Na Amazônia, Mato Grosso e Pará lideram em pistas de pouso clandestinas, aponta estudo

Estudo do MapBiomas é uma potente ferramenta para a adoção de ações de repressão ao garimpo ilegal na Amazônia (Reprodução/Terra)

08 de fevereiro de 2023

21:02

Mencius Melo – Da Agência Amazônia

MANAUS – Os Estados do Pará e Mato Grosso são os recordistas em pistas de pouso clandestinas entre os nove Estados que compõem a Amazônia Legal, aponta estudo do MapBiomas. Ao todo, são 1.062 pistas no Mato Grosso e 883 no Pará, todas operadas em favor do garimpo ilegal. Na sequência, vem Roraima com 218 e Tocantins com 205. Todas as pistas foram identificadas em Terras Indígenas (TI) e Unidades de Conservação (UC).

As pistas são abertas em plena selva para servir de pouso e decolagem de aviões que saem carregados de ouro ilegal das TI’s e UC’s (Reprodução/Weforum)

Apesar de estar em segundo lugar no número de pistas, o Estado do Pará detém os quatro municípios com mais pistas de pouso: Itaituba, que lidera a emissão de ouro ilegal, no Brasil, com 81%, segundo estudo da Universidade Federal de Minas Geras (UFMG) em cooperação com o MPF. Itaituba detém 255 pistas. São Félix Do Xingu com 86, Altamira com 83 e Jacareacanga com 53 pistas, respectivamente.

De acordo com Cesar Diniz, doutor em Geologia e coordenador técnico do mapeamento da mineração no MapBiomas, o estudo é uma contribuição para que o poder público brasileiro possa combater o crime praticado na floresta. “Esta base de dados, pública e gratuita, de localização das pistas de pouso, sejam elas legais ou ilegais, dentro de toda a extensão do bioma Amazônico, visa auxiliar o trabalho de acabar com as pistas clandestinas e o garimpo ilegal”, observou.

TI’s e UC’s

Entre as terras indígenas mais visadas pelo garimpo estão a Kayapó, na qual 11.542 hectares foram tomados pelo garimpo até 2021, seguida pelo território Munduruku, com 4.743 hectares e a terra Yanomami, com 1.556 hectares. Quando o assunto são as pistas de pouso, as Terras Yanomami ocupam o primeiro lugar com 75 pistas. Em seguida, vem a Raposa Serra do Sol com 58. A área Kayapó possui 26, a terra Munduruku 21 e o Parque do Xingu 21.

O processo de extração do ouro é agressivo e tóxico tanto para a natureza quanto para os povos que habitam as regiões ocupadas pela atividade (Reprodução/Globo)

Já as Unidades de Conservação (UC) mais atingidas são a Área de Proteção Ambiental (APA) do Tapajós, com 156 pistas, a Floresta Nacional (Flona) do Amaná, com 53, a APA Triunfo do Xingu, com 47 e a Floresta Estadual do Paru, com 30. Em entrevista à REVISTA CENARIUM, o antropólogo Alvatir Carolino comentou sobre o avanço nas TI’s e UC’s: “O garimpo ilegal avança sobre as Terras Indígenas e Unidades de Conservação porque eles não encontram os mesmos obstáculos que encontram em terras privadas“, observou.

Carolino continuou a análise: “Os grandes proprietários, os grandes latifundiários de terra possuem aparatos de defesa, mecanismos muito eficazes de monitoramento de suas propriedades e estão com estruturas dentro das organizações públicas de poder e não permitem empreitadas de atividades criminosas em suas terras. Além disso, o País passou por quatro anos de desmonte dos órgãos de controle e fiscalização como Funai, Ibama e Polícia Federal, isso permitiu a invasão das terras indígenas por múltiplos motivos e não só pelo garimpo”, avaliou.

Para o antropólogo Alvatir Carolino, as forças de Estado, como Polícia Federal e Exército, estão de volta ao papel no combate aos crimes em TI’s e UC’s (Reprodução/Arquivo Pessoal)

Mesmo com o cenário catastrófico, Alvatir diz que a situação ganha contornos de solução: “Mesmo com a atuação dos capitais de um submundo das relações econômicas vemos que quando os órgãos de Estado funcionam de forma organizada e com um propósito proativo à sociedade, essas circunstâncias tendem a diminuir e a se tornar fatos isolados“, explica o antropólogo que complementa:

Já estamos tendo um resultado que tem um significado, a união das forças do Estado para desarmar o garimpo. Essas mesmas forças, há meses atrás, eram copartícipes desses processos porque elas não agiam. Agora, temos princípios políticos pró-sociedade“, finalizou.