Investigação da Polícia Federal não identificou crimes em comunidade Yanomami, aponta delegado

Polícia Federal, Fundação Nacional do Índio, Ministério Público Federal e Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Ye'kwana em apuração na Terra Yanomami (Condisi-YY/Divulgação)

06 de maio de 2022

13:05

Marcela Leiros – Da Revista Cenarium

MANAUS — A investigação da Superintendência Regional da Polícia Federal em Roraima não identificou, até o momento, indícios de crime de estupro seguido de morte, sequestro e homicídio da Comunidade Aracaçá, na Terra Indígena (TI) Yanomami. A informação foi repassada em coletiva de imprensa na manhã desta sexta-feira, 6.

Leia também: ‘O direito de viver está em risco’, diz Joênia Wapichana sobre indígenas Yanomami ameaçados pelo garimpo

Segundo o delegado federal e chefe da investigação Daniel Ramos, a apuração ainda está no início, mas não foram encontrados indícios de morte violenta no local.

“A investigação ainda está no começo. O que posso dizer, até hoje, é que na Comunidade Aracaçá os indígenas que lá residem hoje não nos relataram qualquer ato de violência que tenha acontecido na comunidade naqueles dias e sobre esses fatos. Não estou dizendo que não aconteceu, estou dizendo que lá, com essas pessoas, eles disseram que não ocorreu”, disse Ramos.

Ainda segundo o chefe da investigação, a conversa com os indígenas é complexa e difícil devido à diferença entre as línguas indígenas. Em visita à localidade, foi identificado que a Comunidade Aracaçá é um “local de logística do garimpo”.

Denúncia e investigação

As denúncias surgiram no último dia 25 de abril, indicando que uma adolescente indígena de 12 anos foi morta após ser violentada sexualmente por garimpeiros na TI. Em uma publicação nas redes sociais, um líder indígena reportou ainda que uma criança de 4 anos, que viajava com a jovem de barco, teria caído no rio da região e estava desaparecida. Inicialmente, a denúncia indicava que o fato teria ocorrido na Comunidade Palimiú.

Sobre a origem da denúncia, o delegado indicou que houve um “conflito de narrativas”. Um determinado indígena viu um vídeo, que originou toda a denúncia. Esse vídeo foi apresentado para uma liderança indígena por um servidor da Funai [Fundação Nacional do Índio] e essa liderança disse assim: ‘Eu tenho muita preocupação que isso esteja ocorrendo na Comunidade Aracaçá. Essa informação, ele passou para outra indígena. Esse outro indígena tomou como fato e por meio dessa informação repassou para outra liderança, e isso veio a público”, explicou Daniel Ramos.

“Tudo leva a crer que, realmente, a denúncia é uma sequência de falas e narrativas que chegaram a criar uma situação concreta”, acrescentou.

Movimentação

Sobre a Comunidade Aracaçá ter sido queimada e os indígenas que residiam lá estarem desaparecidos, a investigação aponta ainda que os fatos podem ter ocorrido por dois motivos: o luto ou apenas a mudança de local de moradia.

“Surgiram dois motivos para maloca estar queimada: um motivo é a morte de alguma pessoa da família, porque eles fazem isso para não lembrar da pessoa. E a segunda hipótese é movimentação das pessoas desse local”, disse.

“Nove pessoas moram na Comunidade Aracaçá. A investigação aponta que elas se movimentaram de lá. E tem informações de que integrantes da comunidade se encontram em Palimiú”, concluiu o delegado.