Lideranças indígenas cobram providências de violência sofrida por policiais militares de Roraima

Na carta aberta, os indígenas manifestam preocupação pela falta de resposta dos órgãos de controle sobre a violência policial. (Divulgação / CUT Nacional)

28 de novembro de 2022

21:11

Gabriel Abreu – Da AGÊNCIA AMAZÔNIA

BOA VISTA – Indígenas das comunidades Tabatinga, Sol Nascente, Deus Nos Ama e Camararém, localizadas dentro da Terra Indígena Raposa Serra do Sol (distante 268 quilômetros de Boa Vista), em Roraima, divulgaram uma carta aberta nesta segunda-feira, 28, onde manifestaram preocupação pela falta de resposta dos órgãos de controle sobre a violência policial ocorrida contra a Comunidade Tabatinga, no dia 16 de novembro de 2021, no qual várias lideranças foram feridas.

A comunidade Tabatinga foi invadida pela Polícia Militar do Estado de Roraima no dia 16 de novembro de 2021, por volta das 17h. Foram feridas 12 lideranças, entre mulheres, jovens e crianças. A polícia invadiu a casa do Tuxaua Domingos, destruiu o posto de saúde, quebrou o único painel solar e atirou com arma de fogo nas casas. Procurada, a Polícia Militar de Roraima ainda não se manifestou sobre o episódio.

Duas lideranças ficaram gravemente feridas. Dois dias depois, mesmo com a presença de representantes do Ministério Público Federal (MPF), da Polícia Federal e da Fundação Nacional do Índio (Funai), um grupo de mais de 50 policiais cercou a comunidade em tom ameaçador, colocando-se à paisana durante todo o dia, prontos para, novamente, invadirem a comunidade.

Indígenas mostram aos representantes o local do posto médico que também foi invadido e apedrejado (Divulgação Luiz Ventura/CIR)

“Nós, comunidades indígenas Tabatinga, Sol Nascente, Deus Nos Ama e Camararém, reunidos no dia 16 novembro de 2022, no posto de vigilância Tabatinga, para refletirmos sobre um ano que as lideranças indígenas foram baleadas pela Polícia Militar do Estado de Roraima e, até hoje, não esquecemos e não tivemos respostas”, consta na carta.

As lideranças relatam também, em documento, que as sequelas da violência deixaram mulheres, crianças e jovens assustados e os mais idosos impossibilitados de trabalharem em roças e nos retiros, na criação do gado. Uma liderança, que foi alvejada no peito, sofre as sequelas do tiro.

(…) e, até hoje, não tivemos uma explicação do porquê e qual o motivo desse ataque violento. Queremos punição dessas pessoas porque, hoje, os atingidos estão sofrendo sem poder trabalhar, em busca de seus sustentos e de suas famílias, e é um dia que ficou marcado em todos nós, e esperamos por resposta das autoridades competentes”, diz o documento.

Violências sofridas

Desde  a luta pela demarcação da Raposa Serra do Sol, foram vários casos de violências, invasão de comunidade, morte de lideranças, destruição de retiros, centenas de ameaças às lideranças. Em 2003, foi assassinado Aldo Mota, sendo seu mandante absolvido no Tribunal do Juri. Em 2004, houve a destruição criminosa das Comunidades Brilho do Sol, Homologação e Jawarizinho.

Em 2005, houve o incêndio criminoso do Centro de Formação. Em 2008, o ataque violento conhecido como Caso dos Dez Irmãos, que foram baleados. Em todos esses casos relatados, não houve a punição aos responsáveis, nem indenização às comunidades e às vítimas, até hoje.

Veja a íntegra da denúncia: