Movimento faz campanha para doação de capacetes para ‘ciclistas invisíveis’ na BA

Campanha busca beneficiar ciclistas de baixa renda (Divulgação/Movimento @cicloolhar)

17 de agosto de 2021

08:08

Bruno Pacheco – Da Cenarium

MANAUS (AM) – Com o objetivo de causar uma visão mais humanizada sobre o ciclismo e estimular a utilização do capacete em todo o País, o movimento Ciclo-Olhar está realizando uma campanha, em Jequié, no sudoeste da Bahia, para arrecadar e doar capacetes para ciclistas considerados como “invisíveis” aos olhos da sociedade, ou seja, aqueles de baixa renda e que não têm condições de comprar o equipamento. A ação foi idealizada pelo documentarista e ciclista Dado Galvão, que procurou a CENARIUM para falar sobre o assunto e expandir o projeto para a Amazônia Legal.

“O nosso objetivo principal é que essa campanha se espalhe pelo Brasil e que grupos de ciclistas comecem a enxergar seus ciclistas invisíveis, que são na maioria aqueles que usam a bicicleta para tudo, os operários, que vão para a padaria, que levam o filho para a escola, porque a grana para o transporte público está curta. São esses ciclistas que queremos atingir”, contou Dado Galvão.

Jequié é uma cidade com uma população estimada de 156.126 pessoas, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Até esta segunda-feira, 16, o movimento já entregou 31 capacetes e mais quatro estão disponíveis para doação, oriundos da capital Salvador.

Segundo Galvão, o movimento nasceu de uma especialização que ele fez em fotografia, quando ele observou que haviam muitos ciclistas do município que não usavam capacete, por conta da baixa condição financeira. “No desenrolar do curso, surgiu a ideia de fazer uma análise da foto de quem anda de bicicleta e fotografa. A partir disso, eu também passei a andar mais de bicicleta e a fotografar e então nasceu o Ciclo-Olhar”, lembrou o documentarista.

Dado Galvão é documentarista e ciclista (Arquivo Pessoal/Reprodução)

Com o projeto, Dado Galvão destaca que começou a divulgar a iniciativa nas redes sociais, fazendo com que o movimento ganhasse força e adeptos de ciclistas de outros estados. A campanha chegou a ganhar destaque nacional e ser compartilhada pelo apresentador Luciano Huck, da Rede Globo. Atualmente, o movimento acontece em Vitória da Conquista e Irecê, na Bahia, Cajazeiras, na Paraíba, e Macapá, no Amapá, além de Jequié. As doações dos capacetes seguem um critério que avalia a renda e a necessidade do ciclista.

Em Jequié, o pescador Martin José, de 62 anos, foi a primeira pessoa a receber a doação da campanha (Divulgação/Movimento @cicloolhar)

Simplicidade

Para o documentarista, pedalar é um ato político e, com a fotografia, as pessoas são estimuladas a praticarem e exercerem a cidadania. Por meio do Ciclo-Olhar, defende Dado Galvão, os praticantes do esporte podem revelar a sociedade um olhar mais humanizado e simples da localidade em que estão inseridos, chamando a atenção para causas sociais e direitos humanos.

“O Ciclo-Olhar é isso, conseguir enxergar através do andar e simplicidade da bicicleta e ter um olhar mais humano sobre a localidade que você está inserido. Seja você do Norte, Sul, Leste ou Oeste, de uma região mais rica ou pobre, a bicicleta nos provoca a ter um olhar mais sensível”, frisou.

Uma das pessoas que foram beneficiadas com a campanha foi o pescador Martin José de Santana, de 62 anos. Desempregado, o pescador vive de fazer “bicos” e pedala há mais de 50 anos, mas nunca havia utilizado um capacete. Ao ser abordado pela equipe do Ciclo-Olhar, Martin contou que sempre teve vontade de ter o equipamento, segundo Dado Galvão.

Martin José de Santana, de 62 anos, recebendo um capacete (Divulgação/Movimento @cicloolhar)

Quem doa um capacete é convidado para escrever uma carta, com sinal de compromisso e carinho para quem vai receber o equipamento. “Esse processo deixa o ato da doação mais humano. Não é somente doar. Por trás tem uma carta de quem está doando para a pessoa que vai receber a doação e que é bom para a autoestima de quem está doando e recebendo”, reforçou o documentarista.

O ciclista Marcio Santos escreveu uma carta ao doar um capacete (Divulgação)

Segundo Galvão, qualquer ciclista com um celular na mão pode participar do movimento. Basta publicar uma imagem pedalando nas redes sociais com a hashtag #CicloOlhar. Os interessados em ajudar a campanha podem entrar em contato pelas redes sociais e por meio dos números (71) 98825-1105, em Jequié (BA); (77) 98148-0440, em Vitória da Conquista (BA) e (83) 99103-3079, em Cajazeiras (PB).

Aldir Blanc

Em 2020, o movimento Ciclo-Olhar foi um dos contemplados para receber recursos da Lei Federal de apoio à cultura Aldir Blanc, por meio da Secretaria de Administração e Secretaria de Cultura e Turismo da Prefeitura de Jequié. O projeto vai ser aplicado em quatro escolas na zona rural e urbana do município, quando as aulas retornarem.

Segundo Dado Galvão, a iniciativa promoverá exposições fotográficas, palestras sobre o uso da bicicleta e estimular o uso dela entre os estudantes. Ao final das atividades, uma bicicleta será sorteada entre os alunos.

Capacete

O capacete é um item essencial para proteção contra acidentes e para evitar fraturas mais graves. Em um artigo publicado no jornal Brain Injury, pesquisadores avaliam a importância do uso do material ao analisar dados de 76.032 ciclistas feridos nos Estados Unidos, conforme registrado no Banco Nacional de Dados de Trauma de 2002-2012. 

Segundo a pesquisa, apenas 22% dos ciclistas com uma lesão na cabeça ou no pescoço estavam usando um capacete no momento da lesão e é necessário que haja aumento de esforços na implementação no uso do material para reduzir os riscos aos ciclistas.

No Brasil, é possível encontrar capacetes a partir de R$ 70. De acordo com Dado Galvão, não há no País uma regulamentação do Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro) para testar a qualidade do equipamento, mas mesmo assim, o material continua sendo um utensílio fundamental para os ciclistas.

“É melhor ter um capacete na cabeça do que não ter, seja ele de R$ 50, R$ 90 ou R$ 100. Independente disso, é um acessório fundamental, tendo a regulamentação do Inmetro ou não. Já deveríamos ter uma regulamentação no Brasil, com o selo do Inmetro com todas as garantias”, finalizou.