Liderança Marubo critica inação do Governo Lula no Vale do Javari: ‘Na prática, são apenas visitas’

Em entrevista à jornalista Paula Litaiff e ao apresentador Álvaro Corado, Yura Marubo criticou a demora para decisões importantes voltadas ao Vale do Javari (Ana Pastana/AGÊNCIA AMAZÔNIA)

20 de março de 2023

21:03

Mencius Melo – Da Agência Amazônia

MANAUS – O assessor jurídico da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja), Yura Ni-Nawavo Marubo, criticou a lentidão do poder público, em especial, do governo federal, com decisões que, segundo ele, já deveriam ter sido tomadas. O representante criticou o Governo Lula por não nomear chefes de órgãos voltados para a agenda indígena na região. As críticas foram feitas durante entrevista no programa “Boa Noite, Amazônia”, apresentado pelos jornalistas Paula Litaiff e Alvaro Corado, na rádio e TV Onda Digital.

O questionamento foi provocado a partir da visita da ministra do Supremo Tribunal Federal (STF), Rosa Weber, que chegou a Tabatinga (distante 1.110 quilômetros de Manaus) nesta segunda-feira, 20. “Esperávamos uma ação pesada, uma ação concreta do governo federal, após a tragédia de Bruno e Dom, mas, na prática, mesmo havendo visitas dos poderes Legislativo, Executivo e Judiciário, no entanto, nada aconteceu. Não nomearam o chefe da Funai e nem o chefe do Dsei de Atalaia do Norte”, criticou.

O Vale do Javari, no Estado do Amazonas, é considerado o território indígena com mais povos originários isolados no mundo (Reprodução/Adam Mol/Funai)

“São questões burocráticas, decisões não tomadas que travam, que culminam com atrasos nos processos de fiscalização e na atenção à saúde básica dos povos indígenas. Na prática, no concreto mesmo, são apenas visitas”, disparou. “Na prática, o que queremos são as fiscalizações, conforme o que foi repassado para essas mesmas instituições. Hoje, o que temos são nossas lideranças, dentre elas, Beto Marubo, com três policiais da força nacional 24h por dia. Ninguém suporta trabalhar vivendo assim”, lamentou.

Dedos políticos

Questionados pela apresentadora Paula Litaiff sobre o porquê dessas não nomeações, Yura Ni-Nawavo comentou: “É questão política. Há dedo de políticos do Estado do Amazonas que estão interferindo. Estamos chegando no mês de abril e não há nenhuma nomeação concreta naquela região”, afirmou. Sobre a visita da ministra Rosa Weber, Yura comentou: “A presença da ministra chama atenção para a questão dos direitos humanos nas penitenciárias, e a outra é questão da segurança dos povos indígenas. mas, a meu ver, não vai acontecer absolutamente nada”, declarou.

Yura Marubo também chamou atenção para as necessidades jurídicas que envolvem situações provocadas no Vale do Javari. Muitas delas, violentas e que precisam da presença de um Poder Judiciário estruturado para responder à altura das demandas na região. “O que é preciso é concurso público para a magistratura, técnicos do Judiciário; o que esperamos são juízes permanentes, mas, a curto prazo, absolutamente, nada pode acontecer”, avaliou.

Apesar de festejada pela comunidade indígena, Sonia Guajajara tem desafios enormes, como desatar o nó das nomeações que passam pela vontade política (Reprodução/Katie Maehler-Apib)

Ministério dos povos

Yura fez uma análise sobre a criação do Ministério dos Povos Originários e a gestão de Sonia Guajajara. “Nos causa estranheza a postura dos nossos parentes que estão no poder. Não acredito que haja má vontade, mas travam as nomeações nas questões políticas [partidárias] e o Vale do Javari vai para o quarto mês sem e nenhuma nomeação, mesmo com os povos indígenas ocupando a Sesai para cobrar a nomeação daquele que foi escolhido pelas lideranças indígenas, que é o Kurá Kanamari e, até agora, não deram resposta”, denunciou.

“O Vale do Javari precisa de celeridade e isso incomoda porque procuramos órgãos públicos para agilizar ações ou pedidos das lideranças tradicionais e nos deparamos com um monte de entraves, burocracias, processos, regimentos, e essas lideranças (indígenas) não sabem o que é burocracia, eles querem agilidade e nós, nos centros urbanos, acabamos no descrédito. Não é possível se levar dois anos para adquirir um barco, e essas soluções chegam próximas às eleições…”, observou. “As ocupaçõ