Na Bahia, jovem Pataxó é assassinado a tiros após reclamar de festa em território indígena

Parentes dizem que Victor era atuante no movimento indígena (Reprodução)

14 de março de 2022

20:03

Malu Dacio – Da Revista Cenarium

MANAUS — Nas redes sociais, lideranças indígenas denunciam a morte de Vitor Braz de Souza, 22, jovem indígena da etnia Pataxó morto a tiros na madrugada desta segunda-feira, 14, em Ponta Grande, na cidade de Porto Seguro, litoral da Bahia.

Segundo informações de lideranças indígenas, acontecia uma festa — sem prévia autorização das lideranças — no território de povos originários em que Vitor residia. O jovem acompanhou o cacique da tribo para pedir a organizadores que diminuíssem o volume do som, quando foi alvejado.

A Polícia Civil da Bahia, por meio da assessoria de imprensa, comunicou à REVISTA CENARIUM que a 1ª Delegacia Territorial de Porto Seguro investiga o homicídio e que Vitor foi alvejado por disparos de arma de fogo. Ainda segundo o órgão, um homem, ainda não identificado, efetuou os disparos após o jovem reclamar do volume alto do som.

Vitor chegou a ser socorrido, mas não resistiu (Reprodução)

A polícia informou ainda que Vitor chegou a ser encaminhado para o Hospital Luís Eduardo Magalhães, mas não resistiu. Os policiais seguem nas buscas para identificar e prender o autor.

Parentes apontam descaso

No Twitter, a líder indígena Thyara Pataxó denunciou que a Prefeitura de Porto Seguro deu um alvará liberando uma festa de não indígenas em território de povos tradicionais que ainda não foi homologada.

“Nisso, a comunidade estava incomodada com o barulho, principalmente Vitor que estava com sua esposa de resguardo. Vitor foi atirado pelas costas”, disse a estudante. Ela conta que Vitor era um jovem atuante no movimento Indígena e que participava com muita garra de mobilizações e sempre esteve disposto a lutar pelo coletivo.

“Vitor saiu de casa para reivindicar por um direito seu, por um pouco de silêncio para sua esposa e filho que tá com 30 dias de nascido. Inacreditável a forma como o cacique e demais lideranças e Vitor foram tratados, sem o mínimo de respeito e como forma de impor sobre o nosso território, atiraram contra Vitor em seu pescoço” (sic), disse Thyara.

Parente de Vitor, Thyara Pataxó disse que as últimas palavras do jovem em um grupo da comunidade na noite do ocorrido foram: “Aqui é comunidade, não é bagunça não. Não é bagunça não!”.

“Vitor Pataxó era um guerreiro da minha comunidade, tinha sido pai há poucos dias e tinha uma vida longa pela frente, mas infelizmente Vitor foi vítima dessa sociedade doente que insiste em invadir nossos territórios e fazer o que quer. Os territórios Indígenas seguem sendo atacados, mas ninguém se importa porque somos nós. Nós vivemos em constante guerra”, disse a líder.

‘Fatalidade’

Um dos organizadores da festa, que nas redes sociais se identifica como ‘Tropa do Grandão’, defendeu que — o que ele chamou de ‘fatalidade’ — não aconteceu dentro da festa e que a culpa pela situação foi de um suposto responsável pelo local do evento.

“A gente tinha liberação até as 00h. O cacique realmente foi lá, até esse momento eu conversei com ele. A culpa não é nossa, a gente estava seguindo os protocolos. O erro maior foi do dono do espaço que não informou ao cacique. E aí terminou nessa situação”, disse o jovem, que também era uma das atrações do evento.

Uma das atrações do evento, Bell Cast, disse também nas redes sociais que a morte não foi dentro do evento e que desconheciam que o local da festa identificada como ‘Sigilo Fest’ era em território indígena. “Fizemos um evento para todo mundo se divertir. O pessoal da casa não esclareceu que ali era área indígena e que não podia. Infelizmente, uma situação muito difícil. Aconteceu longe do evento, mas aconteceu”, disse.

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A REVISTA CENARIUM procurou a Prefeitura de Porto Seguro para questionar sobre a legalidade do evento, mas até a publicação dessa matéria não obteve retorno.