Intenção de Consumo das Famílias aumenta no Brasil; região Norte é a única a registrar queda

O indicador está abaixo do nível de satisfação, de 100 pontos, desde abril de 2015, quando ficou em 102,9 pontos (Reprodução/ Getty Images)

19 de fevereiro de 2022

17:02

Malu Dacio e Priscilla Peixoto- Da Revista Cenarium

MANAUS (AM) – Na contramão da média nacional brasileira, a região Norte foi a única a registrar queda mensal no indicador de Intenção de Consumo das Famílias (ICF), no mês de fevereiro, com -1,2%, também o menor indicador, com 58,3 pontos. As informações são da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), que publicou os dados na sexta-feira, 18.

De acordo com a Confederação, no restante do País, o indicador de ICF subiu 0,4% e chegou a 77,6 pontos em fevereiro. O número atingiu o maior nível desde o mês de maio de 2020, quando o valor chegou a 81,7 pontos. Os números da Confederação também apontam que o indicador está abaixo do nível de satisfação de 100 pontos desde abril de 2015, quando ficou em 102,9 pontos.

Aparentes fatores

Na análise do consultor econômico Mourão Júnior o aumento na intenção de consumo, exceto na região Norte, se deve, entre outros fatores, à vacinação contra a Covid-19 e o “aparente controle” no âmbito econômico, prejudicado pela pandemia, gerando a perspectiva de uma demanda retraída.

“Estamos vindo de um período pandêmico e de uma nova cepa que apesar dos dados econômicos de uma inflação de 10,78 e de uma taxa Selic de 10,35, o aspecto de preocupação do ano passado era de ‘pé no freio’, mas o que se percebeu no começo deste ano é que a vacinação surtiu efeito e o baque na economia, em função da Covid-19, foi controlável. Isso gerou uma demanda retraída fazendo com que os consumidores já visualizassem esse aspecto de compra e consumo”, explicou Mourão.

A maior alta ocorreu no Sul, com 1,9%, onde as famílias estão mais confiantes, com 87,7 pontos (Reprodução/Internet)

Indicadores e Regiões

Por faixa de renda, as famílias que ganham acima de dez salários mínimos indicaram nível de insatisfação de 94,5 pontos, uma queda de -0,6% no mês e alta de 10,5% na comparação anual. O indicador para as famílias com renda abaixo de dez salários mínimos subiu 0,7%, atingindo 74,0 pontos. Na comparação anual, houve alta de 2,9%.

Entre as regiões, o Norte teve a única queda mensal de fevereiro, com -1,2%, apresentando também o menor indicador, com 58,3 pontos. A maior alta ocorreu no Sul, com 1,9%, onde as famílias estão mais confiantes, com 87,7 pontos.

Norte em baixa

Para o consultor econômico, é necessário considerar duas questões existentes para o resultado negativo na região Norte. A primeira é o fator econômico e a segunda é a questão da nova cepa, preocupando de forma mais intensa e dando uma “segurada no consumo” dos habitantes de Manaus, uma das cidades que protagonizou cenas de caos e colapso na saúde.

“Temos que ressaltar duas variantes diante disso, a primeira é a questão econômica movida pelo modelo Zona Franca de Manaus. Ela, geralmente, no primeiro trimestre do ano, se comporta de maneira negativa, pois fabricamos produtos e dependemos do mercado nacional e toda uma perspectiva de geração de emprego e renda gerada no último trimestre do ano anterior; no começo do ano seguinte se torna mais negativo, contratos são encerrados, atividade econômica diminui e perspectivas de consumo também reduz”, destaca o especialista.

No segundo ponto, Mourão salienta: “Pela questão da nova cepa e Manaus ter ficado em destaque, durante o ápice da pandemia, também contribui para esse resultado. Vivemos vários danos e estragos econômicos em nosso Estado, isso faz com que o consumidor dê uma parada nas compras, se preocupando de como vai ficar a região por conta da pandemia”, analisa.

Impactos

Conforme o consultor, os impactos gerados nas intenções de consumo, são claros. Ele afirma que o aumento da demanda e, consequentemente, uma oferta que não consiga suprir, torna a chamada demanda retraída, causando aumentos na inflação e até pressões voltadas para a desvalorização do real.

“Consequentemente, o aspecto econômico pode não ser muito favorável a esse aumento repentino da demanda. O próprio Banco Central vem visualizando uma alta da taxa Selic que já está em 10,75”, finaliza o profissional.