Literatura indígena: associação realiza projeto para reunir escritoras dos povos originários de todo Brasil

As inscrições ficarão abertas para envio dos textos até final de maio (Reprodução/Internet)

28 de abril de 2022

19:04

Priscilla Peixoto – Da Revista Cenarium

MANAUS – Com intuito de fomentar vozes de mulheres indígenas de todo o Brasil, por meio da literatura, a Associação de Jornalistas e Escritoras do Brasil de Santa Catarina (Ajeb) está com inscrições abertas para a coletânea “Sou semente, sou plantação, sou fruto…sou encanto: A potência das mulheres indígenas do Brasil” pertencente ao projeto “A Literatura das Mulheres Indígenas”. As interessadas podem se inscrever de forma gratuita, preenchendo o formulário de inscrição disponível neste link.

De acordo com a mestre em ciência da linguagem e coordenadora do projeto, Vanessa Sagica, as inscrições ficarão abertas para envio dos textos, até final de maio, por conta da prorrogação da chamada. Após a revisão, edição e publicação, as autoras serão informadas sobre a data de lançamento de cada trabalho.

Nossa essência é a de caminharmos sempre juntos em  prol dos nossos povos. Então, o desejo é que cada mulher indígena, participante dessa coletânea, possa deixar registrado, como Davi Kopenawa disse, na ‘Pele de Papel’, suas experiências em forma de crônica, verso, música com ou sem imagens, que apresentem a força, a luta e a beleza do povo a que pertence e que sua narrativa possa ecoar por muitos espaços para além de sua comunidade“, destaca Vanessa, pertencente ao povo Makuxi e Wapichana de Roraima.

A obra será lançada em formato e-book e impresso pelo Clube de Autores (Reprodução/Divulgação)

Coletânea

A coletânea está prevista para ser lançada em um evento virtual, no dia 5 de setembro, dia Internacional das Mulheres Indígenas, data escolhida para exaltar a força, a beleza e o importante papel das mulheres indígenas dentro de suas comunidades. A obra será lançada em formato e-book e impressa pelo Clube de Autores.

A coordenadora explica que a participação no projeto de interação entre as escritoras dos povos originários de diferentes lugares do Brasil é aberta para qualquer mulher escritora indígena (autodeclaradas, com certificação ou não), até mesmo àquelas que estão iniciando no universo literário.

Todas as mulheres indígenas podem participar, as que já têm anos de estrada, as que estão sozinhas nessa jornada e ainda não conseguiram publicar seus textos que estão guardados em seus cadernos e em suas memórias. Todas elas são convidas a serem uma sementinha da literatura de autoria indígena onde vivem e a motivar outras escritoras indígenas a unir-se nessa caminhada literária”, ressalta.

Valorização

Quando a pauta é a valoração da literatura indígena, Vanessa afirma que o universo literário brasileiro ainda é muito restrito aos autores indígenas e destaca que sente falta de maior representatividade. “Não temos nenhum nome que nos represente na principal Academia Brasileira de Letras, a ABL, e isso não é por falta de prêmios nacionais e internacionais de literatura, porque temos autores que possuem vários prêmios como, por exemplo, Cristino Wapichana, Daniel Munduruku, Ailton Krenak, Márcia Kambeba, Eliana Potiguara, entre outros.

A coletânea contribui para o não apagamento dos povos (Reprodução/Internet)

De acordo com ela, a falta de representatividade indígena nas academias literárias contribui com a invisibilidade dessa literatura que vem sendo elaborada no Brasil desde a década de 70. “Tampouco vemos a literatura de autoria indígena como leituras obrigatórias nas instituições de ensino ou mesmo ocupando espaços em livrarias e feiras de livro. Isso faz com que se exija um esforço e um trabalho demasiado por parte dos escritores indígenas“, considera.

Reexistindo

Na análise de Vanessa que, inclusive, é doutoranda em linguística, além da fomentação literária, a coletânea contribui para o não apagamento dos povos e possibilita que a quebra da propagação de um imaginário social, de um ser indígena estereotipado e destituído de essência.

A produção alcança espaços educacionais, esferas da sociedade, o preservar e perpetuar de nossas memórias ancestrais e potencializar nossa essência quanto indígena, bem como desmistificar antigas narrativas, contribuindo assim para que a sociedade hegemônica (re)conheça o quão complexo e singular são cada um dos 305 povos que ainda habitam o Brasil“, afirma. As interessadas podem acessar o edital completo aqui.