Liderança Yanomami culpa garimpo ilegal por assassinato de mulher indígena em Roraima

O vice-presidente da Hutukara Associação Yanomami (HAY), Dário Yanomami. (Elaine Menke/ Câmara dos Deputados)

13 de novembro de 2022

15:11

Marcela Leiros — Da Agência Amazônia

MANAUS — O vice-presidente da Hutukara Associação Yanomami (HAY), Dario Kopenawa, chamou de “tragédia” o atentado contra um grupo de indígenas Yanomami em Boa Vista, capital de Roraima, na sexta-feira, 11, que resultou na morte de uma mulher. A liderança ainda afirmou que o crime é resultado de um Estado “anti-indígena, bolsonarista e garimpeiro”, conforme mostrou a REVISTA CENARIUM na edição de outubro deste ano.

À reportagem, neste domingo, 13, Kopenawa ainda reiterou que, diferente do que acontece na Terra Indígena (TI) Yanomami, cuja responsabilidade fica a cargo da União, este crime foi cometido dentro do Estado“Esse crime é uma tragédia, crime que aconteceu dentro do governo, dentro do Estado. É o crime de ódio, tragédia, é um assassinato brutal que aconteceu”, disse.

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Pessoas reunidas no local do atentado, na Avenida Venezuela, em Boa Vista, Roraima. (Reprodução/ Folha de Boa Vista)

Parece que somos pessoas que não têm vida. Essa é a visão do branco. É por isso que eles atacaram, alguém matou, atacaram meus parentes e eu sei que são os bolsonaristas do Estado de Roraima, os garimpeiros. Eu penso isso, mas eu não tenho prova. Percebo isso por o Estado ser anti-indígena“, acrescentou ele.

Na revista física intitulada “Amazônia em transe“, a reportagem “Roraima: ‘bolsonarismo’ ganha força” mostrou que Jair Bolsonaro (PL) obteve, em Roraima, a maior porcentagem de votos válidos, no primeiro turno da eleição, considerando todos os Estados da Amazônia Legal. Foi 69,57% dos votos, contra 23,05% de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

A edição nº 28 da revista física tratou, entre outros assuntos, sobre Roraima ser anti-indígena. (Revista Cenarium)

Assassinato

Após o caso, a HAY divulgou nota afirmando se tratar de um assassinato a sangue-frio, reiterando ser inadmissível que a capital do Estado, com maior presença de indígenas em relação ao total da população, permaneça como lugar de hostilização e ataques contra os indígenas que nela circulam.

“A presença do grupo Yanomami que foi alvo de ataque na cidade tem sido constante motivo de queixas preconceituosas contra os mesmos, ignorando não só a situação de vulnerabilidade a que ficam sujeitos quando estão na cidade como também alimentam a discriminação contra os indígenas em razão de suas particularidades culturais e modos de vida”, diz.

A associação cobrou, ainda, das autoridades, efetividade e rapidez na investigação do caso. “As autoridades precisam investigar com diligência os responsáveis pelos ataques e o que os motivou. A disposição em assassinar indígenas de passagem pela cidade, reunidos pacificamente em local público, configura crime de ódio e deve ser investigado como tal“, consta no documento.

Entenda o caso

Na sexta-feira, 11, um grupo de indígenas estava acampado nas proximidades da Feira do Produtor, em Boa Vista, Roraima, quando foi atacado por dois homens que passaram de bicicleta. Os tiros disparados contra o grupo mataram a indígena Ana Yanomami Xexana, mãe de um bebê, e feriram um homem que está hospitalizado.

Segundo a Hutukara, o grupo é originário da região do Ajarani, região onde as comunidades Yanomami foram mais atingidas pelo impacto da abertura da estrada Perimetral Norte, anterior à demarcação da Terra Indígena Yanomami, o maior território indígena demarcado do País.

De acordo com a Polícia Civil de Roraima, o homicídio de Ana Yanomami Xexana e tentativa de homicídio estão sob investigação para identificação da autoria e motivação dos crimes. As investigações estão sob sigilo, de acordo com a instituição policial. Quem tiver informações sobre o crime pode entrar em contato com a Delegacia-Geral de Homicídios por meio do número (95) 98413-3216.

Confira a nota da Hutukara Associação Yanomami (HAY) na íntegra:

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