Jacaré é amarrado em poste no Centro de Manaus; ‘Crueldade e desrespeito’, criticam pesquisadores

Um 'jacaretinga', também conhecido como Caiman crocodilus, estava amarrado num poste (Crédito: Ruben Undheim/Flickr)

24 de maio de 2022

07:05

Bruno Pacheco – Da Revista Cenarium

MANAUS — Um jacaré foi encontrado amarrado em um poste na manhã dessa segunda-feira, 23, próximo ao hospital Beneficente Portuguesa, na Avenida Joaquim Nabuco, no Centro de Manaus. Um vídeo que circula nas redes sociais mostrou o crime ambiental. Ambientalistas e biólogos procurados pela CENARIUM criticaram a forma em que o animal foi capturado, chamando o ato de “crueldade” e “desrespeito”.

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Na imagem em que o animal é visto, um homem, não identificado, flagra o jacaré amarrado e narra a situação. “O cara pensa que já viu de tudo. O cara vem para trabalhar de manhã cedo e já traz o jacaré dele para passear, e ainda amarrou aqui”, descreve, no vídeo.

Jacaré é visto amarrado no Centro de Manaus (Reprodução)

Em nota, o Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam) disse à reportagem que não recebeu nenhuma ocorrência sobre o caso. No entanto, o órgão esclareceu que teve ciência da captura por meio das redes sociais e foi deslocada uma equipe ao local, mas o animal não foi mais encontrado. Ainda segundo o Ipaam, não há informações sobre o que aconteceu com o jacaré.

Crime ambiental

Agredir, matar, perseguir, estressar ou causar danos a animais silvestres e domésticos é crime ambiental previsto tanto na Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, em seu artigo 32 (Lei de Crimes Ambientais) quanto na Lei nº 5.197, de 3 de janeiro de 1967 (Lei de Proteção à Fauna). Especialista em répteis e anfíbios, o biólogo, ecólogo e herpetólogo do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Gabriel Salles Masseli, chama a atenção do caso.

Para Masseli, o surgimento de animais silvestres na cidade se dá por conta do efeito da não urbanização correta. O especialista enfatiza que não são os animais que estão aparecendo na cidade, mas a cidade que está aparecendo no habitat natural deles. “Se tivesse um trabalho de preservar, por mais que precise construir casas, moradias e do avanço, não teríamos tanto problemas como acontece”, afirmou o pesquisador.

À REVISTA CENARIUM, o biólogo explicou que o jacaré é da espécie Caiman crocodilus, também conhecida como “jacaretinga”. Esse animal tem como características a boca grande, focinhos longos e os dentes cônicos. Sobre o réptil estar amarrado, Gabriel Masseli acredita que a corda poderia estar machucando o animal, mas não há como comprovar por não estar no local.

“A primeira coisa que acontece com esse animal é o estresse. Ele está sob forte estresse pelas pessoas o amarrarem. Portanto, com certeza, esse animal fica ferido. Estar amarrado, é fato, ele estará ferido. Mas não há como saber, por conta de não estar ali para saber o quanto foi apertado o amarro. Dependendo do caso, se estiver muito apertado e sufocando o bicho, pode até matar”, afirmou.

O biólogo Gabriel Masseli salienta que a população deve procurar os órgãos responsáveis para o resgate de animais silvestres encontrados em zona urbana.

“A primeira coisa, é tentar procurar o órgão competente que faça o resgate, como o Ipaam, Corpo de Bombeiros ou o Batalhão Ambiental. A pessoa precisa ligar e observar o animal à distância, para saber onde ele está indo e tentar ajudar para que carros não avancem nele e ninguém o maltrate, porque é comum de acontecer matarem esses bichos. Com este, ainda bem que não o mataram”, destacou.

Crueldade com o jacaré

“O que vemos na imagem é uma cena de captura indevida e crueldade e pode ser caracterizado por crime ambiental e de maus-tratos a animal silvestre. Quando topamos com um animal silvestre em situação de risco no ambiente urbano, a primeira coisa que devemos fazer é comunicar as autoridades ambientais, bombeiros ou polícia militar ambiental, para que possam resgatar o animal”, alertou.

Para o especialista, a manipulação de um animal silvestre sem o cuidado devido é um risco para quem realiza o ato e para o próprio animal. Por outro lado, Durigan entende que os serviços voltados ao resgate e cuidados com a vida animália em Manaus estão precarizados por falta de recursos humanos e financeiros.

“Muitas vezes, a população não busca os órgãos por saber que não serão atendidos com a urgência requerida. Então, precisamos que nossos poderes públicos busquem investir nas instituições responsáveis e também em comunicação para que a população da cidade seja alertada sobre como agir em casos como este”, frisou Durigan.