodução/Internet)

O idealizador da plataforma e pesquisador associado do Imazon, Carlos Souza Jr, explica as atribuições da ferramenta. “O SAD será integrado à PrevisIA, porque a gente quer atualizar esse risco com mais frequência, em vez de esperar mais de um ano para ter esses dados de maneira oficial. A gente vai trazer o pulso do desmatamento interanual e esperamos a cada três, seis meses, estar atualizando”, detalhou.

“Nós estamos mapeando as políticas públicas e acho que é preciso ter transparência nelas, indicar quais são os territórios (sob risco), quais são as intervenções e aí poderemos avaliar o grau de efetividade. Para reduzir o desmatamento, precisamos de soluções sistêmicas”, defendeu.

Para ele, as políticas públicas tendem a estar funcionando de maneira efetiva. “Precisaremos de engajamento da sociedade, além de que as corporações entrem nessas zonas críticas e tragam soluções. Esse é o componente de maior desafio do projeto”, complementou Souza. 

Componentes da IA

De acordo com o Imazon, os dados serão públicos e toda a sociedade civil terá acesso às informações. Além disso, também poderão ser incorporados e utilizados por agentes e gestores públicos, com intuito de executar ações de intervenção que possibilitem a mudança de rumo. Esta interação faz parte do engajamento planejado para a plataforma, um dos quatro componentes que formam a IA.

“Nós já temos uma parceria formalizada com os procuradores estaduais do Pará e, inclusive, a Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semas) já demonstrou interesse desde o início da concepção da PrevisIA. Então, já temos um grupo de potenciais usuários. No final, a gente espera errar essa previsão (do desmatamento), preservando assim a floresta. Esse é o melhor resultado que a gente espera”, ressaltou o pesquisador associado ao instituto. 

Ainda segundo Carlos Souza, este recurso possibilita a cocriação com usuários, prevenção e avaliação de impactos, sendo este o item considerado mais importante. O sistema da PrevisIA ainda é formado por monitoramento, capacidade de processamento e ciência de predição.

Inspiração

Inspirado na plataforma Microsoft Planetary Computer, o monitoramento conta com imagens de satélite e recursos de processamento. Assim, é possível observar as estradas e ruas não oficiais por meio da inteligência artificial, já que 85% das queimadas estão reunidas em um corredor de cinco quilômetros ao longo delas. Antes, este mapeamento era feito manualmente.

Já a ciência de predição serve para estudar a correlação no espaço-tempo relativa ao desmatamento já observado, sendo assim, possível prever quais serão as áreas com a maior atividade de devastação. E, por fim, a capacidade de processamento otimiza a escala operacional de toda a plataforma.

85% das queimadas se concentram em estradas oficiais e não oficiais. (Christian Braga/Greenpeace)

Investimentos

Para viabilizar financiamento, tecnologia e especializações, a Microsoft investiu US$ 165 milhões, valor que será utilizado durante o período de cinco anos para essas ações. Já o Fundo Vale, associação civil criada há 11 anos e que não objetiva fins lucrativos, mobiliza o Instituto Tecnológico Vale, com sede em Belém, para apoiar o projeto.

O diretor de investimento e desenvolvimento social da Vale, Hugo Barreto, explicou a importância do aporte financeiro à iniciativa. Existe, sim, conexão entre produzir e preservar, porque não existe empresa saudável em um planeta doente”, destacou.